Dublin ; Cerca de 50 mil pessoas protestaram ontem contra o duro plano de austeridade que o governo da Irlanda pretende aplicar, como parte do arrocho fiscal exigido pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca da liberação do pacote de socorro ao país, que deve chegar a 85 bilhões de euros (US$ 112,5 bilhões). A marcha partiu das docas do Rio Liffey em direção à principal agência do correio, local simbólico no centro da capital irlandesa, onde foi lida a Declaração de Independência, em 1916.
As medidas anunciadas na quarta-feira pretendem economizar 15 bilhões de euros (US$ 19,85 bilhões) até 2014 por meio de redução de despesas e aumento de impostos. O programa prevê a demissão de 25 mil funcionários públicos, a redução do valor pago pelo seguro-desemprego e cortes nas aposentadorias. A meta é, num prazo de quatro anos, reduzir para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) o
deficit público, que deve chegar a impressionantes 32% do PIB
em 2010.
Sem a adoção das medidas, o primeiro-ministro da Irlanda, Brian Cowen, não teria a concordância dos demais países da UE e do FMI para o socorro, cujos termos finais podem ser anunciados ainda hoje ou amanhã. Ontem, os manifestantes queimaram cartazes de Cowen, que continua resistindo às pressões para que renuncie. Ele já aceitou dissolver o parlamento e convocar eleições assim que o Orçamento, com as medidas de ajuste fiscal, seja aprovado. Cerca de 700 policiais e um helicóptero foram mobilizados para manter a ordem no protesto.
;Os cortes orçamentários não são necessários. Estamos salvando os bancos, não a Irlanda. São os bancos que deveriam sofrer, vamos deixá-los quebrar;, queixou-se Marian Hamilton, uma irlandesa de 57 anos que teme pela redução de sua aposentadoria. Para Mark Finley, funcionário da prefeitura de Dublin, de 28 anos, ;é preciso derrubar o governo e fazer uma greve;. ;Temos que enviar uma mensagem clara a este governo. Minha renda diminuiu em milhares de euros em dois anos;, reclamou.
Os sindicatos convocaram a marcha contra o plano de austeridade, que consideram ;uma declaração de guerra contra os trabalhadores que ganham menos;, nas palavras de Jack O;Connor, presidente do SITPU, principal central sindical irlandesa.
Zapatero quer mais reformas
; O primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, garantiu ontem que não vai se desviar do caminho da austeridade na administração das contas públicas. ;Se for necessário acelerar as reformas, nós o faremos;, disse. O discurso teve um objetivo bem claro: acalmar os investidores, depois de uma semana tensa no mercado financeiro por causa do temor de que o governo espanhol não tenha condições de honrar sua dívida. Após se reunir com os diretores de 37 grandes empresas, Zapatero afirmou que a ação econômica se baseia na contenção dos gastos públicos, na reestruturação do sistema financeiro e em reformas estruturais, como a da Previdência e a trabalhista. A intenção é deixar o país mais competitivo.