Jornal Correio Braziliense

Economia

Compra de queijos estrangeiros aumenta 93% e preocupa produtores

A invasão estrangeira de leite e derivados já preocupa os produtores do país. As importações de lácteos comparadas com as de exportações apresentaram um saldo negativo de US$ 87,9 milhões na balança comercial de janeiro a julho de 2010. A entrada desses produtos no Brasil cresceu 17,8% nos sete primeiros meses do ano, segundo o Ministério da Agricultura. Entre os derivados, o ingresso de queijo aumentou 93% e o de soro de leite 41,5%.

Desde 2009 o mercado de lácteos sofre perdas. Depois de registrar um saldo positivo de mais de US$ 328 milhões em 2008, a crise internacional afetou as exportações. No ano passado, as receitas ficaram no vermelho em um total de US$ 99,3 milhões. Na avaliação do presidente da Comissão de Leite da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Rodrigo Alvim, a forte presença de importados no mercado brasileiro é consequência da política cambial, já que o Brasil é autossuficiente na produção desde 2001.

O integrante da CNA acredita que o real está sobrevalorizado, o que encarece o produto nacional no mercado externo e facilita a importação. Outro ponto que pesa sobre os produtores, na opinião de Alvim, é o alto valor dos impostos que se traduz em mais despesas. ;Existe o interesse de algumas indústrias em comprar leite de outros países. Supermercados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul já compram o leite UHT (de caixinha) do Uruguai;, disse Alvim.

Safra
O clima será o fator que vai decidir os rumos do mercado de lácteos em 2010. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP) indica que o fenômeno La Niña deve prolongar o período de seca e estiagem no país até outubro e adiar o início da safra. As pastagens ruins podem diminuir a expectativa de aumento de 5% na produção em comparação com o ano passado. O Brasil produziu 26,7 bilhões de litros de leite em 2009, segundo estimativa da CNA. A solução para amenizar perdas com problemas climáticos seria o investimento na compra de rações.

Entretanto, o assessor técnico da CNA, Bruno Lucchi acredita que a queda de 13,35% no preço pago ao produtor de maio a agosto, aumentaria ainda mais as despesas dos empresários que estão sem capital de giro. A forte seca na Rússia também elevou o preço do trigo, cereal que é base do suplemento para o gado.

Tudo isso faz com que o valor pago pelo consumidor por alguns lácteos já supere a inflação de 3,14% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, de janeiro a agosto de 2010. O preço do leite pasteurizado, por exemplo, subiu 13,47% ; quatro vezes mais ; e do leite em pó, 6,46% no acumulado dos oitos primeiros meses, de acordo com o IPCA. Na avaliação do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, a falta de chuvas vai impactar as despesas dos produtores, que precisarão comprar ração para engordar o gado.