Jornal Correio Braziliense

Economia

Investimentos de R$ 2 trilhões até 2022 vão mudar a infraestrutura no país

No Brasil do futuro, estradas esburacadas serão raridade, portos e aeroportos vão comportar passageiros e cargas sem tumulto, as malhas ferroviária e hidroviária ligarão o território de ponta a ponta e não faltarão energia e serviços de telecomunicações. Daqui a uma ou duas décadas, a infraestrutura não será problema, mas solução. Pelo menos, esse é o país que se está desenhando. E a razão para dobrar a aposta é simples: investimentos privados em massa, associados à presença estatal moderada, vão transformar o que hoje funciona como trava em mola-mestra do crescimento.

As previsões mais conservadoras indicam que o aporte de recursos em áreas sensíveis será proporcional às carências. Até 2022, obras de norte a sul do território nacional vão consumir R$ 2 trilhões. O perfil desse investimento será misto, ou seja, público e privado. Nesse cenário, ao contrário do que ocorre atualmente, barreiras legais ou burocráticas não serão impedimento a projetos de porte nem a parcerias lucrativas. Na próxima década, o país estará potencialmente pronto a destinar por ano pelo menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura ; o volume corrente oscila entre 2% e 2,5%.

O desafio dos próximos anos é criar condições para que os investidores privados apostem alto, uma vez que o principal fiador da infraestrutura no país é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nos últimos dois anos, apesar do reforço de caixa de R$ 180 bilhões dado pelo Tesouro Nacional, o banco atingiu seu limite. Especialistas afirmam que o momento é propício para o país atrair mais capital do exterior, mas lembram que, para isso ocorrer, é necessário criar mecanismos de incentivo às aplicações de longo prazo e não ao capital especulativo. Tal engenharia desafia o governo Dilma Rousseff a estimular o setor financeiro privado a oferecer opções de crédito abundante e barato.

Maurício Endo, sócio da consultoria KPMG, avalia que os desembolsos listados nas pranchetas das empresas e dos governos, ou aqueles que estão prestes a ser autorizados, são uma forma de compensar o tempo perdido. Embora nem de longe equacionem os gargalos, Endo explica que os planos funcionam como uma espécie de combustível para novas ideias. A máxima vale para rodovias, linhas férreas, entrepostos para navios e aviões. ;O volume atual movimentado é bem maior do que nas décadas anteriores. Mas, para recuperar esse atraso, é preciso muito mais. O Brasil deveria investir 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e hoje ainda investe muito pouco. Nos últimos dois anos, não chegou a 4% do PIB. Há duas décadas, ficou em menos de 1% do PIB;, justifica.

Filões
As oportunidades de negócios estão em todas as áreas. Ampliações, construções e reformas de portos, por exemplo, vão demandar gastos de quase R$ 80 bilhões até 2025. Se tudo correr como previsto, tanto dinheiro ajudará a tirar o país da incômoda 123; posição no ranking internacional de qualidade portuária que reúne 134 nações. Com a manutenção e a expansão das linhas ferroviárias, a expectativa também é de investir verdadeiras fortunas nos próximos anos. Até 2022, a programação é direcionar R$ 130 bilhões, recursos que seriam suficientes para minimizar a falta de rotas, o custo elevado e a escassez de vagões. As companhias do setor cobram ainda um novo modelo de concessão, o que para muitos faria a participação desse meio saltar dos atuais 20,7% para 35% dentro da matriz de transportes de carga no Brasil até 2025.

Mas é com energia, rodovias, petróleo e gás que o poder público e a iniciativa privada mais pretendem gastar até a próxima década. No setor elétrico, o investimento estimado até 2022 é de R$ 385 bilhões ; recursos aplicados em obras como as hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte e em fontes alternativas. Já com a melhoria da malha viária, os gastos estimados são da ordem de R$ 180 bilhões, montante que contribuirá para duplicar, reparar e abrir vias. A maior fatia dos desembolsos, no entanto, caberá ao setor de petróleo e gás. Fortemente influenciados pelo pré-sal, empresários e governos preparam investimentos de R$ 955 bilhões até 2022. A maior parte dos projetos previstos para turbinar o setor sairá da carteira da Petrobras.

Carlos Campos Neto, coordenador de Infraestrutura Econômica da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), adverte que os investimentos necessários para permitir que a infraestrutura deixe de ser um gargalo devem ser analisados sob o ponto de vista das políticas públicas e das estratégias de negócio das próprias empresas. O sucesso do país dependeria desse equilíbrio de forças. ;É preciso otimizar o transporte de carga, de modo a torná-lo eficiente. Ferrovias e hidrovias têm de ser as apostas de longo prazo. Além disso, os sistemas também precisam ser sustentáveis;, ressalta.

Mapeamento
A cifra trilionária foi apurada pela consultoria LCA e faz parte de um estudo encomendado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que mapeou oportunidades e gargalos em todas as áreas da infraestrutura. Na conta, não estão incluídos os gastos com obras de mobilidade urbana por parte dos estados e dos municípios, o que pode elevar os investimentos a níveis mais altos.

Ouro negro
Por causa do pré-sal, a Petrobras tem planos de investir US$ 224 bilhões até 2014. Quase toda essa promessa de gasto será destinada à exploração e à produção, o que colocará o país entre os cinco maiores centros petrolíferos globais. Até 2022, o segmento de petróleo e gás como um todo demandará aportes de R$ 955 bilhões.