Jornal Correio Braziliense

Economia

Com o dólar barato, comerciantes vão às compras em grandes centros dos EUA

A cena de vários ônibus enfileirados próximos às rodoviárias, tendo como destino as compras no Paraguai, faz parte do passado. A rota da muamba mudou. Os sacoleiros do Paraguai migraram para Miami, Orlando e Nova York, nos Estados Unidos. O real supervalorizado, o cerco mais forte às mercadorias na fronteira do Brasil com o país vizinho e os diversos voos diretos de várias capitais tendo como destino os EUA facilitam a vida de quem quer encher as sacolas de compras no país do Tio Sam. "Temos visto mais gente trazendo coisas para vender aqui dos Estados Unidos. Há dois tipos de viajante. O que vai só para fazer compra e o que aproveita para conciliar o lazer com a compra", afirma José Carlos Vieira, diretor regional e vice-presidente nacional da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav).

Thiago Alves da Costa é corretor imobiliário em Miami e confirma o maior movimento de sacoleiros na cidade. "Depois da crise, muita gente que tinha salário fixo aqui ficou desempregada. Várias pessoas passaram a levar para o Brasil coisas para vender", diz. Muitas vendas, segundo Costa, são casadas". "A pessoa sai daqui com grande parte da mercadoria já encomendada. Tem gente que faz esse trabalho como bico. Sai na sexta à noite para Miami e volta no domingo. Outros trocaram de profissão. Aproveitaram que o real está forte e passaram a ser muambeiros", acrescenta.

Na hora de falar sobre as compras, os sacoleiros são de poucas palavras e pedem o anonimato. S.F.A. vende produtos de Miami até pela internet. Ela conta que já sai do Brasil com a lista de encomendas. "Sei os preços de muitos produtos por lá", diz. Apesar de a Receita Federal ter apertado o cerco aos sacoleiros, com maiores restrições às mercadorias que podem ser trazidas na bagagem, ela conta que quase não trabalha com eletrônicos, que são o alvo principal da fiscalização. Na sua última viagem, ela pagou US$ 840 (R$ 1,47 mil) pela passagem para Miami. "Não dá para ganhar muito. A concorrência aumentou. Muita gente que mora lá está vindo vender mercadoria no Brasil. E os brasileiros estão viajando mais para fora. As pessoas passaram a encomendar os produtos a amigos e parentes", acrescenta.

Enquanto a concorrência de sacoleiros aumenta nos EUA, o trabalho está quase em extinção no Paraguai. Em 1982, auge da febre dos produtos importados do país vizinho, a aposentada Laurinda Mordente viajava todos os meses para lá com o intuito de trazer mercadorias para o Brasil. Na bagagem, vinham walkmans, maquiagens, casacos de couro, cintos, carteiras e echarpes. Segundo ela, hoje os ônibus não podem mais entrar em Ciudad del Este, antiga Puerto Stroessner, que, por meio da Ponte da Amizade, está ligada a Foz do Iguaçu, o que significa que os sacoleiros devem fazer o trajeto a pé.