Apesar do arrocho monetário promovido desde abril, o Banco Central ainda não conseguiu frear o consumo das famílias, que têm se consolidado como a principal alavanca da economia brasileira. As vendas do comércio continuam em expansão e registraram recorde histórico no primeiro semestre ao dar um salto de 11,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em junho, o varejo avançou 1% ante maio e 11,3% se comparado ao mesmo mês de 2009. O resultado confirma, segundo a instituição, que a queda pontual observada em abril foi superada e indicadores antecedentes do setor varejista apontam que os meses de julho e agosto seguiram a mesma trajetória.
Todo este vigor deve impulsionar o crescimento do país, segundo avaliação de Reinaldo Pereira, economista do IBGE. ;Em abril, achávamos que a queda do comércio era um movimento pontual, o que veio a se confirmar agora. Se a expectativa é de que o país cresça no mínimo 6% neste ano, as vendas do varejo vão acompanhar esse movimento;, afirmou. Também os analistas de mercado, surpreendidos pelo avanço em junho, avaliam os dados atuais da economia como indícios de que o desempenho do setor deve se estender para o segundo semestre.
Segundo o economista Alexandre Andrade, da Consultoria Tendências, os dados do IBGE mostram que a demanda doméstica deve voltar a exibir uma trajetória de crescimento consistente nos próximos meses. ;Não há por que esperar arrefecimento desse consumo;, disse. Para ele, o incremento da renda e da massa salarial deverão sustentar o aquecimento da demanda.
Pelos cálculos do IBGE, o grupo hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foi o principal responsável pelo crescimento do varejo, com avanço de 11,9% no semestre, sustentando metade da expansão do setor. ;O resultado, acima da média, se justifica pelo aumento do poder de compra da população decorrente do crescimento da massa de rendimento real dos ocupados;, constatou Pereira. Com mais dinheiro no bolso, as classes de renda intermediária começam a comprar itens de maior valor agregado como iogurtes, produtos de beleza. De acordo com uma pesquisa do instituto Kantar World Panel, em 2002 as classes D e E tinham 21 categorias de produtos no carrinho do supermercado. Atualmente, são 37.
Crediário
A trajetória ascendente do comércio foi confirmada pelo indicador de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC-Brasil), também divulgado ontem pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). As consultas guardam relação próxima com o volume de vendas, uma vez que são feitas no momento da aprovação do crédito ao consumidor. Entre junho e julho, os acessos cresceram 4,26% e avançaram 9,05% quando comparados a julho de 2009. O resultado surpreendeu os varejistas, segundo o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior. Ele esperava que o consumo fosse afetado pelo aumento de juros. ;O freio que o BC tem colocado na economia (por meio do aumento de juros) não está parando a demanda. Está, no máximo, desacelerando; comentou.
A despeito de não ter consolidado os dados de agosto, Pellizzaro acredita que as vendas devem continuar em alta, impulsionadas pelo Dia dos Pais. Em função da data, o comércio vendeu 11,73% mais do que em 2009. Para Alexandre Andrade, do IBGE, a força da renda é tanta que as compras não devem diminuir expressivamente nem mesmo quando o aperto monetário encarecer os financiamentos ; efeito que deve ser observado nos próximos meses. ;Tudo indica que, mesmo com o crédito se deteriorando um pouco, o consumo continuará forte em supermercados, por exemplo, em que os gastos são diretamente ligados ao maior poder de compra do trabalhador;, ponderou.