Com o objetivo de tornar mais eficiente o consumo de eletricidade e o uso das redes de transmissão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deu o primeiro passo para implementar as redes inteligentes, conhecidas como smart grids. O órgão regulador vai obrigar as distribuidoras a trocar os atuais medidores mecânicos de energia por novos marcadores eletrônicos. A proposta, que está em audiência pública até dezembro, deve fazer com que 63 milhões de aparelhos sejam substituídos nos lares e comércios de todo o país nos próximos anos.
Tanto os usuários como as concessionárias do setor vão se beneficiar da iniciativa, pois terão acesso a informações em tempo sobre o consumo de energia. Será possível estabelecer uma comunicação entre a central de distribuição de eletricidade e a residência do usuário, nos dois sentidos. ;Dessa maneira, quando houver um problema na oferta de energia na casa do usuário, uma informação é transmitida automaticamente para a empresa, sem que seja necessário que se solicite o reparo por telefone;, explica Carlos Ramon, gerente geral de novos negócios da Silver Spring, empresa especializada no desenvolvimento de redes inteligentes.
Além disso, as tradicionais visitas de funcionários das distribuidoras às casas dos clientes para a realização de leitura do consumo terão fim. Com a tecnologia, a medição será feita de forma remota pela empresa. Segundo Ramon, a comunicação entre o domicílio e a companhia pode se dar de duas maneiras: por meio de radiofrequência (ideal para centros urbanos) ou dos cabos de transmissão de energia (preferível para áreas remotas, como as zonas rurais). O aparelho registrará também as falhas do sistema, indicando quantas vezes e por quanto tempo o fornecimento foi interrompido num determinado período. Assim, o usuário saberá o valor do desconto a que tem direito na conta.
Tarifas
O superintendente de Regulamentação de Distribuição da Aneel, Paulo Henrique Silvestre, argumenta que, com o aumento do poder aquisitivo da classe C, o consumo de energia no país tem crescido a uma taxa de 8% por ano, tornando ainda mais necessária a modernização do sistema. ;É importante que a concessionária faça uma gestão otimizada da oferta de eletricidade para que a energia seja distribuída de melhor forma e haja menos perdas;, opina.
Para estimular o uso consciente do consumidor, o governo vai criar tarifas diferenciadas para determinados horários ; mais altas nos períodos do dia de maior demanda e menor em horas com pouca intensidade de uso ;, como já ocorre com o serviço de telefonia. Com o medidor eletrônico, o cliente conseguirá, então, verificar quanto está pagando pela energia a cada momento e, desse modo, poderá programar a utilização dos equipamentos que mais consomem energia elétrica para os períodos de preço baixo.
;Uma pessoa terá a possibilidade de programar, por exemplo, uma máquina de lavar para funcionar somente de madrugada, quando a tarifa é mais em conta. Se ela adotar esse tipo de comportamento, o risco de sobrecarga do sistema de transmissão nos horários de pico será reduzido. Isso significa menos investimentos na manutenção das redes e, consequentemente, um ajuste para baixo no valor das tarifas, o que poderá reduzir a conta de luz no fim do mês;, acredita Silvestre.
Segundo Welson Jacometti, presidente da CAS Tecnologia, empresa especializada do setor de tecnologia, em países onde começaram a ser implementados sistemas inteligentes de energia, a economia na conta de luz dos usuários chegou a 35%. Nos Estados Unidos, estados como Texas e Ohio preveem que estarão com 100% dos municípios cobertos pela solução em três anos. O presidente Barack Obama tem especial interesse nessa modalidade de aferição do consumo. Segundo o Instituto de Pesquisa de Energia Elétrica (EPRI, na sigla em inglês), a utilização de redes inteligentes em todo os EUA poderá reduzir em até 4% o uso da eletricidade. Isso significaria uma economia anual de US$ 20,4 bilhões para as empresas e os consumidores norte-americanos.
No Brasil, dois projetos pilotos estão sendo implementados. No Rio de Janeiro, a Light já tem 60 mil relógios eletrônicos em funcionamento em sua área de atuação e espera instalar outros 40 mil até o fim do ano. Por enquanto, eles ainda não conversam com a central. A previsão da distribuidora é que aproximadamente 500 mil novos medidores estejam em funcionamento até 2013. A Cemig, distribuidora de Minas Gerais, vai pôr a tecnologia à disposição de 2 mil consumidores de Sete Lagoas, município a 70km de Belo Horizonte. Juntas, as empresas vão investir R$ 65 milhões.