Os gastos desenfreados e não planejados do brasileiro fizeram do mês passado o agosto com maior expansão da inadimplência desde 2005. De acordo com a Serasa Experian, o avanço foi de 11,5% em comparação com igual mês de 2009. O calote foi puxado pelas prestações em atraso dos televisores de alta definição, comprados para a Copa do Mundo, e pelos presentes do Dia dos Pais. O indicador do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, divulgado na semana passada, está alinhado com a Serasa e também registrou alta no período, em um avanço de 3,71%.
Com o crédito fácil, quanto mais crescem as vendas, mais se eleva o número de maus pagadores. Segundo o Índice Nacional SCPC de Crédito ao Consumidor, da Associação Comercial de São Paulo, a oferta de financiamentos cresceu 10,5% em agosto. ;Isso faz com que os consumidores tornem-se mais predispostos a assumir compromissos a prazo;, explicou o economista-chefe da associação, Marcel Solimeo.
Na comparação entre julho e agosto, a quantidade de calotes também aumentou (1,8%). No levantamento da Serasa, as dívidas com cartões de crédito e financeiras figuraram como as campeãs e contribuíram em 2% para a formação da inadimplência. Os bancos ficaram em segundo lugar, com 0,6%. ;Não temos uma situação de pânico. A única coisa que constatamos é que o endividamento está crescendo. De acordo com o Banco Central, 35% do orçamento do brasileiro está comprometido com dívidas;, disse Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian. ;Agora, é preciso saber a qualidade desse endividamento. Temos de olhar o assunto com calma e monitorar.;
Sem fundo
A despeito do cheque estar caindo em desuso, o valor das dívidas (1) nessa modalidade de pagamento registrou alta explosiva. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, houve um incremento de 32,7%. ;Parte desse percentual foi puxado pelos micro e pequenos empresários que misturam as contas do negócio às pessoais;, justificou Almeida. Até agosto de 2010, o valor médio dos cheques sem fundos era de R$ 930,69. Em 2010, essa quantia passou para R$ 1.235,18.
Mesmo com a inadimplência em expansão, economistas e representantes do varejo não demonstram preocupação. Enquanto as vendas estiverem crescendo em ritmo mais elevado que a inadimplência e o mercado de emprego continuar forte, com escalada constante na renda dos trabalhadores, a quantidade de maus pagadores não se tornará um problema. ;Esses números vão dar uma aliviada no fim do ano, principalmente no último bimestre, com a chegada do 13; salário. As pessoas aproveitam o dinheiro extra para quitar dívidas em atraso;, disse Almeida.
Serviço
Segundo especialistas, deixar de ser inadimplente exige um controle severo dos gastos. O primeiro passo para limpar o nome é saber o tamanho da dívida e quem são os credores. Começar pelas contas maiores ou que têm juros elevados é a sugestão de economistas. ;Não é fácil, mas a única saída para quem quer se livrar dessas restrições é pagar a dívida;, afirmou o assessor econômico da Serasa.
Procurar os serviços ;Limpe seu nome;, na maioria dos casos, pode causar mais problemas do que apertar o orçamento e quitar a dívida. Em alguns casos, são quadrilhas com o objetivo de dar um golpe no consumidor. A Polícia Civil já desmanchou alguns desses grupos de estelionatários. No caso dos escritórios de advocacia que oferecem os serviços, não costuma haver esquema criminoso, mas levar as dívidas ao Judiciário pode ser arriscado. Se perder a causa, o consumidor tem de arcar, além dos débitos que já tinha, com as custas do processo. Na maioria das vezes, os tribunais têm dado razão aos credores.
1 - Portabilidade
O consumidor que está endividado e pagando juros elevados pode recorrer à portabilidade do crédito. Ou seja, ele tem a possibilidade de transportar seu saldo devedor para outro banco que aceite a operação e ofereça condições melhores. O cliente quita o débito com a instituição financeira original com recursos transferidos eletronicamente pela nova, que passa a ser a credora, nas condições negociadas com o devedor. Os custos dessa transferência não podem ser repassados ao cliente. Segundo analistas, essa é uma ótima opção para quem está enfrentando dificuldades para arcar com os encargos.