Jornal Correio Braziliense

Economia

Ritmo de entrega de moradias deve ficar mais lento em 2011

Falta de mão de obra e custos altos atingem os empreendimentos da área da Construção Civil

Empresários do segmento imobiliário estão cautelosos. Mutuários poderão ser prejudicados pela demora
O estreitamento dos gargalos produtivos começou a enfraquecer o ritmo de expansão da construção civil e já afeta o otimismo dos empresários do setor, cada vez mais pressionados pela elevação de custos e falta de mão de obra qualificada. Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), mostra que, ao contrário do que ocorreu este ano, 2011 deve começar com uma desaceleração. Os efeitos da piora já aparecem para o consumidor. Várias construtoras ampliaram os prazos de entrega de imóveis, prevendo atrasos na conclusão das obras.

O indicador das expectativas para os próximos seis meses passou de 65,3 pontos em setembro para 60,8 pontos em outubro, em uma escala que vai de 0 a 100. Pela metodologia da pesquisa, valores acima de 50 indicam perspectiva positiva. ;O ritmo ainda está acelerado e as projeções estão boas, mas é natural que o boom ocorrido no primeiro semestre acabe derrubando um pouco a confiança futura, porque o próprio aquecimento eleva os custos de produção;, avaliou o gerente executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

Encarecimento
O economista explica que outros pontos abordados na sondagem, como a situação financeira dos empresários e os planos para a contratação de empregados, também sugerem a piora nas condições do setor. ;O que sentimos nas respostas é que aumentaram os custos de mão de obra e insumos, problema que já havia sido detectado, mas também ouvimos relatos de maior competitividade entre as companhias, o que talvez indique que a demanda esteja diminuindo;, comentou. Para ele, as dificuldades não chegam a travar o setor, mas tornam as obras mais caras e mais demoradas.

A falta de trabalhadores qualificados é apontada por 64% dos entrevistados como o principal entrave ao desenvolvimento da atividade, sobretudo nas grandes companhias, onde o nível de tecnologia e profissionalização é maior. O alto custo da força de trabalho disponível também aparece entre os maiores gargalos. ;O empresário acaba tendo que escolher entre arcar com a qualificação do funcionário ou esperar até que ele esteja melhor preparado e, nesse caso, pagar um salário maior;, afirmou Fonseca.

Enquanto o pouco preparo dos trabalhadores afeta os grandes construtores, a dificuldade de acesso ao crédito atrapalha os menores, que, na visão da CNI, têm problemas para conseguir financiamento até mesmo para o capital de giro.

No recorte por segmento, os indicadores pioraram com mais intensidade nas expectativas da construção de edifícios (de 65,3 para 59,8 pontos) do que na construção pesada (de 61,0 para 57,9 pontos). ;De qualquer maneira, o incremento da infraestrutura vai acontecer, porque os eventos esportivos agendados para os próximos anos nos dão uma data limite para entregar essas obras;, lembrou.