Se o ritmo atual do mercado do turismo no Brasil já apresenta resultados expressivos ; entre janeiro e setembro, houve um incremento de mais de 9 milhões de viagens só nos desembarques domésticos ;, as estimativas indicam um caminho onde a expansão tem lugar garantido.
Para a próxima década, o segmento deve crescer a um percentual anual de 7%. Isso significa dizer que, em 10 anos, o volume de atividades do setor terá dobrado de tamanho, aponta Leandro de Lemos, professor de Economia da PUCRS e doutor em Turismo, que coordenou no Estado o Inventário da Oferta Turística (Invtur) realizado pelo Ministério do Turismo de 2005 a 2007.
Mas a temporada de boas notícias deve desembarcar em terras brasileiras muito antes do fim da próxima década. De acordo com o diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes, os dados acumulados ao longo deste ano permitem afirmar que o verão de 2011 será de bons negócios.
Para se ter uma ideia, desde julho, o número de desembarques nacionais ultrapassa a casa dos 6 milhões por mês. Entre janeiro e setembro, a quantidade de brasileiros que viajaram pelo país também teve um impulso significativo: 23% (veja quadro) em relação ao mesmo período do ano passado. "Esses números nos apontam um crescimento expressivo, que deve ficar em torno de 10% no ano caso o atual ritmo se mantenha, e um verão bastante bom", avalia Lopes.
Dados da maior operadora de turismo do país, a CVC, confirmam a previsão de uma temporada de férias muito movimentada: entre dezembro e início de março de 2011, a empresa terá 2.660 voos fretados para destinos dentro e fora do Brasil ; uma média de 200 voos fretados por semana. O volume é 25% superior a igual período do ano anterior. Serão mais de 700 mil pacotes em roteiros aéreos, rodoviários, rodoaéreos e marítimos.
O cenário positivo para a realização de viagens vem comandado pelo crescimento de renda e pela facilidade de crédito. Ações do governo também visam a implementação de novas rotas, para fazer com que se tenha cada vez mais brasileiros viajando.
"A estratégia é diversificar o turismo brasileiro, aproveitando as particularidades de cada região", adianta Lemos.
Entre as áreas com grande potencial de crescimento está o chamado turismo receptivo ; dedicado ao recebimento de viajantes que vêm de outros Estados e também de outros países. Mas, para que toda a capacidade de expansão se concretize, há a necessidade de investimentos tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada, observa a diretora da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) e conselheira da entidade regional, Carmen Marun. A qualificação ainda é uma das principais carências que precisa ser revertida para que a Copa do Mundo e a Olimpíada possam ter o efeito positivo desejado, de divulgação dos destinos brasileiros no Exterior.
"Se for bem explorado durante os jogos, o setor pode crescer ainda mais depois, até porque a infraestrutura preparada para o evento deve facilitar a vida do turista", acrescenta Carmen.
Um exemplo vem da própria capital gaúcha: em cinco anos, a oferta de leitos nos hotéis, segundo Lemos, deve crescer 50%, tanto em redes de luxo quanto em outras, mais econômicas, incluindo também os albergues e os chamados bed and breakfast.
Roteiros fora do comum
Com a paixão pelas viagens cultivada ao longo dos últimos 20 anos, o casal Valéria, 64 anos, e Jorge Homero Coelho, 65 anos, permite-se a busca por roteiros que fujam do tradicional. Com carimbos no passaporte que incluem EUA, Europa, Caribe e Ásia, os dois partem no próximo domingo para uma viagem de 17 dias ; na companhia de um casal de amigos ; com paradas em Atenas, Istambul, Cairo e Jerusalém. "Nos atrai conhecer culturas diferentes", explica Valéria.
Com a economia em um bom momento, o dólar favorecendo roteiros fora do país e a globalização de destinos, ela acrescenta já perceber "uma dificuldade de marcar passagem e hotel". "Hoje, está bem mais fácil conhecer lugares novos. Há mais de 10 anos, quando estivemos na Rússia, até a comunicação era difícil", conta.
Com três filhos, os Coelho já realizaram viagens em família e devem transmitir o gosto pelo turismo às duas netas, com quem já se comprometeram a fazer um passeio para a Disney.
Viajando juntos há 29 anos, o casal de médicos Marluce e Carlos Kalakun carrega na bagagem mais de 70 países. Entre os últimos destinos, estão Vietnã, Butão, Nepal e Índia. Agora, preparam-se para a ida ao Irã e outros três destinos, em fevereiro. "Atualmente, buscamos países que tenham história e cultura instigantes e, antes de viajar, lemos tudo o que for possível sobre a política, economia e a história do local", diz Carlos.
Nas últimas viagens o casal formou um grupo de pessoas com os mesmos interesses, e juntos eles têm decidido o destino, e trocado leituras e conhecimentos. "A viagem em grupo é mais barata, o que torna os destinos mais inusitados acessíveis", diz Carlos.