Jornal Correio Braziliense

Economia

Encarecimento do crédito já altera o dia a dia do comércio no país

Sem o hábito de guardar dinheiro, brasileiros recorrem às aplicações para bancar prestações. Mas especialistas recomendam a quitação total

O enxugamento de crédito promovido pelo Banco Central já bateu no bolso dos consumidores, principalmente dos que não têm dinheiro. A autoridade monetária obrigou o brasileiro a algo inusitado: fazer poupança para comprar em prestações. Estão praticamente extintas as linhas de crédito que financiavam bens em inúmeras parcelas e sem a necessidade de entrada. As tabelas de bancos, lojas e concessionárias de veículos também ficaram mais pesadas. Nas compras acima de 24 vezes, os juros abaixo de 1% ao mês deixaram de existir e o consumidor precisa ficar atento às letras miúdas de contratos e anúncios. Outros encargos estão sendo cobrados. Às vezes, sem que o comprador perceba, podem elevar a prestação a mais de 2% mensais.

Na avaliação de Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores, o esvaziamento das lojas mostra a eficácia das resoluções tomadas pelo BC. ;O reflexo foi imediato. Uma elevação na Selic não teria um efeito tão rápido. Foi um balde de água fria no crescimento;, observou. ;A economia já está desacelerando. Basta ir a uma loja para ver. Os juros subiram e os prazos encolheram.; Na tentativa de disfarçar a elevação das taxas e continuar a atrair o consumidor, as lojas de veículos, por exemplo, transformaram em juros mensais diversas despesas da operação e do registro do automóvel. Na propaganda, percentuais de até 0,99% ao mês são estampados em letras garrafais. Na parte minúscula do anúncio, o chamado custo efetivo total ultrapassa os 2%.

Barganha
Consenso entre educadores financeiros, o pagamento à vista é o melhor caminho para os brasileiros fugirem das dívidas, especialmente em um momento como o atual, em que os empréstimos encareceram. Além de escapar dos juros altos, o consumidor que quita a dívida no ato da compra tem melhores condições de barganhar descontos com os lojistas. É o que fez a funcionária pública Raquel Lopes, 26 anos, moradora da Asa Sul. Depois de pesquisar, ela decidiu comprar uma geladeira pela internet, com opção de pagamento por boleto e desconto de 5%. ;Vi que o crédito ficou mais caro, mas no meu caso não faz diferença. Só compro parcelado se for sem juros;, disse.

Para o especialista em educação financeira, Emerson Castello Branco Simenes, o encarecimento do crédito obriga as pessoas a planejarem melhor as compras e a formarem uma poupança para dar de entrada. ;Quando a prestação é daquelas a perder de vista, a tendência dos consumidores é de comprometerem a renda por muito tempo, sem se darem conta de que podem se complicar. Mas um simples imprevisto pode jogar a pessoa na inadimplência;, disse. O especialista defende a poupança como saída ao encarecimento dos juros.

O técnico em eletrônica Wellington Freitas, 46 anos, segue à risca a orientação dos consultores. Ele quer comprar um forno de parede para a casa e, como já tem o hábito, pagará à vista. ;Prefiro assim, para não cair nas dívidas. Vou aproveitar parte do 13; (salário) para melhorar a cozinha;, afirma.