Não se espera, porém, nenhuma paulada nos juros, já que, em dezembro, o BC promoveu um arrocho no crédito, ao exigir que os bancos recolhessem, compulsoriamente, mais R$ 61 bilhões em seu cofres. Sem esse dinheiro em circulação, a autoridade monetária espera reduzir o consumo e, por tabela, evitar que o país seja engolfado por uma bolha de crédito, como se viu nos países desenvolvidos, que estão em sérias dificuldades. Para Tombini, com as ações do BC, diminuirá o crédito ao consumo, de curto prazo, e aumentarão os financiamentos habitacionais, de mais longo prazo e que representam apenas 4% do Produto Interno Bruto (PIB).
Mas não será fácil a vida do BC. Devido à gastança do Executivo, o mercado projeta um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,3% para 2011. Na avaliação de especialistas, um arrocho na Selic é urgente. A demanda segue crescendo em ritmo superior à oferta e corroendo fortemente o bolso do consumidor. ;O BC não pode torcer por uma desaceleração natural dos preços ou para que o clima ajude no campo. Tem de agir preventivamente;, argumentou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.
Credibilidade
De acordo com as previsões de Tombini, o consumo deve arrefecer em 2011 e dar uma ajuda ao Copom. Mas para não deixar qualquer espaço para questionamento, ele foi enfático: ;O Banco Central não hesitará em tomar medidas tempestivas sempre que considerar necessário;. Ele garantiu ainda os feitos de Meirelles durante o discurso de posse, mas admitiu que o cenário econômico está conturbado. Pensando na escalada da inflação, no derretimento do dólar, nos riscos do superendividamento do brasileiro e na regulação do sistema financeiro, assumiu que os desafios para sua administração serão grandes, mas afirmou que o BC reúne as qualidades necessárias para superar os problemas.
Henrique Meirelles, por sua vez, tentou se esquivar das criticas e também dos problemas inflacionários que deixou para o substituto. Disse que seu mandato foi cumprido plenamente, como manda a cartilha. ;Excluindo os choques de alimentos, na média a inflação ficou no centro da meta nesses oito anos;, afirmou. ;O caminho da instabilidade foi intensamente testado no Brasil. Hoje, além de melhora dos fundamentos econômicos, houve também melhora da qualidade de vida das famílias;, concluiu.
Encontro
Antes da transição de cargo, ocorrida na tarde de ontem, Tombini e Meirelles se reuniram com ex-dirigentes do BC e presidentes dos principais bancos do país. Todos saíram satisfeitos do encontro com o novo comandante da política monetária. ;A escolha de Tombini denota a importância do sistema de metas e a conciliação do combate à inflação com as metas de crescimento;, disse Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco também teceu elogios. ;O país está bem servido com a escolha da presidente;, avaliou.
Para Fábio Barbosa, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e do Conselho de Administração do Santander, Tombini está indo no caminho certo, representa a continuidade do trabalho de Meirelles e a ;consagração do sistema de metas de inflação;. Acredita ainda que a nova gestão trará bons resultados para o país e frisou que a forma como o BC vem promovendo os ciclos de aperto monetário permite previsibilidade e a possibilidade de planejamento para as famílias e as empresas.
Além de perseguir a redução da meta de inflação, o novo presidente do BC promete aperfeiçoar a regulação e supervisão do sistema financeiro e promover a inclusão financeira sem gerar endividamentos exagerados. Pretende trabalhar intensamente neste início de gestão para aprimorar os processos da instituição. ;É preciso ficar atento. O BC continuará a aperfeiçoar suas ferramentas;, afirmou.
Funcionários no poder
;No discurso de posse, Alexandre Tombini, novo presidente do Banco Central, mostrou que vai valorizar os servidores da casa, principalmente por ter origem nos quadros da instituição. Abriu sua fala homenageando e exaltando o funcionalismo. Atribuiu a credibilidade da autoridade monetária aos técnicos do órgão. ;Desde 1964, o Banco Central do Brasil conta com profissionais que souberam lidar com todos os tipos de adversidades;, disse. Centenas de servidores foram ao auditório da instituição cumprimentar o novo presidente. Grande parte deles queria sair na foto com Tombini. Durante a posse, somente depois de falar dos funcionários da casa, o titular agradeceu à presidente Dilma Rousseff ;pela oportunidade de comandar a política monetária;. Disse que vai cumprir com afinco seu papel de proteger a estabilidade e o poder de compra do país. ;A estabilidade de preços é uma conquista do povo brasileiro. O crescimento só pode ser alcançado com inflação baixa e previsível.;
IPC-S fica em 6,24% no ano
Alexandre Tombini inicia sua missão à frente do Banco Central com o desafio de domar a inflação. Em 2010, ela não deu trégua ao bolso do consumidor e, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) fechou o ano em 6,24%. Em 2009, esse percentual havia sido bem menor, 3,95%. A demanda por alimentos e serviços superou a oferta e esses preços dispararam. Tomate, carnes, açúcar e feijão foram os vilões do ano. Na última semana de dezembro, o indicador fechou em 0,72% ; desacelerou 0,42 ponto percentual frente o início do mês. As projeções do mercado também pioraram. No Boletim Focus, as expectativas subiram pela quarta semana seguida atingindo 5,31% para este ano.
