Jornal Correio Braziliense

Economia

Sexta-feira, 13, e greve na Gol

Pessoal de terra quer parar, mas tripulantes resistem. Procuradoria do Trabalho tenta mediar o conflito em audiência nesta segunda-feira


As duas principais entidades que representam os funcionários das companhias aéreas do país não conseguem entrar em acordo sobre a possível paralisação dos tripulantes da Gol, marcada para a próxima sexta-feira, 13. Enquanto o Sindicato Nacional dos Aeronautas (tripulantes) afasta qualquer possibilidade de os trabalhadores cruzarem os braços na semana que vem, o Sindicato Nacional dos Aeroviários (pessoal que trabalha em terra) garante que a greve está mantida e, caso a companhia aérea não atenda às reivindicação dos seus empregados, as centenas de atrasos e cancelamentos de voos que aconteceram nesta semana deverão voltar a ocorrer.

Para tentar contornar a situação, a procuradora Regional do Trabalho da Segunda Região de São Paulo, Laura Martins Maia de Andrade, notificou os dois sindicatos e a Gol a comparecer a uma audiência de mediação que será realizada na próxima segunda-feira, 9. A intenção é colocar patrões e empregados na mesma mesa para discutir as questões que foram o estopim para os problemas gerados nos principais aeroportos do país desde o último fim de semana.

A ideia da paralisação teria tido origem dentro dos próprios corredores da Gol, quando funcionários da companhia trocaram e-mails reclamando sobre os excessos de horas de trabalho a que estavam sendo submetidos. Segundo um comandante da aérea ouvido pelo Correio, há um forte clima de descontentamento dentro da empresa. ;Principalmente no que diz respeito aos salários e aos benefícios, como plano de saúde. Além disso, o problema com o sistema de escala gerou uma confusão danada em julho. Por conta de tudo isso, temos notado um êxodo muito forte de profissionais deixando a empresa para ir trabalhar na TAM, que oferece condições melhores;, disse.

Negociação aberta
Na avaliação do presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Gelson Fochesato, o fato de a empresa aérea ter concordado em negociar já abre o caminho para um desfecho positivo. ;Houve uma discussão interna entre os pilotos, mas isso já foi superado. Já iniciamos as negociações com a empresa e confirmamos que não haverá paralisação;, garantiu Fochesato, acrescentando que a principal pauta a ser discutida na segunda-feira diz respeito ao problema de carga horária. ;Eles (trabalhadores) reclamam do excesso da jornada de trabalho. Mas vale lembrar que esse não é um problema só da Gol. Também registramos reclamações de outras empresas;, lembrou.

Para Fochesato, todas as empresas aéreas cresceram de forma desorganizada, e a própria Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é responsável por isso, pois permitiu esse crescimento desordenado, sem a devida fiscalização. ;Nós já havíamos sinalizado esse problema para a Anac e para as empresas há mais de dois anos, mas foi preciso toda essa confusão para que algo fosse feito;, comentou.


ANAC VAI CONTRATAR
; Em meio às acusações de ineficiência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pela forma como agiu durante o caos aéreo provocado pela Gol, o Ministério do Planejamento autorizou a reguladora a nomear 81 candidatos aprovados em dois concursos públicos, autorizados nos meses de março e maio de 2009. As convocações serão para São Paulo, Rio de Janeiro ou Distrito Federal, conforme critério da agência ainda não divulgado. As vagas são para técnico em regulação de aviação civil (29), analista administrativo (32) e técnico-administrativo (20) e o provimento dos cargos está condicionado à existência de vagas e recursos. A agência garantiu, entretanto, que não há qualquer ligação entre o caos aéreo e as nomeações. A medida, segundo a Anac, é um procedimento de rotina em relação ao andamento dos concursos.


Parada de 24 horas
Mesmo com a mediação confirmada, o Sindicato Nacional dos Aeroviários afirmou que os trabalhadores vão mesmo parar na sexta-feira, 13. