As grandes empresas estão cada vez mais preocupadas em desenvolver projetos sociais. Pressionadas, de um lado, pela cobrança da sociedade e, de outro, pelos próprios funcionários, elas investem em áreas como assistência social, alimentação, saúde e educação. No fim do ano, por causa das festas natalinas, aumenta o número de iniciativas realizadas para ajudar instituições como creches, orfanatos e asilos. Para especialistas, porém, a maioria das ações ainda não é efetiva e visa apenas melhorar a imagem das companhias no mercado.
Graziella Comini, vice-coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da Universidade de São Paulo (USP), afirma que 90% das empresas já realizam algum tipo de projeto social. Segundo ela, o problema é saber se eles são pontuais ou contínuos. ;As ações apenas de fim de ano não têm o mínimo impacto para reverter problemas crônicos. Parece mais que são para aliviar a consciência dos empresários, numa atitude compensatória e defensiva;, critica.
Ainda assim, o importante é que algo começou a ser feito, ressalta Graziella. Silvia Maria Santana do Nascimento, 37 anos, que o diga. Ela teve a rotina transformada pela capacitação da Fundação Bradesco. Em janeiro, começou o curso de auxiliar de cabelereiro. Já fez o de corte, escova, tintura, bordado e, há duas semanas, concluiu o de manicure, numa turma de 20 alunos. No início do ano, ela estava desempregada e, agora, atende cerca de 10 pessoas por semana em sua casa, o que rende um salário mínimo e meio por mês. ;O curso me deu perspectivas de vida. Com a minha renda, ajudo a manter a casa. Em 2011, quero abrir uma empresa;, diz Silvia, que tem dois filhos.
Formação
A Fundação Bradesco destinou R$ 268 milhões em 2010 para a manutenção de 40 escolas em todos os estados e no Distrito Federal. As unidades oferecem os ensinos fundamental e médio, formação inicial e continuada, educação profissional e de jovens e adultos. Nos últimos 10 anos, o investimento foi de R$ 3,2 bilhões, com recursos próprios, beneficiando cerca de 2,2 milhões de pessoas.
A professora Graziella explica que as empresas contam com incentivos fiscais que permitem a dedução de até 100% do investimento social no Imposto de Renda (IR). A Lei Rouanet, por exemplo, é utilizada por corporações que desejam financiar projetos culturais e permite o abatimento do valor transferido para as iniciativas até o limite de 4% do IR devido. A Lei de Incentivo ao Esporte também permite que pessoas jurídicas abatam o valor doado, com teto de 1% do IR devido.
Uma das entidades que se beneficiam de incentivos fiscais é a SulAmérica, que desenvolve o projeto Praças da Paz desde 2007, para revitalizar espaços públicos na periferia de São Paulo. Outra iniciativa é a Rede de Capacitação Profissional (Recofia), por meio da qual a SulAmérica formou, nos últimos 13 anos, 1.045 jovens no Rio de Janeiro para atuar com tecnologia automotiva. ;Em 2010, investimos R$ 6 milhões, o que beneficiou 12,6 mil pessoas;, afirma Adriana Boscov, gerente de Sustentabilidade Empresarial da SulAmérica.
Alternativa a políticas públicas
O investimento em ações sociais oferece novas perspectivas de vida para crianças, jovens e adultos, principalmente em regiões excluídas e esquecidas pelo governo na formulação de políticas públicas. Há 12 anos, Simone Silva Nunes, 30 anos, se mudou do Maranhão para o Distrito Federal, para trabalhar como empregada doméstica. No ano passado, ela teve a oportunidade de abrir um salão de beleza, mas não conseguia impulsionar os negócios por falta de qualificação. Tudo mudou depois que ela fez cursos de qualificação oferecidos por empresas.
;Agora, ofereço serviços melhores e tenho mais vontade de trabalhar;, diz. Já Marion dos Santos Carneiro, 37 anos, pôde ajudar a sua mulher no salão de beleza. ;Faço tudo: corte, maquiagem e manicure. Aumentamos em 60% o rendimento da empresa;, afirma.
O diretor do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (UnB), Luís Afonso Bermúdez, explica que, além de oferecer um retorno para a sociedade a partir do que lucram, as empresas buscam melhorar a imagem por meio dos projetos sociais. ;Eles passaram a impressão de que se preocupavam apenas com dinheiro e querem mudar isso;, observa. Adriana Boscov, da SulAmérica, não nega a intenção. ;Com as ações, acabamos mostrando nosso trabalho na sociedade e entramos em novos mercados;, confirma.
Crianças
Em 2010, a Fundação O Boticário completou 20 anos, ao longo dos quais investiu US$ 10,3 milhões em 1.245 projetos voltados para o desenvolvimento científico no Brasil e para a conservação ambiental. No ano passado, o Grupo Pão de Açúcar, com a cooperação dos clientes, doou 554 mil livros, 310 mil itens de roupas e 378 mil brinquedos para mais de 600 instituições. Somente nos meses de junho e julho deste ano, foram arrecadadas 450 mil exemplares de livros, agasalhos e brinquedos. O Instituto Ronald McDonald, por sua vez, conseguiu mais de R$ 15 milhões em campanhas durante o ano de 2010 para beneficiar crianças e adolescentes com câncer em 88 instituições.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Banco VMG realiza o projeto Brinde Solidário, que em 2010 destinará R$ 200 mil para instituições de apoio a idosos em todo o país.
A distribuição será feita de acordo com a votação do público, por meio da página www.bancobmg.com.br/brindesolidario. Já a Brasal Refrigerantes no DF, franquia da Coca-Cola, contabilizou 312 doações de sangue em 2010, por meio do Probrama Brasal Doa Vida, que envolve os funcionários. ;Desde 2001, formamos 240 pessoas por meio de um telecurso em parceria com o Sesi;, acrescenta Rita Viana, gerente de Qualidade da Brasal. (CB)