Jornal Correio Braziliense

Economia

Petróleo do pré-sal fica acima dos US$ 8, mas anúncio espera parecer da ANP

Se nada mudar no meio do caminho, o preço do barril do petróleo que será usado como base no processo de capitalização da Petrobras, previsto para setembro, não ficará abaixo de US$ 8. O martelo já foi batido ontem durante extensa reunião entre ministros no Palácio do Planalto e já tem a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informaram fontes ligadas ao governo. Agora, o que se espera é um laudo final da Agência Nacional de Petróleo (ANP), com o detalhamento do preço e a estimativa da reserva da camada pré-sal do campo de Franco, em Santos (SP), que será utilizado no contrato pelo qual a União aumentará sua participação no controle da estatal.

Pela operação, conhecida como cessão onerosa, a União vai ceder à Petrobras cerca de 5 bilhões de barris de petróleo da camada pré-sal ; reservas localizadas a mais de 6 mil metros do fundo do mar. Considerando o valor de US$ 8 o barril, a Petrobras terá de pagar US$ 40 bilhões para que o governo emita títulos com os quais poderá ampliar o controle acionário, hoje de 32%.

A expectativa era que o valor fosse finalmente definido ontem e o anúncio fosse feito aos mercados após o fechamento das bolsas. Durante todo o dia e parte da noite, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, estiveram reunidos com a chefe da Casa Civil, ministra Erenice Guerra, no Palácio do Planalto, para analisar os números sobre as avaliações do preço do barril do pré-sal.

Sobe e desce

A capitalização da Petrobras foi anunciada no final do ano passado, mas como o processo vem sendo adiado várias vezes e ainda não há luz nesse túnel sobre os valores do barril, as ações da companhia rolam ladeira abaixo e já acumulam uma desvalorização acima de 27% desde o início do ano. Ontem, até fechamento oficial do mercado, os papéis ON (com direito a voto) registraram pequena alta de 0,61%, mas caíram 1,85% na semana, e 6,60% desde o início de agosto. No ano, as perdas já somam 27,21%. Já as ações PN (sem direito a voto) caíram 0,23% no dia, 2,61% na semana e 5,68% no mês. No ano, despencaram 27,34%.

Após o vazamento da informação de que o preço do barril do pré-sal teria ficado entre US$ 8,20 e US$ 8,30, mesmo depois do fechamento do mercado, as ações da Petrobras voltaram a se valorizar. As ordinárias subiram 1,99%, para R$ 30,24, e as preferenciais, 1,68%, para R$ 26,60.

Decisão política
O presidente Lula preferiu ficar de fora das discussões e comentou com assessores que vai esperar a conclusão das negociações entre assessores e a estatal para tomar uma decisão sobre o processo de capitalização(1) da Petrobras. ;Eu não estou aqui para tomar uma decisão técnica. Fui eleito para tomar decisão política;, disse Lula, após almoço, no Itamaraty, com o presidente de Guiné-Bissau, Malan Bacai Sanhá.

Os boatos de que Lula deverá anunciar os resultados do processo de capitalização da Petrobras em 7 de Setembro, aproveitando as atenções do feriado da Independência do Brasil, não animaram os investidores. Os analistas mantêm a perspectiva de que a situação ainda está indefinida. ;Nada mudou significativamente. São comentários sem confirmação oficial;, avaliou Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos.

Sem o aval do mercado, as ações da estatal continuam prejudicadas na Bolsa de Valores de São Paulo. ;Como a empresa é um dos carros-chefe do Ibovespa (principal indicador da BM), esse desgaste da Petrobras derruba as Bolsa de Valores de São Paulo, como tem acontecido ultimamente;, destacou Breno Carlos, assessor de investimentos da Corretora TOV.

1 - Cronograma
Somente após a definição do preço sugerido para o barril, a aprovação desse valor pelo presidente Lula, a emissão do laudo da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a estimativa de volume das reservas de Franco será convocada uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão que vai formalizar o contrato da operação. As incertezas quanto ao cumprimento do cronograma da capitalização da Petrobras para setembro persistem, apesar de os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Márcio Zimmermann (Minas e Energia) terem dito que o prazo previsto está mantido.