Jornal Correio Braziliense

Economia

Sites que dão empréstimos pela internet chegam ao Brasil

Mas o Banco Central alerta que eles estão fora da lei

Os altos juros cobrados por cartões de crédito e cheque especial estão fazendo com que pessoas em busca de empréstimo rápido busquem sites de relacionamento que oferecem taxas mais baixas do que as realizadas pelo mercado. A ideia é simples: reunir num único lugar um cadastro com o perfil de várias pessoas que estão precisando de determinada quantidade de dinheiro. Desse modo, emprestadores escolhem a quem estão dispostos a oferecer seus recursos, cobrando juros menores dos que os das instituições financeiras. A atividade, recente no Brasil, parece ser vantajosa. Mas tanta facilidade pode ter um custo alto, já que o Banco Central alerta que essas redes sociais agem à margem da legislação.

Elas não estão credenciadas como instituições financeiras, diz o BC. É o caso do site Fairplace (www.fairplace.com.br), lançado há seis meses no país e que já conta com 14 mil pessoas cadastradas. A intenção é colocar milhares de indivíduos em contato. A rede social reúne pessoas interessadas em tomar recursos com outras interessadas em emprestar dinheiro. O principal motivo para que alguém ofereça dinheiro na internet é o lucro: um empréstimo de risco médio para outra pessoa garante um retorno de cerca de 3,2% ao mês em juros, algo que chega a ser mais vantajoso do que a poupança, o CDB e outros investimentos de renda fixa, aplicações que não pagam nem 1% ao mês.

Cadastro
Para conseguir um empréstimo que pode chegar a R$ 5 mil, o interessado deve preencher um longo cadastro em que informa seus dados pessoais e financeiros. Com as informações em mãos, o site pesquisa o histórico de cada candidato e o classifica numa escala de maior ou menor risco. A avaliação é feita pela empresa especializada em crédito Serasa Experian. O diferencial é que as taxas cobradas dos tomadores de crédito são decididas por meio de um leilão promovido pelos emprestadores. ;Isso gera uma competição entre quem quer emprestar o dinheiro, fazendo com que as menores taxas sejam escolhidas;, explicou o diretor do site, Eldes Mattiuzzo.

Entre o cadastro e a liberação do empréstimo, há um prazo médio de 18 dias. Mattiuzzo afirma que o site incentiva o investidor a distribuir o dinheiro que deseja emprestar entre vários tomadores para diminuir o risco de calote. ;Não damos garantia nenhuma;, lembra. ;Apenas facilitamos o encontro entre as pessoas.;


Usuários reclamam

Para o Banco Central, esse tipo de atividade é ilegal e tem gerado vários questionamentos de consumidores, uma vez que os sites realizam empréstimos, mas não são credenciadas como instituições financeiras. Dessa maneira, toda operação que é feita por meio da rede de relacionamento acaba sem ser fiscalizada por um órgão competente.

A página de suporte do site deixa claro que a empresa não é regulada pelo Banco Central ou pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). ;Trata-se de uma sociedade prestadora de serviços de intermediação e captação de empréstimos entre particulares por meio virtual;, diz. ;A Fairplace não faz qualquer tipo de concessão direta de empréstimos ou financiamentos. Apenas usamos nossa plataforma na internet para reunir as pessoas interessadas no negócios;, argumenta Mattiuzzo.

Mas o que o site ganha, então, promovendo esses encontros? A cada parcela recebida pelo emprestador, 2% ficam com o Fairplace. Já quem recebe o empréstimo tem que pagar uma comissão de 5% em um ano ou 8% em dois anos. Questionado sobre se a rede social pratica uma espécie de agiotagem dos novos tempos, Mattiuzzo foi incisivo. ;De acordo com a lei, agiotagem é praticar juros acima do mercado. Nossa intenção é justamente a inversa, já que queremos reduzir as taxas para as pessoas que estão atrás de dinheiro;, aponta.

Em seis meses de vida, o site já mediou a negociação de 410 empréstimo que atingiram a marca de R$ 1,6 milhões. Além do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), o Correio procurou os Procons de Brasília e de São Paulo para levantar se houve queixas anotadas até o momento contra o site e os órgãos disseram que nada foi registrado. No entanto, recomendaram que os usuários tenham cautela com as promessas de juros muito baixas e que leiam com atenção os contratos firmados.