Jornal Correio Braziliense

Economia

Quantidade de falências decretadas avançou 18,9% em comparação com julho

Os juros altos são o principal motivo dos problemas financeiros das empresas. As mais prejudicadas são as de médio porte

Os juros altos têm freado a escalada de preços no Brasil. Ao mesmo tempo, porém, vem se mostrando um remédio amargo e, em alguns casos, um veneno letal. Com o dinheiro mais caro, a lista de negócios que fecharam as portas por problemas financeiros cresceu explosivamente nos últimos meses. Em agosto, a quantidade de falências decretadas avançou 18,9% em comparação com julho. As médias empresas tiveram o pior desempenho. Segundo os dados da Serasa Experian, elas incrementaram os pedidos para encerrar as atividades em 27,7%.

Em agosto, foram registrados ainda 186 requerimentos de falência frente a julho, num avanço de 5,1%. As recuperações judiciais concedidas também tiveram alta no período: passaram de sete para 24. ;Esses números ruins se devem, principalmente, a uma desaceleração da atividade econômica no último trimestre e à elevação da Selic (taxa básica de juros);, justificou Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa. ;Os custos empresariais, como os para o financiamento de capital de giro, ficaram mais caros. Com isso, estamos registrando aumento na inadimplência das empresas.;

Exportadoras
Na avaliação do assessor econômico da Serasa Experian, as médias empresas estão passando por dificuldade maior porque esse segmento concentra muitas exportadoras. Com o mercado internacional estagnado em alguns casos ou em expansão moderada, as vendas estão em baixa e o fluxo de caixa comprometido. ;Já as empresas grandes têm uma facilidade maior para fazer arranjos financeiros e redirecionar a produção para o mercado doméstico;, avaliou Almeida.

Com mais opções para captar dinheiro, os empreendimentos de porte elevado têm deixado de pedir falência. Entre julho e agosto, essa estatística recuou 27,5%. As micro e pequenas empresas não apresentaram desempenho tão bom quanto as gigantes, mas estão em situação melhor do que os negócios médios ; as solicitações para fechar as portas avançaram 6,25%.

Atividade aquecida
Mesmo com as estatísticas negativas do mês, as expectativas para o segundo semestre são boas. Caso se confirme um fim de ano de atividade econômica aquecida, os analistas da Serasa Experian afirmam que a solvência dos negócios vai melhorar e reduzir os números de falências e pedidos de recuperação judicial. ;Teremos apenas mais um mês de resultados semelhantes a esse. Depois, com o início das contratações para o Natal, em outubro, teremos um último trimestre mais dinâmico, o que vai melhorar o fluxo de caixa das empresas;, disse Almeida.

Saldo de US$ 138 mi

A balança comercial iniciou o mês com superavit de US$ 138 milhões, resultado de exportações de US$ 2,616 bilhões e importações de US$ 2,478 bilhões na primeira semana de setembro, segundo informou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O superavit acumulado no ano é de US$ 11,822 bilhões, um resultado 41,9% menor do que o registrado em igual período de 2009 (US$ 20,351 bilhões). No período, as exportações chegaram a US$ 128,712 bilhões e as importações, a US$ 116,890 bilhões.

O comércio exterior brasileiro está sofrendo com a queda no consumo dos países desenvolvidos, em virtude da recessão mundial que se seguiu à crise global. Os analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) apostam num saldo de apenas US$ 15 bilhões no ano.

Em agosto, o Brasil exportou US$ 19,236 bilhões e importou US$ 16,796 bilhões, o que resultou em saldo positivo de US$ 2,440 bilhões.

Mercado otimista

Vera Batista

O otimismo do mercado com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) em 2010 aumentou depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado de 8,9% no primeiro semestre, o maior em 14 anos. A previsão dos cerca de 100 analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) aumentou de 7,09% para 7,34%. Na avaliação do economista René Garcia, da Fundação Getulio Vargas, entretanto, os dados não refletem a ;situação confortável em que vive o país;. ;A realidade é bem melhor. Acho que um crescimento de 7,5% este ano não é impossível;, destacou.

Garcia avaliou também que a taxa básica de juros (Selic) deve retornar, já no primeiro semestre de 2011, a 10% anuais e que a cotação do dólar continuará caindo para fechar 2010 entre R$ 1,70 e R$ 1,78. Os especialistas estimam que os juros vão fechar o ano nos atuais 10,75%, mas sobem para 11,50% no fim de 2011. ;Não vejo perspectivas inflacionárias para isso;, discordou o economista. A projeção média para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permaneceu inalterada em 5,07% neste ano. Mas, para 2011, o IPCA caiu levemente em relação às expectativas da semana passada, de 4,87% para 4,85%. A estimativa para a cotação do dólar caiu de R$ 1,80 para R$ 1,79.