O que mais pesou na taxa de dezembro foram os grupos de produtos alimentação e vestuário. O primeiro registrou encarecimento de 1,43% no mês; o segundo, 0,80%. As carnes bovinas registraram alta de preços de 2,71%, as frutas encareceram 2,32% e os adoçantes, 6,41%. O preço do tomate explodiu no mês, marcou elevação de 16,15%. As roupas subiram em decorrência da mudança de estação, que alterou as coleções nas lojas, e do Natal. No grupo transportes, as passagens aéreas tiveram forte reajuste por causa da demanda elevada das férias de fim de ano. Ficaram 9,99% mais caras.
Alguns itens, apesar de terem ficado mais caros em dezembro, apresentaram leve desaceleração. ;No entanto, alguns serviços como saúde e cuidados pessoais, despesas diversas, artigos de higiene e mensalidades para TV por assinatura apresentaram alta significativa. O resultado final será o de manutenção de pressão inflacionária;, avaliou Evaldo Alves, professor de Economia da FGV. Ainda segundo ele, as projeções do Boletim Focus foram reajustadas devido a aceleração do deficit público.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o mercado ainda está cético em relação ao esforço fiscal prometido pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. ;O ajuste fiscal deve ser feito, mas não se sabe em quais condições;, ponderou. ;Mesmo que a Fazenda anuncie ajuste fiscal, é muito perigoso o BC entrar nessa. Pode ser criticado mais na frente. É um risco elevado apostar nisso para controlar a inflação;, argumentou Velho.
Nas projeções de curto prazo, os analistas com melhor nível de acerto no Focus também pioraram suas expectativas. Passaram de 0,62% para 0,67% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. ;Ainda assim não acredito que vá haver uma elevação acentuada nos juros. Serão no máximo quatro altas. Não chega a dois pontos percentuais;, calculou Velho. (VM)
Mercado prevê elevação de 0,5 ponto
De acordo com o Boletim Focus, o mercado espera que no Comitê de Política Monetária (Copom) de 18 e 19 de janeiro eleve a Selic (taxa básica de juros) em 0,5 ponto percentual. Com o incremento, o índice subirá para 11,25%. Na mediana dos analistas que mais acertam as previsões, a Selic para o ano está em 12,38%, expectativa alcançada após duas pioras seguidas.
Desconto de até 80%
Os tradicionais saldões de início de ano já começam a aparecer nos primeiros dias de 2011. Com o objetivo de limpar as prateleiras, os comerciantes de todo o Brasil se apressam para lançar as liquidações que mantêm as vendas aquecidas mesmo depois das festividades. Os banners estampados nas vitrines anunciam reduções que chegam a 80% do preço original. As grandes redes de varejo apostam em descontos generosos.
O bancário Mário Henrique Fontenelle, 34 anos, e a namorada, Rosângela Ferreira,41, aguardaram a queima de estoques para comprar tevês. ;Vou levar uma TV para mim e vou dar uma de presente para ela;, disse Fontenelle. ;Dei uma olhada no mês passado e a diferença é de uns R$ 300.;
Nesta semana, os consumidores podem aproveitar as promoções nas principais redes. A Ricardo Eletro, por exemplo, liquidará, de quinta-feira a domingo, os produtos remanescentes. A expectativa é de um aumento de 17% das vendas, em relação ao mesmo período de 2009. O grupo Walmart espera faturar ainda mais com o saldão, que ocorre nesses primeiros dias do mês: 20% acima dos lucros de janeiro de 2010.
O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes explica que o crescimento exprime a recuperação do mercado brasileiro à crise de 2008. ;O ano passado foi o melhor do comércio na década. O crescimento do setor deve chegar a 11,9%. Em 2007, o segundo melhor ano, o índice atingiu 9,7%. Este foi um período de recuperação, já que houve desaceleração por conta da crise;, disse. Segundo dados do Banco Central (Bacen), as operações de crédito continuaram crescendo em novembro. ;A situação favorável do último semestre continua em janeiro. Mesmo que o Banco Central tenha tomado medidas para conter o crédito, as pessoas têm muito acesso, o que leva ao consumo. Além disso, o emprego em alta e a renda subindo acima da inflação impulsionam as vendas.;
Balanço de Natal
A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) divulgou o crescimento das vendas de Natal comparado a 2009. Os shoppings registraram aumento de 13% nos lucros. Óculos, bijuterias e acessórios integram o seguimento que teve maior crescimento, com 18%, seguido de perfumaria e cosméticos e eletroeletrônicos e eletrodomésticos, ambos com 17%. Os consumidores também gastaram mais com livros , DVDs e CDs. O setor teve acréscimo de 14%. Compras de vestuários subiram 13% e de calçados, 12%.