A partir do ano que vem, as instituições financeiras do país passarão a ter o seu desempenho socioambiental avaliado. Contratada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) prepara um sistema de indicadores que permitirão o monitoramento permanente da atuação dos bancos públicos e privados nessa área. Receberão melhores cotações as instituições que deixarem de conceder crédito, por exemplo, a desmatadores e empresas que utilizam trabalho escravo. A iniciativa está entre os compromissos assumidos no Protocolo Verde, documento formulado após consultas às instituições coordenadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
;Vários bancos já participam dos indicadores de sustentabilidade da bolsa de valores. A ideia agora é impulsionar o setor financeiro como um todo;, disse ao Correio o diretor de Relações Institucionais da Febraban, Mário Sérgio Vasconcelos. Segundo ele, houve consenso entre as próprias instituições de que seria importante o desenvolvimento de parâmetros para acompanhar seu desempenho socioambiental. O conjunto de indicadores está disponível para consulta pública no site da federação. ;Será um avanço muito forte;, ressaltou Vasconcelos.
Para o especialista em políticas públicas do MMA Gustavo Oliveira dos Anjos, na avaliação dos indicadores serão destacados alguns critérios, como: se a instituição concede benefícios (taxas de juros menores) para empresas que utilizam tecnologias mais limpas, se faz exigências socioambientais na análise dos riscos de quem pede o crédito e se desenvolve políticas internas de sustentabilidade. ;Essa iniciativa vem para responsabilizar as instituições financeiras pela criação de um sistema produtivo mais sustentável;, explicou.
A proposta de indicadores da FGV será apresentada às instituições em 4 de novembro, no Banco Central, durante a 2; reunião do fórum dos bancos pela responsabilidade socioambiental. Depois de revisada, os questionários serão encaminhados às instituições. A previsão é que a avaliação dos indicadores seja divulgada no primeiro trimestre de 2011.
Análise
A utilização de critérios verdes no processo de concessão de crédito já é uma prática dos bancos Santander e Caixa. (1);Além de fatores como o caixa da empresa e a posição dela no mercado, levamos em conta a variável socioambiental no cálculo do risco do financiamento;, disse o superintendente da área de Análise de Risco Socioambiental do Santander, Cristopher Wells.
No cálculo do risco embutido em uma operação de crédito, o banco espanhol avalia, por exemplo, se a empresa está situada ou possui um terreno contaminado. Isso poderia acarretar multa ambiental, o que seria um gasto a mais para a empresa e, portanto, aumentaria as chances de inadimplência. Mas esse critério, embora possa causar impacto nos juros cobrados no empréstimo, não é necessariamente um fato de exclusão da companhia da carteira de clientes do banco. Já questões como trabalho escravo e desmatamento são razões consideradas suficientes para que um financiamento não seja concedido.
;Tivemos 54 empresas e projetos recusados desde 2008, por causa de incidência na operação da empresa de fatores como trabalho escravo e desmatamento;, afirma Wells. Segundo o executivo, o Santander analisa o risco do crédito de cerca de 3 mil empresas ao ano e em 5% dos casos (150 companhias) o empréstimo é aprovado com condicionantes.
Entre os bancos públicos, a Caixa está em processo mais avançado de incorporação de critérios verdes em suas operações. De junho de 2008 até hoje, 172 empresas foram analisadas do ponto de vista socioambiental, resultando em um total emprestado de R$ 23 bilhões. Todas as empresas de médio e grande porte que almejam financiamentos iguais ou superiores a R$ 10 milhões são obrigadas a passar por essa análise.
1 - Certificação
Nos empreendimentos habitacionais, a Caixa averigua se há contaminação no terreno, exige a documentação de origem da madeira e concede uma certificação às construções ambientalmente corretas. Além disso, o banco estatal oferece incentivos na linha de crédito para o financiamento de máquinas e equipamentos, com taxas menores para atividades que melhorem a ecoeficiência nos processos produtivos.