Dirigentes da UE participam nesta quinta-feira (16/12) de uma reunião de cúpula para dotar a região de meios para resistir de forma duradoura a crises sistêmicas na zona do euro (que reúne os 16 países que adotam o euro como moeda) e nos países do bloco que ainda adotam moedas nacionais; mas permanecem divididos em relação a respostas imediatas, ao final de um ano tumultuado, marcado pelos planos de resgate da Grécia e da Irlanda.
A reunião de chefes de Estado e de governo, a sétima do ano, será concluída nesta sexta-feira.
"Quero que a Europa hoje e amanhã prove sua vontade de fazer tudo para assegurar a estabilidade financeira da zona do euro", destacou o chefe dos ministros das Finanças da União Monetária, Jean-Claude Juncker.
"Quero que um sinal claro e decisivo seja enviado para a Europa e também para o euro", afirmou a chanceler alemã Angela Merkel.
Concretamente, a reunião deverá estabelecer um compromisso de mudança limitada do tratado em vigor na União Europeia para criar um mecanismo permanente de solidariedade financeira na zona do euro.
A União Europeia já havia anunciado há meses, em Bruxelas, a criação de um fundo, chamado, por enquanto, de "mecanismo de estabilização".
A mudança do texto, em vigor há apenas um ano, é condição imposta pela Alemanha para aceitar tornar perene o mecanismo de socorro em favor dos países em dificuldade.
Uma cláusula do tratado, o artigo 136 sobre o funcionamento da zona do euro, será, provavelmente, ampliado, no ano que vem.
Durante a cúpula, os dirigentes deverão apresentar caminhos para que sejam finalizados os contornos do futuro mecanismo.
Escaldada pela crise grega da primavera, a UE já colocou em prática um mecanismo de empréstimos ou de garantias no valor de 440 bilhões de euros, em recursos dos países-membros da União Europeia. O valor será mobilizado para uso eventual, em caso de turbulência sistêmica, e posto à disposição por meio de contratos de empréstimos bilaterais e de garantias, expirando em meados de 2013, como parte de um dispositivo mais amplo, de 750 bilhões de euros, incluindo o FMI e a UE.
Para sucedê-lo, foi decidido colocar em prática um dispositivo permanente, a fim de tranquilizar os mercados sobre a capacidade de reação da zona do euro. Após a Grécia e a Irlanda, a Espanha, Portugal e a Bélgica aparecem vulneráveis aos olhos do mercado.
Principal novidade do mecanismo: os bancos e fundos privados detentores da dívida pública poderão contribuir para o resgate de um país em dificuldades, uma questão a ser examinada caso a caso.
Para evitar um contágio da crise, alguns dirigentes querem ir mais longe. Mas os europeus permanecem divididos em relação à oportunidade de aumentar os recursos do mecanismo atual de apoio, assim como os meios do instrumento que vai sucedê-lo.
"Temos necessidade de um mecanismo mais amplo a partir de 2013", considerou o ministro das Finanças, Didier Reynders, da Bélgica, país que preside a UE. Berlim recusa-se, por enquanto, a examinar esta proposta.
Alguns dirigentes da cúpula europeia, entre eles o luxemburguês Jean-Claude Juncker, querem por sua vez criar as "euro-obrigações", empréstimos de Estado comuns para dividir os riscos entre os países e proteger os mais fracos.
Disso, também, a Alemanha, que goza de maior credibilidade nos mercados obrigatórios, não quer nem ouvir falar. E a França considera que ainda é muito cedo para discutir o assunto.
"É o começo do debate", considerou Reynders. "Iniciamos o processo e no final, talvez, tenhamos as euro-obrigações", estimou.
No imediato, a calma precária registrada nos mercados deve-se, sobretudo, à ação do BCE, que compra em massa obrigações dos países frágeis da zona do euro.
Paar tranquilizar sobre sua capacidade, a instituição monetária decidiu nesta quinta-feira dobrar seu capital a 10,76 bilhões de euros.
O assunto também está sendo abordado durante a cúpula, da qual participa o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet.