Com os motores a todo vapor para dar conta da forte demanda de consumo no país, a indústria está vivendo seu recorde de contratações nos últimos 10 anos: uma elevação de 5,4% em julho, na comparação com o mesmo mês de 2009. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a geração de empregos está avançando acima da média histórica, conforme já havia anunciado a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O desempenho de julho foi o sexto crescimento seguido nos indicadores oficiais e, segundo especialistas, comprovam a recuperação da indústria e a aptidão dela para crescer de forma sustentável.
Confira áudio com Alcides Leite, professor da Escola de Negócios Trevisan
;As empresas só contratam quando têm certeza da necessidade de mão de obra, quando sabem que um nível de atividade forte deve continuar por um prazo mais longo;, argumentou Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. ;Não é só um espasmo de crescimento para atender a pedidos. Os industriais voltaram a contratar quando o nível de produção foi obrigado a subir para atender o intenso consumo do mercado doméstico.;
A metalurgia básica é um dos segmentos que se viu forçado a intensificar o ritmo de produção devido o alto consumo de automóveis. Mesmo após o fim dos incentivos tributários para a aquisição de um veículo novo, o brasileiro, com crédito na mão, continuou a comprar. Fez de agosto o segundo melhor mês de vendas da história da indústria automobilística. Foram vendidos 312,8 mil carros, incluindo caminhões e ônibus. Só não superou março, o último mês de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, quando foram vendidas 353,7 mil unidades.
Demanda intensa
Com tamanha demanda, a metalurgia precisou comprar mais aço, ligar caldeiras e contratar. Mas, antes de abrir novos postos nas fábricas, teve de pagar muitas horas extras. Comparado com igual mês do ano passado, bancou um acréscimo de 16,6% ao tempo trabalhado pelos operários. Quando se tornou impossível estender os turnos nas fábricas, o segmento começou a criar empregos e passou a liderar a abertura de vagas: foram 13,1% mais postos frente julho de 2009 ; mais de duas vezes a média nacional.
A fim de conseguir atender a demanda intensa, a indústria precisou produzir maquinário para fabricar todos os itens de desejo do consumidor. O segmento que faz esses equipamentos aumentou as contratações em 11,7% na comparação entre julho e igual mês do ano passado, perdendo apenas para a metalurgia básica. Elevou também a quantidade de horas pagas, com crescimento de 12,4%. A maioria dos setores seguiram ritmo semelhante de expansão, porém, quatro deles ainda vivem o fantasma da crise que se instalou na economia em setembro de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers: fumo, madeira, refino de petróleo e álcool e vestuário foram os únicos a acumular taxas negativas.
O economista Fernando Abritta, do IBGE, pondera que, apesar dos segmentos que ainda estão com problemas, os resultados comprovam a recuperação da indústria nacional. De 18 setores, 10 aumentaram o número de postos de trabalho acima da média nacional e quatro, um pouco abaixo dessa marca. Ele lembra ainda que parte do resultado expressivo deve-se à comparação fragilizada com os mesmos meses do ano passado, época em que o país ainda sentia os efeitos da crise mundial.
Abritta explica que há, todavia, uma diferença entre o crescimento da produção e do nível de emprego. As fábricas primeiro aumentam o ritmo e ampliam a jornada de trabalho para só depois passarem a contratar. ;O emprego costuma responder mais lentamente, tanto no caso de aumento como na queda da produção. Além disso, as indústrias podem otimizar o serviço e produzir mais com uso de tecnologia, sem necessariamente contratar mais;, avaliou.