A evolução da telefonia móvel no Brasil parece se concentrar cada vez mais na expansão do número de usuários do que necessariamente na qualidade do serviço prestado pelas empresas do setor. Depois de a Tim e a Vivo apresentarem falhas nas suas redes de comunicação em outubro, ontem foi a vez de a Nextel engrossar a onda dos ;caladões; e deixar as pessoas incomunicáveis. Durante todo o dia, os clientes da operadora não conseguiram efetuar ou receber ligações, além de ficarem impossibilitados de acessar os serviços de dados móveis como internet e e-mail.
De acordo com a Nextel, o problema se deu por causa de uma oscilação que ocorreu depois de uma serie de ajustes nos sistemas, o que comprometeu o funcionamento de redes de
telefonia e rádio. Ao tentar realizar uma chamada, o usuário era informado, por meio de uma mensagem, que o sistema estava fora do ar e aconselhado a tentar realizar a ligação mais tarde. A falha aconteceu em 11 estados e no Distrito Federal e atingiu aproximadamente 2,9 milhões de clientes da operadora.
Em nota, a empresa declarou que, logo após detectado o erro, no início da manhã, o problema havia sido resolvido. No entanto, não foi isso o que se viu. Até o fechamento desta edição, a pane ainda impossibilitava que usuários conseguissem completar ligações. O corretor de imóveis Augusto Guimarães foi um dos prejudicados com o apagão da Nextel. Depois de negociar durante toda semana a venda de um imóvel para uma cliente, ele se viu incomunicável justamente quando acertava os ajustes finais para a concretização do negócio.
;Estou tentando entrar em contato com minha cliente a partir de seu telefone fixo, mas não a encontro. O meu medo é que ela acerte a compra do imóvel com outro corretor. Se isso acontecer, todo o meu trabalho, assim como minha comissão, vão por água abaixo;, disse. ;Como dependo diretamente do celular para realizar o meu trabalho, vou ter que providenciar uma linha de outra operadora para não voltar a ter esse tipo de problema.;
Prejuízos
A advogada Juliana Arnez também sofreu com a pane. ;Passei todo o dia sem comunicação. Como muitos dos meus clientes não têm o meu número fixo, acredito que deixaram de me encontrar;, lamentou. ;Além disso, dependo da internet móvel para acompanhar o andamento de vários processos. Não pude fazer o meu trabalho por conta desse apagão.;
Na opinião de Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, num mercado cada vez mais competitivo, tanto os consumidores quanto as operadoras saem perdendo com a ocorrência de problemas de sinal. Para ele, os serviços de telefonia são essênciais para os cidadãos. Por isso, falhas como essas não podem se tornar corriqueiras.
Tude acredita que dois fatores contribuem para o aumento de registros de oscilações nas redes móveis. Primeiro, o número de assinantes de linhas telefônicas, que tem aumentado de forma significativa o uso da infraestrutura das operadoras. Segundo, a constante necessidade das operadoras de realizar ajustes para acompanhar a rápida evolução tecnológica. ;Na maioria das vezes, os problemas ocorrem nos softwares. Mas isso não pode ser mais usado como desculpa para novos distúrbios. Uma falha pontual pode ocorrer, mas não deve virar rotina;, alertou.
Acompanhamento
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou ontem o regulamento para avaliação da eficiência de uso do espectro de radiofrequências. Na visão do órgão, o acompanhamento da correta utilização das frequências se tornou necessário pelo aumento da procura. As faixas destinadas aos serviços de telecomunicações serão avaliadas individualmente
a qualquer tempo, a partir de solicitação de dados pela Anatel.