Jornal Correio Braziliense

Economia

China adotará política monetária mais 'prudente' para frear a economia

Pequim ; A China anunciou ontem que pretende adotar, a partir de 2011, uma política monetária mais ;prudente;. A declaração do Bureau (escritório) Político do Partido Comunista ; a mais alta instância de governo do país ; foi interpretada por analistas como um sinal de que a segunda economia mundial elevará suas taxas de juros, em um momento em que luta para frear a inflação. O drama dos chineses neste momento é o mesmo do Brasil. Com crescimento robusto, o país vive o fantasma da alta dos preços. E o grande desafio das autoridades econômicas de Pequim é saber a dosagem dos remédios disponíveis contra a enfermidade.

A elevação dos preços ao consumidor no país alcançou 4,4% em outubro, nível mais alto em dois anos e bem acima da meta do governo (3%). A alta foi alimentada pelo dinheiro injetado na economia chinesa desde o começo da crise financeira mundial, em 2008. Com a intenção de combater a inflação (que atinge, principalmente, o setor imobiliário), o Banco Central chinês aumentou, em outubro, pela primeira vez em quase três anos, as taxas de juros. Ele já havia adotado o mesmo mecanismo pelo qual o Banco Central brasileiro optou ontem: subiu cinco vezes em 2010 as taxas de reservas obrigatórias dos bancos (depósitos compulsórios), que reduz a margem das instituições financeiras para conceder créditos. Com menos recursos disponíveis para o consumidor comprar, diminui a demanda e, consequentemente, a inflação.

A política monetária chinesa mantinha uma orientação de taxas de juros baixas até agora, mas, segundo informou a agência Xinhua, Pequim aplicará em 2011 ;uma política fiscal pró-ativa; e uma política monetária ;flexível e eficaz;. A inflação, origem de graves problemas sociais na China num passado não muito distante, preocupa bastante o governo, que no mês passado já havia anunciado estar disposto a recorrer a um controle de preços dos produtos básicos.

Plano quinquenal
O anúncio de um ajuste monetário chega pouco antes de uma reunião, ainda este mês, do mais alto escalão dirigente, que definirá as orientações econômicas do país, em um momento em que a China prepara seu 12; plano quinquenal para 2011-2015. ;É um sinal claro de que um aumento das taxas de juros é iminente;, explicou à AFP Brian Jackson, economista do

Royal Bank of Scotland. ;As taxas atuais são baixas demais em relação à inflação. Avançaram apenas 25 pontos de base (0,25%) desde o início de 2009, o que é cada vez menos adaptado à situação atual;, estimou o analista. Para Stephen Green, do banco Standard Chartered de Xangai, um ajuste já ;era muito esperado; e já havia começado.

No comunicado da reunião do Bureau Político, presidida pelo chefe de Estado, Hu Jintao, a China prometeu, por outro lado, ;garantir um crescimento estável do comércio exterior, e agir para aumentar as importações;.

Risco especulativo
Durante a crise financeira, o banco central chinês injetou liquidez maciçamente na economia do país. Medidas de apoio chegaram a 4 trilhões de iuanes (US$ 586 bilhões). O excesso de recursos disponíveis, no entanto, levou a um aumento dos preços dos imóveis, fragilizando os bancos. Na semana passada, um alto funcionário do banco central advertiu ainda sobre o risco de uma enxurrada de capitais especulativos na China, atraídos por uma possível apreciação do iuane, fenômeno que também alimenta a inflação.