Um novo paradigma na forma de trocar informações invadirá o mercado nacional nos próximos meses. Liderados pelo iPad, da Apple, uma avalanche de tablets promete entrar na briga pela preferência dos consumidores que buscam convergência tecnológica. A previsão dos especialistas é a de que vantagens como mobilidade extrema, tela sensível ao toque e conexão à internet 24 horas por dia farão com que, a médio prazo, a nova ferramenta abale o domínio dos notebooks e dos netbooks. Já os tradicionais desktops passarão a ter o uso cada vez mais restrito a atividades específicas, que demandam maior capacidade de processamento. Há quem aposte que, em um espaço de cinco a 10 anos, os computadores de mesa corram o risco de se tornar obsoletos.
Um estudo preparado pela consultoria IDC prevê que a popularização dos tablets terá como consequência direta a queda no ritmo de crescimento das vendas globais de netbooks. Enquanto na comparação deste ano com 2009 o aumento estimado é de 10,3%, para os próximos quatros anos, esse índice cai para uma média anual de 4,3%. O gerente de Mercado e Inteligência de Negócios da Marco Consultora, Henrique de Campos Júnior, alerta que as vendas de desktops para usuários domésticos no Brasil já foram superadas pelos notebooks: 55% dos consumidores optarão pelo computador portátil neste ano.
Luciano Crippa, coordenador de pesquisa da IDC, é mais cauteloso ao falar sobre um eventual domínio de mercado por parte dos dispositivos portáteis. ;O acesso aos computadores ainda é baixo no Brasil. Atualmente, apenas 36% das residências contam com um PC. Na maioria dos casos, o primeiro computador de uma família continua a ser o desktop. Então, a curto prazo, o mercado deve se manter parecido com o atual e a procura por tablets se concentrará entre os aficionados por tecnologia. Contudo, o índice de vendas das máquinas de mesa será decrescente a cada ano, contra uma curva contrária no caso dos dispositivos portáteis, até que, em cerca de quatro anos, as máquinas tradicionais representarão algo próximo a apenas 25% das vendas;, avalia.
Outra pesquisa, da consultoria Gartner, calcula um crescimento superior a 960% nas vendas de tablets nos próximos quatro anos, o que, se estiver correto, representará um salto das atuais 19,5 milhões de unidades para 208 milhões em 2014. ;O tablet chegará em uma posição que o netbook e o celular tentam ocupar, que é a do equipamento de convergência dos diferentes recursos tecnológicos. Daqui para frente, esses três produtos brigarão no mesmo terreno de atuação e a escolha dos consumidores dependerá de uma soma do perfil e das necessidades práticas do usuário;, pondera Campos Júnior.
Futuro
A expectativa do gerente de Mercado e Inteligência de Negócios da Marco Consultora, Henrique de Campos Júnior, em relação ao futuro dos desktops, é a de que esse tipo de computador se tornará de uso mais específico, como edição de imagens, jogos e outras atividades que demandem alta capacidade de processamento. ;A tendência é o computador de mesa se tornar cada vez mais robusto. Essa conclusão é reforçada por pesquisas da Marco, cujo resultado aponta para o movimento recente de aumento nos preços do desktop contra o barateamento de netbooks e tablets.;
O executivo considera que a elevação de preço das máquinas de mesa está ligada ao aumento da robustez desses produtos no mercado, enquanto dispositivos portáteis ficam mais baratos na medida em que se popularizam. Já o coordenador de pesquisa da IDC, Luciano Crippa, aposta que os desktops se transformarão em uma espécie de data center doméstico. ;Em mercados como o dos Estados Unidos é isso que ocorre atualmente;, comenta. A estimativa, contudo, abrange apenas os próximos cinco anos. ;Com a nanotecnologia tudo é possível. Não duvido que a médio e longo prazo os tablets alcancem desempenho equivalente ao dos tradicionais desktops;, sugere.
Lixo digital se expande
A mudança tecnológica proporcionada pela chegada dos tablets traz consigo o agravamento dos problemas ambientais gerados pelo aumento do chamado lixo digital. Esse tipo de sucata é composta por produtos que caem em desuso ou se tornam obsoletos como, dizem alguns, tende a ocorrer com os velhos desktops. Andréa Portugal, coordenadora, em Brasília, do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), organização que coleta máquinas usadas e as distribui para serem utilizadas como ferramenta de inclusão digital em comunidades carentes, compara o momento atual com o que ocorreu na época da popularização dos monitores de LCD.
;Assim que os novos monitores foram lançados, começou um movimento de descarte em massa dos monitores antigos. Para nós, no primeiro momento, foi uma festa devido ao alto número de doações. Mas, em pouco tempo, os monitores se transformaram em um problema. Hoje temos 230 unidades estocadas e não aceitamos mais doação por falta de espaço para armazenamento;, relata Andréa. O maior problema dos monitores, afirma a ativista, é que eles não têm valor comercial. Para piorar, o descarte adequado, que evita a contaminação da natureza por parte da sucata, tem um custo elevado.
Karla Oliveira, educadora do CDI, estima, contudo, que os gabinetes dos desktops serão mais úteis para a reciclagem ou reuso para inclusão digital. ;Estamos falando de pessoas que nunca tiveram acesso à informática. Nesses casos, até um modelo ultrapassado ajuda para o ensino do básico. É um primeiro passo para promover mudança na vida das pessoas;, diz. Andréa explica que, no caso de máquinas que não funcionam, o gabinete tem alto valor para reciclagem. ;Há empresas especializadas no reaproveitamento do cobre, do ouro e da prata contidos nas placas. Até o plástico do gabinete pode ser reutilizado.;