A megaoferta de ações da Petrobras pode atingir um valor estimado de R$ 128,3 bilhões, o equivalente a US$ 74,5 bilhões. Isso configuraria a capitalização da estatal do petróleo, cujos detalhes foram divulgados ontem, como a maior operação do tipo na história. A companhia planeja emitir até 2,17 bilhões de ações ordinárias e 1,59 bilhão de preferenciais no lote principal da oferta, revelou ontem em comunicado ao mercado.
O detalhamento da capitalização fez os papéis da empresa darem um salto na Bolsa de Valores de São Paulo, depois de terem perdido quase 30% desde janeiro. Ontem, foram as que mais valorizaram. As ações ordinárias (com direito a voto) subiram 4,71% e fecharam o dia cotadas a R$ 32,71. As preferenciais, que dão prioridade a seus detentores no pagamento de dividendos, aumentaram 4,35%, encerrando a rodada de negociações em R$ 28,80. A forte alta não foi suficiente, porém, para evitar a queda de 0,19% na bolsa (leia mais na página 21).
De acordo com o cronograma anunciado, o período de reserva de ações começa em 13 de setembro. Considerando o valor do fechamento de quinta-feira, a Petrobras pode levantar, no lote inicial, até R$ 111,6 bilhões (US$ 64,8 bilhões). O preço final da operação será fechado 10 dias depois. O valor total da oferta será conhecido após a definição do preço por ação e da quantidade de papéis emitidos. O volume financeiro, contudo, pode aumentar caso sejam vendidos os lotes adicionais, acrescentando até 564 milhões de ações.
Cessão onerosa
Mantidas as proporções de ações do lote principal, a oferta total pode movimentar R$ 128,3 bilhões. Apesar do tamanho inédito, a operação(1) vai ficar menor do que o valor autorizado pelos acionistas para o negócio, de até R$ 150 bilhões. O governo terá R$ 74,8 bilhões para participar da operação, resultado da venda de petróleo das reservas da União à estatal, conhecida como cessão onerosa, e já manifestou a intenção de utilizar todo o dinheiro. Vai tentar comprar o que puder e elevar sua fatia na empresa.
Como possui aproximadamente um terço do capital total da companhia, o governo deverá responder por aproximadamente R$ 38 bilhões do valor global da oferta e ficará com um ;crédito; de mais de R$ 36 bilhões para comprar eventuais sobras da operação, caso uma parte dos acionistas minoritários não exerça o direito de preferência.
;Eu acho que as pessoas vão se surpreender com o número de investidores que participarão;, afirmou Marc Fogassa, sócio da Hedgefort Capital Management, à agência de notícias Reuters. ;Os acionistas talvez não tenham gostado do jeito que a operação foi feita, mas a Petrobras é um ativo de classe global. Tem que ter, não tem como não ter;, disse Marcio Macedo, da Humaitá Investimentos. Para ele, a partir de agora, há um potencial de valorização das ações da empresa, que sofreram em meio às dúvidas sobre o processo de capitalização nos últimos meses.
Classificação neutra
Com a emissão, a Petrobras busca recursos para financiar seu agressivo plano de exploração das grandes reservas de petróleo descobertas no pré-sal, sobretudo na bacia de Santos. No plano de negócios de 2010 a 2014, estão previstos gastos de US$ 224 bilhões. Segundo a agência de classificação de riscos Moody`s, a oferta de ações anunciada é neutra para a nota da companhia, mas pode ter um efeito positivo sobre a sua posição a longo prazo, dependendo do nível de participação do investidor.
Com dinheiro do FGTS
Vânia Cristino
Apenas os trabalhadores que compraram no passado ações da Petrobras com dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e permanecem com o investimento em um dos Fundos Mútuos de Privatização (FMP) vão poder fazer, agora, nova aplicação com o dinheiro do fundo. As condições para a participação na nova oferta de ações da empresa foram divulgadas ontem. Estão habilitados 89.398 trabalhadores. Se todos exercerem o direito, a Caixa Econômica Federal estima que cerca de R$ 900 milhões serão usados.
O período de reserva da oferta prioritária para os FMPs vai de 13 a 16 de setembro. Para aderir à oferta, os interessados devem procurar a instituição administradora do fundo com um extrato da conta vinculada do FGTS e assinar o termo de adesão. A Caixa divulgará, na segunda-feira, circular para os bancos explicando os procedimentos a serem adotados para a transferência dos recursos do FGTS.
A oferta prioritária atende aos atuais acionistas, com base na posição registrada em 10 e 17 de setembro. A participação nos fundos, porém, está sujeita a algumas restrições. Segundo o vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Joaquim Lima, o uso do dinheiro da conta vinculada está limitado a 30% do seu saldo (limite máximo), mas isso não significa que tudo pode ser usado. O trabalhador vai poder adquirir mais papéis apenas para manter a participação que possui na empresa.
Em 2000, quando a primeira subscrição foi permitida, 312.194 trabalhadores optaram pelo investimento. No total, eles usaram R$ 1,611 bilhão do FGTS. Ao longo do tempo, a aplicação de risco se mostrou mais do que vantajosa. Enquanto o fundo rendeu, de agosto de 2000 a junho de 2010, 64,52%, os papéis da Petrobras acumularam rentabilidade superior a 600%. Técnicos do governo alertam, no entanto, que os ganhos do passado não podem ser determinantes na hora de fazer uma nova opção.
Mesmo se tratando de uma empresa de primeira linha, sempre há riscos de perda. Sobre a parte usada, o aplicador deixa de contar com a garantia do governo na remuneração do fundo. No passado, o trabalhador já começou ganhando, pois o governo deu um deságio de 20% do preço dos papéis na aquisição. Na nova oferta, o incentivo não existe. Uma vez feita a opção, os recursos deverão ficar aplicados nas ações por um período mínimo de 12 meses.