Jornal Correio Braziliense

Economia

Famílias de classe D investem mais em cursos superiores e escolas técnicas

O sonho de consumo da classe média emergente do país está distante das lojas de eletrodomésticos e dos corredores dos shopping centers. Os novos consumidores brasileiros querem mais, muito mais, e apostam na educação como o passaporte que vai levá-los a consolidar a melhoria da qualidade de vida conquistada até aqui. Entre 2002 e 2009, o número de universitários no Brasil saltou de 3,6 milhões para 5,8 milhões e esse movimento se deve à inclusão de estudantes de menor poder aquisitivo no ensino superior.

Segundo o Instituto Data Popular, em 2002 a classe A representava 25% dos universitários e a D, 5%. Em 2009, a situação se inverteu com apenas 7,3% pertencentes à classe A e o dobro (15,3%) à D. Entre 2003 e 2009, a escolaridade do brasileiro aumentou, em média, em um ano de estudo, informa a Fundação Getulio Vargas (FGV). No mesmo período, a proporção de pessoas com 12 anos ou mais de estudos nos domicílios brasileiros saltou 35,65% para os chefes de família e 39,51% para os cônjuges.

Fabrício Lourenço Coelho, 27, casado e pai de uma filha de dois anos, é operador de máquinas da Forno de Minas. Terminou o segundo grau em 2001 e logo em seguida preocupou-se em fazer um curso técnico de contabilidade. Nessa época, trabalhava como ajudante de produção na empresa e ganhava pouco mais do que um salário mínimo. Hoje a realidade mudou e no novo cargo o salário saltou para R$ 1.167.

Com rendimentos totais de R$ 2 mil, a família optou por investir na educação do chefe da casa. Hoje, Fabrício cursa o 7; período de engenharia de produção numa faculdade particular, onde paga uma mensalidade de R$ 870. Isso quer dizer que investe 74,5% de tudo o que recebe no sonho de se formar engenheiro, meta que alcançará no ano que vem. ;Estou buscando melhores oportunidades na vida. Para isso, abri mão de comprar muitas coisas. Agora que estou tão perto, preciso de um estágio;, diz.

Para Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV, a grande revolução da nova classe média brasileira não se dará pelo consumo, como se tem enfatizado, mas pela evolução de sua capacidade de gerar renda. E para aumentar a renda, é preciso acesso à educação. ;Esse é um passo positivo em relação ao futuro porque a educação é um investimento de longo prazo;, observa.

Fazendo a diferença
Na década de 1990, 16% das crianças brasileiras estavam fora da escola. Em 2000, esse percentual caiu para 4% e hoje está em 2%. ;A escola (pública brasileira) é ruim, as crianças ficam pouco tempo, mas mesmo assim a presença delas ali tem feito a diferença. A desigualdade está caindo e a renda aumentando.; Um dos fatores que contribui para essa mudança, segundo ele, é a redução do tamanho das famílias de baixa renda. Na década de 70, eram 6,2 filhos por mulher. Hoje é 1,9 filho por mulher, em média.

Mariana Marques Cabral, de 16 anos, cursa o primeiro ano do ensino médio no Colégio Padre Eustáquio, em Belo Horizonte. Ela vive com a tia, Flávia Santos Marques, gerente administrativa da Acqua Quality, e com o tio, Marcos Marques de Mattos, instalador de acessórios. A renda do casal gira em torno de R$ 4 mil, mas a família não abre mão de oferecer à sobrinha, que adotaram, a melhor educação que puderem.

Hoje os gastos com a mensalidade da escola, de R$ 560, se somam aos do cursinho preparatório para o Cefet e o Coltec (escolas técnicas federais e gratuitas), no qual investem R$ 195 ao mês. ;A prioridade em nossa casa é a educação. Sem estudar, ela não poderá ser alguém na vida. Só estudando terá condições de formar uma família sem depender do marido;, explica Flávia.

;Se existem otimistas neste país, eles estão nas classes C e D. A principal aposta de futuro é a educação;, resume Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. É assim porque, segundo ele, essa não é uma aposta ;fim; e sim uma aposta ;meio;. ;Se eu quero comprar um carro, o fim está nesse carro. Mas a educação vai servir para várias outras conquistas.; Cada ano de estudo, segundo as projeções do Data Popular, elevam o salário em 15%. ;Por isso, as classes emergentes encaram a educação como um investimento. Esse investimento é um meio de conquistar outros sonhos.;