A economia brasileira desacelerou no terceiro trimestre. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que tenta antecipar a variação do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas do país), houve um avanço de 0,35% no período. Foi o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, quando o indicador registrou recuo de 2,1%, após o auge da crise financeira iniciada alguns meses antes. O excesso de importações em função do dólar barato também teve impacto no desempenho ; o fortalecimento do real tem tirado competitividade da indústria nacional, levando o setor produtivo a frear.
Entre agosto e setembro, o IBC-Br avançou 0,69%, o maior movimento desde março, atribuído principalmente às encomendas de Natal. Projeções do Itaú Unibanco indicam que o PIB subiu 0,1% em setembro na comparação com agosto e 0,2% no terceiro trimestre.
A desaceleração em relação ao primeiro semestre se deve ao baixo desempenho das indústrias, que sentiram o peso das importações.
Tendência
A expansão em setembro foi a terceira consecutiva, após 0,4% em julho e 0,3% em agosto. A tendência positiva anima o banco a apostar em uma alta de 1,6% no quarto trimestre. Com o desemprego em baixa e o consumo em alta, o Itaú Unibanco estima que o PIB de outubro tenha crescido 0,6% frente a setembro. Para 2010, as análises apontam para um avanço de 7,6%.
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, diz que o resultado está dentro da perspectiva. Com renda em alta, o comércio varejista deve registrar saltos expressivos no quarto trimestre. ;A indústria não está se desindustrializando. O que as importações estão fazendo é cobrindo o excesso, não o básico;, justificou.
O repórter viajou a convite do Itaú Unibanco
CNI DEFENDE QUARENTENA
Gabriel Caprioli
As tímidas intervenções do governo para evitar a supervalorização do real são insuficientes para evitar o sucateamento das empresas brasileiras, na avaliação do novo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. Além de um controle rígido na entrada de capitais, com a fixação de uma quarentena para a permanência do dinheiro aqui, o empresário defendeu o direcionamento dos recursos externos para investimentos em setores predefinidos, como os voltados para o comércio exterior.
Para Andrade, a seleção de empreendimentos é uma forma de trazer igualdade de condições entre os brasileiros e os estrangeiros. ;Se a China quer investir no Brasil, que venha. Que participem do trem rápido e das obras relacionadas à Copa do Mundo e às Olimpíadas. Eles são parceiros importantíssimos, mas têm que vir para cá trabalhar e competir nas mesmas condições que temos;, afirmou.
Na visão do economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI), Rogério César Souza, a escolha de projetos faz parte de uma visão de planejamento que o país precisa amadurecer. ;O Brasil é extremamente atrativo, tem fundamentos equilibrados e está na vez de fazer esse direcionamento. Não se trata de ser arbitrário, mas de definir quais os nossos interesses. Só com essa reformulação vamos conseguir instalar um ciclo diferente de investimentos;, ponderou.
Esse filtro, explicou Souza, poderia ser feito por um comitê responsável por identificar segmentos de interesse, como infraestrutura, e estabelecer um plano de longo prazo. ;Não seria uma seleção de setores vencedores, mas uma questão estratégica, olhando para as regiões do país e suas necessidades. A experiência internacional mostra que isso é possível;, completou.