Com a renda aumentando vigorosamente e a estabilidade no emprego encorajando financiamentos de longo prazo, o consumidor tornou-se vital para o crescimento econômico. Apenas nos primeiros seis meses do ano, as famílias gastaram R$ 1,07 trilhão e a perspectiva é de, no mínimo, dobrar esse montante até dezembro. O Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país) se beneficiou do forte impacto provocado por essa nova sociedade consumista. No segundo trimestre, a demanda dos lares brasileiros registrou crescimento pela 27; vez consecutiva.
São milhões de famílias em uma busca desenfreada por geladeiras novas, televisores de LCD, internet de alta velocidade e casa própria ; tudo patrocinado pela oferta maciça de crédito e pela expressiva expansão da renda. ;Esses são os dois elementos fundamentais no processo de consumo e de crescimento elevados;, destacou o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios.
Na avaliação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do PIB, crédito, emprego e renda têm impulsionado o consumo e, em consequência, o crescimento do país. No segundo trimestre comparado com igual período do ano passado, a massa salarial avançou 7,3%, ritmo que supera a inflação em quase duas vezes. O crédito para pessoa física também registrou incremento significativo no período, de 17,1%. Além dos ganhos salariais e da facilidade de financiamentos, o país está gerando empregos formais. Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, serão 2,5 milhões de postos com carteira assinada até o fim do ano.
Esperança
Giullia Amancio da Silva, 20 anos, é funcionária terceirizada no Governo do Distrito Federal. Com três filhos e o quarto prestes a nascer, conquistou o emprego há pouco mais de três meses, o primeiro com carteira assinada. O serviço paga apenas um salário mínimo, mas é dinheiro suficiente para inseri-la no mercado consumidor e ainda contribuir para a estatística trilionária das despesas das famílias, registrada nos dados do PIB.
;Eu sou uma brasileira que está melhorando de vida. Com um emprego fixo, dá para entrar nas prestações. Já comprei geladeira, fogão e vários móveis;, relatou. Depois de ganhar uma casa construída pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na periferia de Brasília, ela financiou tijolos e cimento, chamou os vizinhos para ajudar e começou a ampliar o novo lar. ;Fiz um muro para deixar minha casa mais segura;, explica. O emprego, somado ao crédito, tem alimentado as esperanças de Giullia, que voltou aos estudos e sonha em comprar móveis mais bonitos e em dar uma boa educação aos filhos.
A vontade de gastar é semelhante à de milhões de brasileiros que, há pouco tempo, não tinham acesso a produtos essenciais. Agora, podem comprar de quase tudo e estão aproveitando para adquirir também o supérfluo. ;O consumo das famílias tem aumentado, mas não há um perigo iminente. O endividamento ainda é baixo e havia uma demanda reprimida nas classes C, D e E, que começou a ser atendida;, afirma Alcides Leite.
Na visão de Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), ainda há espaço para o consumidor comprar mais. ;No momento, nós temos oferta de crédito elevada e a inadimplência está baixa. Isso nos dá brecha para aumentar o consumo;, argumenta Freitas. ;O PIB veio maior do que o mercado esperava, mas com uma desaceleração esperada, o que indica que estamos crescendo em velocidade de cruzeiro e devemos seguir de maneira sustentável nos próximos anos.;
Eu sou uma brasileira que está melhorando de vida. Com um emprego fixo, dá para entrar nas prestações. Já comprei geladeira, fogão e vários móveis;
Giullia Amancio da Silva, funcionária terceirizada do GDF