Não se trata de uma questão de honra, mas de um compromisso com a sociedade brasileira a manutenção do cronograma da capitalização da Petrobras, disse o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. A justificativa para a pressa recai em dois argumentos: as dimensões desafiadoras das reservas do pré-sal e a necessidade de reforçar a musculatura da estatal que vai tirar o petróleo das águas ultraprofundas. ;Temos uma reserva muito grande e a empresa com mais experiência no mundo nisso aí. Precisamos começar o processo de exploração;, sustentou, em entrevista ao Correio. O ministro aposta em um preço de até US$ 10 para o barril a ser utilizado pela União como moeda no aumento de capital. Zimmermann fala também de outros temas polêmicos de sua pasta, como o blefe das construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht no leilão da hidrelétrica de Belo Monte. Confira os principais trechos.
Preço do barril
Temos até 23 de agosto (segunda-feira) para a formalização do preço. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) contratou uma certificadora, a Petrobras contratou outra. E aí temos essa discussão para entender os critérios de cada uma. As equipes técnicas do Ministério da Fazenda estão interagindo com essas certificadoras para chegar a um número que seja mais justo. Eu sempre falei que, para o patamar de um petróleo que está naquelas condições do pré-sal, em águas profundas, o razoável seria entre US$ 5 e US$ 10. Mas tudo depende dessa característica.
Margem
Tem águas profundas muito difíceis e águas profundas mais fáceis de tirar (o petróleo). Tem reservas que são mais produtivas e outras, não. Aí tem que analisar os casos. Deu-se várias áreas do pré-sal para serem analisadas pelas certificadoras. É por isso que a gente fala em margem e não fala em número exato. O número exato é um produto, porque eles estudaram essa área, aquela área e outra área e, na média, pela quantidade de barris estimada, vai-se considerar o preço.
Cronograma
A expectativa é que tenha o processo (de capitalização em setembro). Somos um país que temos responsabilidade, principalmente com a sociedade brasileira. Temos uma reserva de petróleo muito grande e a empresa com mais experiência no mundo nisso aí, e é uma grande riqueza nacional. Precisamos começar o processo de exploração. E, para isso, que precisamos capitalizar a empresa. Esse cronograma é próprio para os interesses nacionais. Quanto antes começar a se preparar para explorar o pré-sal, melhor. A Petrobras está contratando 28 sondas, que ficam prontas em 2015. Então tem um processo por começar.
Indefinição
Para continuar mantendo o nível de investimentos, é preciso capitalizar. Qual é a melhor forma? Bom, a União tem um baita ativo, que se chama pré-sal. Determinados poços você poderia colocar como parte da União, porque valem, em qualquer lugar do mundo, e chamar os outros acionistas: vamos lá pôr dinheiro aí, que a Petrobras precisa investir. Ainda não está totalmente definido (o tamanho da capitalização), mas estamos falando em até 5 bilhões de barris para a União, que hoje tem pouco mais de 30% (do capital da estatal).
Nova estatal
É tão importante, que o Congresso já aprovou a Pré-Sal Petróleo S/A. Nesse modelo de partilha de produção, era importante que o Estado brasileiro tivesse uma empresa com essas características. A partir do momento que você aprova um marco, faz todo um trabalho, esperamos que esteja tudo aprovado ainda este ano, até outubro, novembro. A gente não pode dar data, porque esse aí é um processo do Legislativo, que está com a bola. Para nós, o quanto antes, melhor.
Risco do PIB
Este ano, eu estou contratando usina para entrar em 2015, em função do que as distribuidoras declararam para mim que vão consumir ao longo desse período. Eu faço o leilão e contrato. Três anos antes de 2015, em 2012 faço novo leilão. Estou sempre monitorando para ver como está o comportamento do mercado. Aí você me pergunta: e se o PIB (Produto Interno Bruto) crescer muito? Olha, em vez de eu contratar X, eu vou contratar X Y. É só fazer leilão.
Belo Monte
Acho que aí faz parte do jogo (empresas sustentarem que a obra custaria R$ 30 bilhões, desistirem do leilão, depois associarem ao vencedor e dizer que fazem por R$ 15 bilhões). O cara quer vender o serviço pelo mais caro. E quem quer comprar, quer pelo mais barato. O jogo é esse. Aí, a gente faz o tal do leilão para ver quem é que está falando a verdade. E o consumidor brasileiro saiu ganhando.
Conta de luz
O que existe hoje é que, pela legislação, a Reserva Global de Reversão (RGR) ; um dos encargos da conta de luz ; termina em 2010. Se prorroga ou não, é uma decisão que vai caber, no fim, ao Congresso Nacional, porque é lei. Acho importante, sempre que se fala nisso, analisar o que ele (o encargo) tem feito de bom, e, ao mesmo tempo, como é que você o substituiria.