Genebra - Brasil, China e União Europeia pressionaram os Estados Unidos nesta quarta-feira (29/9) a mostrar mais compromisso nas conversas da OMC sobre acordos de livre comércio global, em meio a preocupações sobre uma menor liderança dessa potência econômica mundial.
"Muitos membros enfatizaram que, nas negociações da Rodada de Doha, particularmente nos últimos dois anos, os EUA parecem ter dado um passo atrás em seu papel de liderança", disse o embaixador chinês Sun Zhenyu, durante uma revisão das políticas de comércio de Washington na Organização Mundial do Comércio.
Enquanto pedem aos países desenvolvidos que façam mais ofertas para chegar a um acordo, os Estados Unidos "falharam em indicar como melhorariam sua própria oferta em questões relativas aos países desenvolvidos", disse Sun, fazendo eco às preocupações do Brasil.
A União Europeia também pediu aos Estados Unidos que abordem a questão, "inclusive fazendo mais contribuições sozinhos" nas negociações e "sendo mais realistas em relação ao que pedem aos outros".
"Os EUA eram liderança entre aqueles que reconhecem o valor de uma ordem aberta e regulada do comércio internacional", disse John Clarke, que lidera a delegação europeia em Genebra.
"Recentemente, no entanto, vimos alguns sinais de que esse compromisso e vontade de liderar pode estar diminuindo. Isso é uma preocupação", disse, durante a reunião da OMC.
Além das conversas sobre Doha, Washington foi alvo de críticas por conta de diversas medidas protecionistas e pela situação do dólar.
"Nós estamos muito preocupados sobre como os EUA vão fazer para tomar medidas práticas e responsáveis para evitar o excesso de dólares (no mercado) e manter a sustentabilidade da moeda", disse Sun.
As políticas agrícolas de Washington eram outro ponto de preocupação, com o secretariado da OMC pedindo cortes nos subsídios, indicando que o apoio para o setor é "considerável" e que afetam os preços do mercado.
Em um relatório sobre as políticas de Washington desde 2007, a OMC afirma que enquanto os EUA impulsionam as exportações, deveriam também reduzir "medidas de distorção, inclusive, apoios para a agricultura".
A OMC lembra que o apoio bilionário dado em 2008 ao setor está principalmente ligado "aos preços e à produção".
"O tamanho do setor agrícola significa que o volume absoluto do apoio é considerável, varia de um ano para o outro, dependendo dos preços, e podem afetar os preços mundiais", completou.
O Brasil também criticou as políticas americanas para as fazendas.
"A agricultura representa apenas 0,8% da economia americana e emprega apenas 1,4% da força de trabalho" no país, afirmou Roberto Azevedo, enviado brasileiro à OMC.
"No entanto, esse setor dispõe de um arsenal considerável de medidas restritivas e distorções no comércio" internacional, completou.
Azevedo disse que a maior parte dos subsídios é concentrada nas safras de algodão, soja e arroz.
"Quando os preços voltarem a cair, esses subsídios serão retomados, precisamente no momento em que provocarão maiores distorções e mais danos para os produtores dos outros países", declarou.
Os subsídios agrícolas americanos são ponto-chave nas discussões sobre a Rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial.