Jornal Correio Braziliense

Economia

Com a crise, os pequenos acionistas nunca foram tão bem tratados como agora

Os pequenos acionistas nunca foram tão bem tratados. A relação entre eles e os sofisticados técnicos do setor financeiro ainda está longe do ideal, mas certamente melhorou muito nos últimos três anos. É o sinal dos tempos. Os nanicos agora sentam-se ao lado dos gigantes e são até convocados para um pomposo evento que se espalha pelo Brasil: o Dia do Investidor. A prática é amplamente conhecida nos países desenvolvidos, mas chega com força aqui porque as empresas nacionais, de olho no grande filão do mercado externo de ações, viram-se obrigadas a melhorar a relação com os aplicadores domésticos e copiar o padrão de transparência das bolsas de valores internacionais.

;O pequenininho, hoje, vale ouro;, afirma Marcelo Coutinho, sócio-presidente da YouTrade. Aquele que paga as contas com o seu robusto volume de capital sempre recebe atenção especial, admite o executivo. Mas o pequeno virou uma espécie de amuleto da sorte disputado a tapa. Os gestores só descobriram que ele é o fiel da balança quando o acionista controlador, de uma hora para outra, resolve retirar-se do negócio. ;Imagine uma receita de R$ 100 milhões. Se o maior investidor detém 80% e tira a sua parte, quem segura o negócio é aquela massa menor;, alerta.

A evolução do mercado de capitais forçou o processo de aproximação, principalmente depois do Novo Mercado ; segmento de listagem de ações no qual as empresas se comprometem a dar informações além das exigidas pela legislação societária brasileira. Marcelo Martins, diretor Financeiro da Cosan S/A (produtora mundial de açúcar, etanol e energia elétrica), define dois objetivos para o Dia do Investidor: fazer com que analistas e investidores tenham a oportunidade de entrar em contato com os principais gestores e alavancar o preço dos papéis da companhia.

Nova York
;Os fluxos de capitais se expandem. A empresa que não se atualizar perderá espaço e não vai ampliar sua base de clientes lá fora. Temos que unificar os padrões de transparência. E isso certamente se reflete no preço das ações;, diz Martins. A Cosan celebrou neste ano, pela primeira vez, o Dia do Investidor na Bolsa de Nova York e em luxuoso hotel de São Paulo. A base de clientes da empresa gira em torno de 10 mil investidores (pessoas físicas e empresas). Com o evento, a companhia ampliou em 5% a quantidade dos sócios institucionais.

As companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM) enxergaram que, para atrair mais clientes e mostrar ao mundo que estão aptas a competir no mercado global, é muito pouco apresentarem-se à sociedade na reunião anual obrigatória da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). ;Na Apimec, apresentam-se resultados, olha-se para o passado. No Dia do Investidor, o objetivo é aumentar e diversificar o perfil do investidor;, explica Martins. Entre as empresas que aderiram ao Dia do Investidor, estão a Oi (do setor de telecomunicações), a ALL Logística (serviços de logística de grande porte) e o Laboratório Dasa (de medicamentos). Apesar do sucesso da empreitada, elas preferiram não comentar o feito.

Campainha
A Bolsa de Valores de São Paulo (BM) também se esforça para atrair novos investidores e dar transparência ao mercado. Para isso, criou o Dia da Empresa. O objetivo é valorizar as que contribuem para o desenvolvimento do país. A instituição solicita dos participantes a adesão à campanha de educação financeira ;Quer ser sócio?; e costuma comemorar o aniversário de listagem das companhias mais antigas na bolsa, com direito a um toque de uma campainha no início do pregão.