Jornal Correio Braziliense

Economia

Reunião ministerial do G20 em Seul marcada pela 'guerra cambial'

Seul - Os ministros das Finanças do G20 vão avaliar neste fim de semana na Coreia do Sul a situação da economia mundial com um debate sobre a reforma do FMI e do sistema financeiro, tendo as tensões criadas pela "guerra cambial" como pano de fundo.

Enquanto o mundo ainda luta para sair da crise de 2008/2009, a Coreia do Sul apresenta no encontro a pretensão de criar um mecanismo de proteção do sistema financeiro mundial, com o objetivo de resguardar os mercados emergentes dos sobressaltos provocados por mudanças bruscas nos fluxos de capital.

Reunidos em Gyeongju (sudeste), os ministros vão avaliar o estado de saúde da economia mundial e discutirão a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) para reforçar a posição dos países emergentes, assim como as regulamentações financeiras.

A Coreia do Sul também quer que o tema do desenvolvimento ocupe um lugar importante pela primeira vez na agenda do G20.

Apesar desses projetos louváveis, a reunião na pequena cidade costeira deve ser dominada pela "guerra cambial" - uma questão que preocupa cada vez mais os principais atores econômicos mundiais.

O problema das taxas de câmbio não é "um duelo de western", afirmou o ministro sul-coreano das Finanças, Yoon Jeung-Hyun.

"A Coreia do Sul vai salientar que uma guerra cambial equivale a uma destruição mútua da economia e pressionará a favor de um compromisso", indicou um funcionário sul-coreano, que não quis se identificar, citado pela agência local Yonhap.

O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, que cunhou o termo "guerra cambial", não participará da reunião, informaram nesta quarta-feira (20/10) fontes oficiais à AFP.

O grande centro de todo esse debate é a cotação do iuane, a moeda chinesa, que, segundo os Estados Unidos e outras potências ocidentais, está desvalorizado para sustentar as exportações do gigante asiático, o que afeta a balança comercial desses países com a China.

Por sua vez, a China respondeu na última semana acusando os Estados Unidos de jogar as próprias dificuldades econômicas internas.

Na terça-feira, o Banco Central chinês subiu os juros pela primeira vez em três anos, em uma decisão que surpreendeu os mercados e provocou uma subida imediata do dólar.

Mas a alta dos juros pode atrair capitais especulativos à China em busca de mercados com bom rendimento, o que complicaria os esforços de Pequim para evitar um aumento da cotação do iuane em relação ao dólar americano.

Enquanto isso, as vozes de advertência contra as consequências nefastas da "guerra cambial" multiplicam-se.

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, criticou nessa terça-feira a "busca de lucros individuais a curto prazo".

A advertência de Lamy soma-se à formulada nessa segunda-feira pelo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que pediu para que seja mantido o espírito de cooperação, "sem o qual a recuperação está em perigo".

Para o especialista Yoon Deok-Ryong, pesquisador do Instituto coreano de Política Econômica Internacional, será difícil chegar a um acordo final na reunião ministerial de Gyeongju.

"Entretanto, pode haver um acordo para que os participantes se abstenham de tomar medidas que possam envenenar a situação até a próxima cúpula do G20, prevista para 2011 na França", estimou.