No campo do uso pessoal, o brasileiro já demonstrou que adora tecnologia. A paixão pelo futebol colocará o país na condição de terceiro maior mercado para televisões de LCD em 2014, atrás de Estados Unidos e China. Apesar de arcar com os custos mais altos do mundo ; fruto da pesada e mal distribuída carga tributária ; somos o país que mais compra celulares inteligentes ; smartphones, em inglês ; na América Latina. Os notebooks também caíram no gosto popular. Este ano, pela primeira vez, as vendas do computador portátil superaram a de desktops no Brasil. Foram 7,15 milhões notebooks vendidos, em 2010, o que representa crescimento de 39% em relação ao ano passado.
Uma característica interessante dos consumidores integrantes da chamada nova classe média, é a que eles colocam a compra de um computador em primeiro lugar na lista de prioridades. Na avaliação de Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular, o motivo é que o computador é visto como ferramenta de estudo e porta para ascensão social dos filhos. ;O crescimento da renda nos últimos anos levou as empresas a repensarem a forma de olhar para a classe C. Hoje ela deixou de ser um nicho para se tornar o principal mercado consumidor do país;, acrescenta.
Jeitinho
Adriana Flores, diretora de Desenvolvimentos de Produtos da Positivo, classifica os próximos anos como a fase da ;lua de mel;, entre os consumidores e o setor de informática. ;A preocupação do consumidor deixou de ser a subsistência, e passou para satisfazer as ambições. Hoje em dia, as pessoas sabem o que querem. Quem vai à loja entende para que servem os principais componentes de um computador, como processador e espaço em disco;, ressalta.
Depois dos computadores, os celulares são os eletrônicos mais procurados pela classe C. Os modelos preferidos são os modelos com mais de um chip. ;Geralmente, o bônus oferecido pelas operadoras beneficia apenas uma prestadora. Daí, o jeitinho brasileiro foi aproveitar aparelhos com até quatro chips para ter acesso a mais descontos e gastar menos com as chamadas;, analisa o sócio do Data Popular. A tendência de maior crescimento, contudo, é a dos smartphones. ;Com um número cada vez maior de aparelhos compatíveis com terceira geração (3G), as pessoas abraçaram rapidamente essa tecnologia;, diz Jaqueline Lee, diretora de Marketing da Qualcomm, empresa desenvolvedora de plataformas para transmissão de dados móveis.
Esse movimento tende a se acelerar com a gradativa redução de preços dos smartphones. Somente no último ano, o valor médio dos aparelhos caiu 32%. Desde a abertura do mercado de telecomunicações, em 1998, o Brasil vive um boom no setor. De 2001 para cá, o número de dispositivos móveis saltou de 23 milhões para 197 milhões. Se há 10 anos a penetração de celular no país era de 31%, hoje é de um celular por habitante. Estima-se que, em 2014, cerca de 45% dos celulares vendidos no país serão smartphones, contra 15% registrado no último ano. Até 2014, o país pulará de 19 milhões para 107 milhões de assinantes de serviços 3G, uma expansão de 567%.
O professor de educação física Dênio Ismael da Costa, 28 anos, é um adepto aos telefones inteligentes. Ele tira proveito dos serviços integrados ao aparelho nas constantes viagens que faz a trabalho. ;É muito prático. Com o celular posso me manter informado, checar meus e-mails e usar o GPS para me guiar nas cidades que visito;, conta. O preço, entretanto, é salgado. As tarifas brasileiras estão entre as mais altas do mundo conforme relatório das Nações Unidas. Cerca de 45% do gasto com mensalidades telefônicas representa a fatia dos impostos. Dênio desembolsa, em média, R$ 300 mensais com o plano que contempla voz e dados.
Rodrigo Abdala, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que as empresas devem se preparar para o fato de a expansão na demanda não vir, necessariamente, acompanhada do crescimento das receitas.
Entrave da burocracia
Para abrir uma fábrica de chips no país, a Semp Toshiba se viu obrigada a enviar um grupo de 20 engenheiros para serem qualificados no Japão. ;A estrutura da fábrica é fácil, o que falta é mão de obra qualificada. O andamento do projeto dependerá da capacidade de formar novos engenheiros;, afirma Afonso Hennel, presidente da Semp Toshiba. O plano da empresa é investir R$ 3 bilhões no empreendimento. Ele prega à presidente eleita, Dilma Rousseff, redução dos encargos sociais e da burocracia sobre a folha de pessoal. ;Se falharmos, o Brasil ficará para trás;, diz Cassio Dreyfuss, da Consultoria Gartner.