Jornal Correio Braziliense

Economia

Emprego na indústria segue retomada e deve reaver o nível anterior à crise

As áreas mais dinâmicas são a fabricação de borracha, o refino de petróleo e a comunicação

Dois anos depois do recrudescimento da crise econômica global, o emprego na indústria brasileira avança na direção de retomar o nível registrado em setembro de 2008, quando houve recorde na criação de vagas. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 68,7% das fábricas brasileiras têm hoje quantidade igual ou superior de funcionários do que no período anterior à recessão. Dos 27 segmentos pesquisados, 13 têm mais contratados do que na véspera do estouro da bolha. Os destaques são as áreas de fabricação de borracha, refino de petróleo e comunicação.

;Pode-se considerar que, na média, o emprego na indústria está recuperado;, garante o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Sérgio Mendonça confirma o rápido ressurgimento. ;Na época da crise, falava-se que a retomada ocorreria em meados de 2011, mas os números atuais indicam que isso pode ocorrer antes, talvez até o último trimestre deste ano;, sugere.

O economista Rogério de Souza, do Instituto de Estudos Para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi) concorda: ;Apesar da desaceleração produtiva entre abril e junho, o emprego continuou a crescer. Se mantiver as taxas atuais, é provável que até o fim do ano a mão de obra industrial esteja completamente recuperada;.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ocupação na indústria ficou, em julho deste ano, 1,9% abaixo da registrada em setembro de 2008. A pesquisa, entretanto, indica tendência positiva já que, no acumulado dos sete primeiros meses de 2010, o número de empregados no setor cresceu sucessivamente e gerou uma alta de 3,3%. O ritmo de contratações tem tudo para continuar a crescer, mesmo que de forma mais lenta, principalmente até outubro, período no qual alguns segmentos aceleram a produção para as vendas de Natal.

Impulso
Enquanto o emprego levou quase dois anos para reagir, a produção, que sofreu um tombo de 20,6% no último trimestre de 2008, recuperou o nível de volume produzido antes da crise em março de 2010, após registrar um pequeno crescimento (0,3%) já em janeiro. O impulso, nesse caso, veio da forte expansão econômica.

Na avaliação de Fernando Abritta, economista do IBGE, o emprego costuma responder mais lentamente, tanto no caso de aumento como na queda do ritmo de atividade. ;Além disso, as indústrias podem otimizar o serviço e produzir mais com uso de tecnologia, sem necessariamente contratar;, explica.

Os resultados por região são igualmente expressivos, segundo o levantamento. Nove das 14 localidades pesquisadas pelo IBGE superaram a produção de setembro de 2008. Além disso, a produção em julho de 2009 foi superior em 11 dos 29 segmentos aferidos pelo instituto, com destaque para a indústria de bebidas (20%) e de alimentos (8,3%).

Aquecimento
Sérgio Mendonça, do Dieese, atribui o bom desempenho da indústria da alimentação ao aquecimento do mercado interno, que foi capaz de manter alta a demanda ao segmento. Já o economista Fábio Romão, da consultoria LCA, prevê que o emprego na indústria continuará a crescer, porém em um ritmo menor que o dos últimos meses. Um indício desse arrefecimento veio com a divulgação da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), segundo a qual o estoque de profissionais ocupados em agosto na indústria cresceu 2,9%, ante os 7,1% registrados em julho. ;A desaceleração pode estar ligada ao fato de a indústria, na maioria de seus subsetores, já ter recomposto as perdas motivadas pela crise.; (Colaborou Victor Martins)

Na frente

Segmentos que lideram

Setor - Índice*
Borracha - 62,5
Refino de petróleo - 59,4
Material eletrônico e de comunicação - 58,9
Indústrias diversas - 56,8
Equipamentos hospitalares - 54,5
Têxteis - 54,4
Limpeza e perfumaria - 53,8
Papel e celulose - 53,3
Bebidas - 53,1
Minerais não metálicos - 52,7
Plástico - 52,5
Vestuário - 51,9
Metalurgia básica - 51,4
Farmacêuticos - 50,0
Outros equipamentos de transporte - 50,0
Máquinas elétricas - 48,8
Edição e impressão - 48,4
Veículos automotores - 47,5
Produtos de metal - 46,7
Máquinas e equipamentos - 46,3
Alimentos - 45,7
Química - 45,5
Calçados - 45,2
Indústrias extrativas - 44,4
Móveis - 39,6
Madeira - 38,2
Couros - 37,5

Fonte: CNI
* Valores acima de 50 significam que a situação atual é melhor do que antes da crise. Valores abaixo de 50 mostram piora nas condições.