Jornal Correio Braziliense

Economia

36 milhões vão fazer compras

Aumento das classes A, B e C até 2014 intensificará a demanda. Walmart elege o país como o mais importante depois dos EUA

São Paulo ; Se a tendência de crescimento e de redução das desigualdades no país prosseguir nos próximos anos, mais 14,5 milhões de brasileiros sairão da pobreza e outros 36 milhões serão adicionados às classes A, B e C, de 2010 a 2014, estima o chefe do Centro de Políticas sociais da Fundação Getulio Vargas, Marcelo Neri. Segundo o economista, o aumento da classe média no país continuará sendo um forte impulsionador do crescimento do consumo, cujos dados, divulgados ontem, mostram perspectivas animadoras: as vendas cresceram 11,5% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

;A desigualdade no país está diminuindo num ritmo maior. Isso fará a economia mais pujante;, afirmou Neri, acrescentando que outros indicadores também sinalizam positivamente em direção a um desenvolvimento sustentável do país nos próximos anos. ;Os dados mostram que a renda per capita do brasileiro de 2003 a 2008 subiu 5,3%. A renda do trabalho também cresceu 5,3%. A situação é mais sustentável do que eu imaginava;, afirmou.

Neri exemplificou com a realidade do Nordeste, em que a renda por pessoa cresce 7,3% ao ano, mesma proporção da renda do trabalho. ;É um dado que surpreende quem acha que a economia nordestina cresce sem produção;, disse. O economista da FGV também vê com bons olhos o resultado da comparação entre outros indicadores. ;O índice do produtor está crescendo duas vezes mais rápido do que o do consumidor. Para mim, o brasileiro era uma cigarra e não uma formiga. Mas isso está mudando.;

Meia França
Em 1992, as classes A, B e C correspondiam a 37% da população do país. Hoje, equivalem a 59,6%. Saíram da pobreza (da classe E) 19,5 milhões de pessoas. Entraram na classe C outras 25,9 milhões. E mais 6 milhões ingressaram nas classes A e B. Ou seja, 31,9 milhões entraram nas classes A, B e C. ;Isso é meia França;, comparou Neri, lembrando que a renda per capita dos mais pobres cresceu 10% ao ano. ;Um crescimento chinês;, enfatizou. Para o economista, a desigualdade no país caiu. ;Isso nos torna diferentes de China e Índia. Aqui é maior a desigualdade, mas lá está aumentando;, disse, durante o Fórum de Varejo 2010, na capital paulista.

De acordo com o presidente do Walmart Brasil, Héctor Núñez, o país já é o que mais recebe investimentos da empresa fora dos Estados Unidos. ;Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o setor varejista cresceu 10%, 11% este ano. O Walmart Brasil cresceu bem mais que isso;, afirmou. Segundo Núñez, o país está entre os mais importantes para o grupo fora do território norte-americano. ;Recebemos mais investimentos do que qualquer outra operação do Walmart no mundo, porque estamos crescendo a taxas mais altas aqui do que em qualquer outro país.; Os recursos aplicados pela empresa no Brasil este ano ficarão entre R$ 2 bilhões e R$ 2,2 bilhões.

Perfil
O economista da FGV alertou para o fato de que o aumento da renda dos mais pobres promoveu também uma mudança no perfil da classe média. ;A nova classe média, dos pobres que ascenderam, é diferenciada daquela já estabelecida;, afirmou Neri. O diretor de Retail Services da Nielsen Brasil, João Carlos Lazzarini, concorda: ;Essa nova classe média tem uma preocupação grande com a questão educacional. Com isso, aumentou o número de universidades com prazos diferenciados, fora do modelo tradicional. Os pais querem que o filho tenha uma escola melhor e, por isso, estão surgindo escolas particulares nas periferias, que custam R$ 300, R$ 400;.

Além disso, acreditam os especialistas, as empresas devem preocupar-se com o fator de mudança geracional, que também trará uma grande variação no padrão de consumo dos brasileiros: os jovens são mais preocupados com a questão da sustentabilidade e buscam muito mais os canais alternativos de compra. ;Não haverá um veículo único de vendas. O futuro do varejo vai estar na convergência dos canais;, afirmou o vice-presidente administrativo do Walmart Brasil, Carlos Fernandes. Neri reforça: ;O brasileiro tem a cabeça muito mais aberta à sustentabilidade do que se imagina;.

JUROS EM QUEDA
; Apesar da elevação da Selic em julho, a taxa de juros das operações de crédito caiu no mês passado, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Das seis linhas observadas, somente o cartão de crédito rotativo manteve a taxa média inalterada, enquanto todas as demais foram reduzidas. Para pessoa física, a taxa de juros média geral baixou 0,05 ponto percentual no mês (1,25 ponto percentual no ano), passando de 6,90% ao mês (122,71% ao ano) em junho para 6,85% ao mês (121,46% ao ano) em julho. Esta é a menor taxa média desde abril deste ano. Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, conselheiro da Anefac, as reduções nas taxas de juros podem ser atribuídas ao bom momento da economia brasileira, à normalização do crédito no mercado internacional e à redução dos índices de inadimplência.

* A repórter viajou a convite do Walmart