O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que a concorrência gerada pelas importações irá frear o apetite dos empresários brasileiros por aumentar os preços ao consumidor. ;As importações estão se intensificando e o que vem de fora toma o mercado daqueles produtos domésticos que não têm preço baixo o suficiente para concorrer;, afirma o coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, Roberto Messemberg. Por esta razão, o analista não acredita em repasse dos custos da produção nacional para os preços ao consumidor.
Além disso, Messemberg lembra que a própria entrada de bens de consumo no país, incentivada pelo dólar mais baixo para o brasileiro, também gera um efeito de barateamento nos preços. ;A inflação no atacado é medida, na verdade, pelas expectativas dos empresários em relação aos custos. Mas essa expectativa será freada na medida em que os próprios empresários percebam que os índices de inflação ao consumidor estão baixos;, acrescenta.
Para o coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea, a enxurrada de importações seguirá significativa ao longo do ano, o que terá impacto nas contas externas. ;Estamos projetando um deficit em conta-corrente de US$ 60 bilhões em 2010, acima do que o Banco Central está esperando;, diz. Ele destaca que o próprio turismo de brasileiros no exterior, com dólar barato, é um fator que aumenta a pressão nas importações.
Os gastos com viagens internacionais foi recorde no mês de julho. Segundo dados do Banco Central, os brasileiros desembolsaram US$ 1,5 bilhão fora do país no mês, o que representa um incremento de 47% em relação às despesas feitas em igual mês do ano passado. No acumulado dos primeiros sete meses do ano, os gastos subiram 56%, de US$ 5,5 bilhões para US$ 8,5 bilhões. O deficit em transações correntes do país registrado em julho foi o pior da série histórica, desde 1947, para o mês e também no acumulado do ano. O resultado foi negativo em US$ 4,5 bilhões. De janeiro a julho, o rombo é de US$ 28,2 bilhões.
Juros
Em seu boletim mensal Conjuntura em Foco, divulgado ontem, o Ipea destaca que a inflação no ano está voltando a convergir para a o centro da meta estabelecida pelo Banco Central para o IPCA, que é de 4,5% no ano, e que isso está alterando as projeções do mercado financeiro. ;Depois de atingir o patamar de 5,7%, na primeira semana de junho, a mediana das expectativas do mercado para IPCA fechado do ano reduziu-se para 5,03% na última semana de agosto;, diz o boletim do Ipea. ;A inflação nos últimos 12 meses está em 4,49%, um pouco abaixo do centro da meta. Mesmo que houvesse algum repasse dos preços para o consumidor, não seria nada que justificasse uma alteração na política monetária. Não existe qualquer razão para alta de juros em 2010;, acredita Messemberg.
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE TRIGO
O setor de trigo da Argentina, frustrado com a intervenção do governo no mercado de grãos, assinará um acordo na próxima semana para trocar informações com importadores do Brasil, maior mercado para o cereal argentino. O objetivo será informar aos brasileiros qualquer mudança nas intervenções estatais nas exportações do cereal, que já não são tão grandes para o Brasil como foram no passado. Além das travas governamentais, os produtores argentinos sofreram nos últimos anos com a seca. Produtores afirmam que há um descontentamento generalizado no mercado por conta de frequentes medidas de controle das exportações e dos preços tomadas pelo governo, que busca conter os custos de produtos básicos e garantir uma ampla oferta doméstica.
Leia, na íntegra, o boletim Conjuntura em Foco, do Ipea