Jornal Correio Braziliense

Economia

Japão intervém no mercado de câmbio para frear disparada do iene

O Japão interveio nesta quarta-feira (15/9) no mercado de câmbio pela primeira vez em seis anos, com o objetivo de frear a disparada do iene, que na terça-feira alcançou a cotação mais alta em relação ao dólar desde maio de 1995, em uma demonstração de força do primeiro-ministro, Naoto Kan.

Yoshihiko Noda, ministro japonês das Finanças, explicou que a recente apreciação do iene estava provocando "uma desestabilização da economia e das finanças" do país, algo "intolerável" pelas autoridades.

O iene não parou de subir nas últimas semanas, até alcançar o maior nível em 15 anos frente ao dólar - e nove anos em relação ao euro.

A moeda japonesa é objeto de compras em massa, em parte especulativas, estimuladas pelas incertezas da conjuntura ocidental.

O iene regitrou uma queda logo após a intervenção do governo japonês, permitindo que o valor do dólar retornasse a um patamar superior aos 85 ienes (e o euro, a 110 ienes).

A Bolsa de Tóquio, por sua vez, encerrou o pregão desta quarta-feira em forte alta, com o índice Nikkei ganhando 2,34%, a 9.516,56 unidades.

"Continuaremos observando o movimento do mercado e atuaremos com decisão, inclusive através de uma intervenção se necessário", afirmou Noda.

As autoridades japonesas subiram o tom nos últimos dias, dando a entender que interviriam para frear uma situação que prejudica os grandes exportadores do país e fragiliza o setor industrial.

O governo entrou em ação justamente depois da reeleição, na terça-feira, de Naoto Kan como presidente do Partido Democrata do Japão (PDJ), que derrotou Ichiro Ozawa, influente veterano da política japonesa.

Neste sentido, apoiado por sua ampla vitória, Kan demonstrou força aos círculos empresariais e financeiros, que há muito tempo pediam uma intervenção do governo para segurar a cotação da moeda nacional.

"O mais importante para o Japão é mostrar aos especuladores do mercado de câmbio que é possível tomar medidas para frear a alta do iene", comemorou o presidente da Bolsa de Tóquio, Atsushi Saito.

Para alguns analistas, o primeiro-ministro também enviou uma mensagem a Ozawa, defensor de uma rápida intervenção.

"Kan tem que negociar para obter o apoio dos amigos de Ozawa" e evitar uma ruptura no partido, detsacou o analista Richard Jerram, do gabinete de estudos econômicos Macquarie.

Além disso, Kan quer tranquilizar os japoneses sobre sua capacidade de iniciativa ao aprovar esta intervenção unilateral, levada a cabo sem que outros países fossem consultados.

Apresentando-se como um homem de ação, Kan quer tornar crível sua meta de "devolver a saúde ao país" a partir do emprego, num momento em que o Japão registra índice de desemprego de 5%, taxa elevada para seus padrões.