Jornal Correio Braziliense

Economia

Ministros de Finanças da Zona do Euro podem definir hoje auxílio à Irlanda

País luta contra déficit público de 12% do PIB

Dublin ; Afundado num grave deficit público, o governo da Irlanda admitiu ontem manter ;contatos internacionais; sobre a situação econômica do país, mas negou ter pedido ajuda financeira externa. Resistindo ao aumento da pressão para que aceite empréstimos da União Europeia (UE), a administração tenta convencer os investidores de que pode solucionar a crise fiscal sozinha. Qualquer intervenção dos outros países poderia ser considerada intromissão em assuntos internos, o que traria ainda mais problemas políticos para o primeiro-ministro Brian Cowen.

;As conversas prosseguem em nível oficial com colegas internacionais em meio às condições atuais do mercado;, declarou um porta-voz do Ministério das Finanças, insistindo em frisar que a ;Irlanda não fez nenhuma solicitação de ajuda ao exterior;. ;Devemos resolver os nossos próprios problemas;, afirmou, em uma entrevista à rádio Newstalk, o secretário para Assuntos Europeus, Dick Roche, após intensas especulações sobre um eventual recurso ao fundo de resgate europeu.

O porta-voz financeiro da oposição irlandesa, Michael Noonan, disse acreditar que a intervenção europeia na crise da dívida já está ;em curso; e previu que a situação se defina em 24 horas. ;Estou muito preocupado. Acho que as informações ouvidas no fim de semana são fundamentadas. O governo irlandês está travando uma ação de retaguarda para manter as aparências, mas haverá uma reunião dos ministros de Finanças da Zona do Euro na terça-feira (hoje) à tarde que deve resolver o problema;, disse Noonan à BBC.


A delicada situação das finanças públicas irlandesas suscita preocupação em relação à sustentação dos países que usam o euro como moeda comum, admitiu um porta-voz da Comissão Europeia, o braço executivo da UE. ;Sim, estamos em contato com as autoridades irlandesas. Sim, há inquietação na Zona do Euro sobre a estabilidade financeira no conjunto;, disse. ;Mas dizer que a Irlanda esteja pressionada para que recorra a um mecanismo de resgate é um exagero.;

Segundo técnicos ligados às negociações, na noite de domingo houve discussões de emergência em Bruxelas, capital da UE, sobre as condições de um auxílio à Irlanda que poderia alcançar 90 bilhões de euros
(US$ 122 bilhões). Os países da Zona do Euro também se preocupam com um possível contágio da situação irlandesa a países como Portugal e Espanha.[SAIBAMAIS]

;Não gostaria de dar lições ao governo irlandês, mas acho que ele deveria decidir o mais adequado tanto para a Irlanda como para o euro;, afirmou o ministro da Economia de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos. Indiretamente, ele incentivou a administração irlandesa a aceitar a ajuda. As taxas de juros dos títulos públicos da Irlanda se estabilizavam em 8,15%, na sequência de uma declaração tranquilizadora de cinco ministros das Finanças europeus na sexta-feira, durante o G-20.

As taxas haviam disparado na semana passada, em níveis sem precedentes, em meio a temores dos investidores de que o país não possa controlar um deficit de 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo as autoridades econômicas do país, o governo tem condições de se financiar, sem recorrer ao mercado, até pelo menos a metade de 2011.

Alto risco
Lisboa ; O governo português não planeja solicitar ajuda financeira internacional de emergência e não há discussões, formais ou informais, nesse sentido, garantiu o ministro de Finanças, Fernando Teixeira dos Santos. ;O restante são rumores e especulações;, disse. A negativa veio logo após o jornal Financial Times atribuir a ele declaração segundo a qual havia um ;alto risco; de Portugal ter que recorrer ao auxílio do fundo europeu. Santos afirmou que o país vai continuar a financiar seu deficit de 7,3% do PIB no mercado.

Surpresa no Japão

Tóquio ; Apoiada em incentivos fiscais que impulsionaram o consumo, a economia japonesa avançou no terceiro trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país) cresceu 0,9% na comparação com os três meses anteriores, quando o aumento havia sido de 0,4%. O resultado surpreendeu, superando em 50% a média das previsões de analistas, que era de alta de 0,6%.

Esse foi o quarto trimestre seguido de alta, num crescimento acumulado de 3,9% no ano, quase duas vezes maior que a expansão dos Estados Unidos. Os especialistas acreditam, entretanto, que a economia japonesa vai ficar estagnada ou até mesmo apresentar ligeira contração nos próximos dois trimestres. O motivo é a valorização do iene (moeda local), o que vai prejudicar as exportações.

Ainda assim, poucos economistas preveem um retorno do Japão à recessão, apesar do alerta quanto aos riscos de uma economia frágil. ;O crescimento do terceiro trimestre se baseou fortemente na demanda interna. Isso sugere um abrandamento acentuado no último trimestre, quando o estímulo ao consumo perderá força;, disse o economista-chefe da RBS Securities, Junko Nishioka.

O governo não comemorou o desempenho. Segundo o ministro da Economia, Banri Kaieda, a desaceleração internacional e o iene forte podem ameaçar as perspectivas do país. ;A economia do Japão está estagnada, com fraqueza na produção;, afirmou, em comunicado.