Jornal Correio Braziliense

Economia

Banco Central muda cálculo de média da compra e venda do dólar

No momento em que o governo discute medidas para evitar que o dólar derreta no mercado diante da avalanche de recursos para a capitalização da Petrobras, o Banco Central anunciou ontem que haverá mudanças no cálculo da Ptax, taxa divulgada diariamente no fim do dia, e que é uma média das cotações de compra e venda da moeda norte-americana no mercado à vista.

Segundo o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, a Ptax deixará de ser uma média ponderada pelo volume de operações para ser uma taxa de referência do mercado em cinco momentos distintos. A nova metodologia só entrará em vigor em julho de 2011 e o objetivo, de acordo com Mendes, é que a taxa seja mais representativa do que ele classificou de ;mercado verdadeiro de câmbio;.

Com a mudança, o Banco Central quer tornar mais eficaz sua atuação no mercado de câmbio à vista, que, segundo o diretor do BC, é pouco representativo em termos de volume de operações. ;O mercado futuro tem muito mais liquidez;, reconheceu Mendes. Um dos motivos para isso, segundo ele, é que, como a Ptax hoje só é divulgada uma vez por dia, no fim da tarde, os bancos procuram se proteger, casando suas operações no mercado futuro, que hoje transaciona um volume seis vezes maior do que o mercado à vista, estimado em US$ 2 bilhões por dia.

Eficiência
O Banco Central quer tornar mais eficaz a sua atuação nesse mercado. Para que isso aconteça, o BC espera, com a nova metodologia, que esse mercado ganhe volume. Mendes explicou que a nova metodologia será semelhante à do cálculo da Libor, a taxa de juros do mercado inglês, com cinco divulgações ao longo do dia, concentradas no período das 10h às 13h. A última divulgação da taxa, em torno das 13h10 de cada dia, já conterá uma média das quatro divulgações anteriores.

Para a nova Ptax, o BC fará uso das informações repassadas pelos dealers, um conjunto de 14 instituições autorizadas a operar com câmbio em nome do BC. As operações dos dealers representam mais de 90% das operações do mercado como um todo. Para evitar distorção, o BC expurgará, das informações repassadas, os extremos estatísticos, ou seja, as duas taxas mais altas e as duas mais baixas. Outro filtro é o sistema interno do próprio BC, que continuará acompanhando o movimento das taxas no mercado.

;A Ptax será mais real. Pretendemos chegar o mais próximo possível do que é a taxa de mercado;, disse Mendes. Uma das consequências da alteração, segundo o diretor do BC, é que as operações de câmbio terão uma concentração maior na parte da manhã.

Crise afeta indústrias
Victor Martins

A crise financeira que abalou o mundo a partir da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, ainda não acabou. Ao menos para quase 60% das indústrias do país, os efeitos danosos do período continuam a afetar fortemente o faturamento. As micro e pequenas empresas são as que apresentam maior dificuldade para sair do prejuízo. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), não é possível saber quando o setor estará completamente recuperado. Dos 27 segmentos avaliados pela entidade, cerca de 74% ainda não superaram todos os problemas.

As dificuldades são mais graves, segundo uma sondagem especial da CNI, para os industriais das áreas de calçado, couro, madeira e móveis. ;São os que estavam com problemas antes da crise e agora estão ainda piores;, avaliou Flávio Castelo Branco, gerente executivo da Unidade de Política Econômica da entidade. Nessa comparação entre antes e depois da turbulência financeira, somente sete segmentos se apresentam como recuperados e em um patamar superior ao de setembro de 2008: refino de petróleo, limpeza e perfumaria, papel e celulose, equipamento hospitalar e de precisão, material eletrônico e de comunicações, bebidas e borracha.

Um dos problemas que têm amarrado os industriais está no acesso ao crédito. De todos os entrevistados na pesquisa, 35% informaram que obter um financiamento está mais difícil do que antes da crise. ;O acesso ao crédito é determinante para a realização de investimentos, eles estão intimamente ligados;, explicou Branco. Com isso, 21% das empresas não retomaram os investimentos cancelados pela crise e outros 27%, que voltaram a aplicar recursos no negócio, o fizeram em um volume bem reduzido.

A demanda externa tornou-se também uma barreira para o crescimento. A maioria dos exportadores, 51% deles, afirmam que neste ano o comércio com estrangeiros está pior que no período da crise financeira.