Ainda nem foi nomeado e o substituto de Henrique Meirelles no comando do Banco Central, Alexandre Tombini, 47 anos, já tem uma prova de fogo para superar: conter a disparada da inflação, que avança a passos largos para superar os 6% neste ano e os 5% em 2011. Não à toa, instalou-se um amplo debate no governo e no mercado financeiro se o Comitê de Política Monetária (Copom) terá que dar início a um novo ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) em dezembro, na reunião marcada para os dias 7 e 8.
Apesar do reconhecido conhecimento técnico e do equilíbrio de Tombini para tomar decisões difíceis, parte dos analistas teme que o BC, nesta retal final do governo Lula, opte por não endossar medidas impopulares. Assessores da presidente eleita, Dilma Rousseff, asseguram, porém, que Tombini e Meirelles têm autonomia suficiente para definir a política monetária. ;Não há e não haverá complacência com a inflação;, disse ao Correio um desses assessores.
Dentro do BC, a expectativa é grande, sobretudo porque, tanto na ata da última reunião do Copom ; quando a Selic foi mantida em 10,75% ao ano ;, quanto no mais recente relatório trimestral de inflação, os diretores da instituição asseguraram que o quadro inflacionário era benigno. Ou seja, não havia riscos de o custo de vida se distanciar muito do centro da meta definida pelo governo, de 4,5%. ;A realidade, porém, está mostrando que o BC errou em suas avaliações. Será que agirá rapidamente para conter os estragos que a inflação pode fazer no orçamento da população, especialmente a mais pobre?;, indagou um técnico do Tesouro Nacional. ;Felizmente, pelo histórico do BC, podemos concluir que sim;, tratou de responder.
Formado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), com PhD pela Universidade de Illinois, dos Estados Unidos, o gaúcho Tombini dá sinais de que está pronto para agir e cumprir a principal missão do BC ; a de assegurar a estabilidade da moeda. Quem conversou com ele nos últimos dias garante que é questão de honra para o futuro presidente do BC enterrar de vez o fantasma do fim da autonomia operacional que foi alardeado por Meirelles, quando ele ainda acreditava que ficaria no comando da instituição. ;Com Tombini, a credibilidade construída nos últimos anos pelo BC será até reforçada;, afirmou José Luís Rodrigues, presidente da Consultoria JL Rodrigues.
Tomada do poder
Nos corredores do BC, Tombini já é chamado de presidente e ministro, devido ao status do cargo mantido por Dilma. Servidor da casa desde 1995, onde dá expediente diário de mais de 12 horas, é visto como uma pessoa muito dedicada. Pela rápida ascensão, ele conquistou a admiração de outros técnicos, que sonham repetir o feito do colega. Ao assumir a Presidência do banco, Tombini deverá protagonizar um feito histórico, caso opte por um técnico para a diretoria de Normas: pela primeira vez, todo o primeiro escalão do BC terá saído do setor público. Alguns até brincam: ;O funcionalismo tomou poder;.
Para o mercado, Meirelles não fará sombra a Tombini, já que o futuro presidente vem sendo preparado para o cargo desde que assumiu a diretoria de Normas. Ele também teria construído boa relação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantido no cargo pela presidente eleita. ;Tombini representa a continuidade. É um profissional muito preparado;, disse Rodrigues. ;Creio que ele seguirá uma política responsável em relação à inflação;, afirmou Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC e atual economista-chefe do Itaú Unibanco. ;O desafio de Tombini será realizar uma política monetária que mostre que está atento às pressões inflacionárias;, acrescentou Carlos Thadeu de Freitas, também ex-BC.
Tombini terá, ainda, que fazer valer a promessa do ministro da Fazenda de pôr freio na gastança do governo nos últimos dois anos, que ajudou a eleger Dilma Rousseff, mas está fazendo estragos na inflação, com os preços dos alimentos.
MANTEGA QUER ÍNDICE SEM ALIMENTOS E COMBÚSTIVEIS
; O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que seus assessores estão estudando a formulação de um índice inflacionário que excluirá a alta de preços dos alimentos e dos combustíveis, seguindo o modelo usado nos Estados Unidos. ;Não é mudar. É deixar a que está aí e acrescentar uma indicação que tire alimentos e combustíveis;, afirmou. Ele ressaltou, porém, que, no Brasil, já se avalia os núcleos da inflação, que descontam reajustes atípicos. O problema é que todos os olhos se voltam para a inflação cheia, muitas vezes distorcida. Sobre a possibilidade de o país adotar metas de inflação menores do que os 4,5% atuais, o ministro frisou que antes será preciso superar dois problemas: a indexação da economia provocada pelos preços administrados e o impacto das commodities (mercadorias com cotação internacional).
COMIDA MAIS CARA
Problemas climáticos e conjunta internacional desfavorável vão manter os preços dos alimentos em alta em 2011 e, possivelmente, também em 2012, causando pressões inflacionárias e dor de cabeça à presidente eleita, Dilma Rousseff. O cenário negativo tende ainda a prejudicar a população mais pobre, justamente a que garantiu à petista a vitória eleitoral. Vão sustentar a elevação dos itens alimentícios o aumento do consumo de alimentos na Ásia; o uso de produtos agrícolas ; milho, principalmente ; para produção de etanol nos Estados Unidos; e os excessos de chuvas e estiagens.
Na avaliação de Célio Brovino Porto, secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, as secas que prejudicaram as produções de açúcar na Índia e de trigo na Rússia foram alguns dos motivos para a disparada de preços pelo mundo e para as intervenções dos governos na tentativa de controlar o valor das commodities. O volume de exportações fracassaram, pois diminuíram a produção e descapitalizaram os agricultores.
Entretanto, Porto crê que as exportações do agronegócio brasileiro, que devem movimentar cerca de US$ 75 bilhões este ano, podem ser afetadas em 2011 se a crise econômica na Europa ; principal praça que recebe os produtos brasileiros ; perdurar e a guerra cambial, que tem criado distorções no mercado, não for combatida. ;Os preços estão em níveis remuneradores em dólar. Quando eles são convertidos em real, a taxa de câmbio não é tão favorável;, destacou.
Carne de frango
Presidente da União Brasileira de Avicultura, Francisco Turra não vê um cenário favorável para o consumidor, quando o assunto é o preço frango. ;A escassez da carne bovina redirecionou o consumo para o frango. Atrelado a isso, o encarecimento do milho, principal insumo de produção, também contribuiu para elevação do valor do quilo da ave. Esse cenário deve permanecer no próximo ano, pois os problemas climáticos são esperados.;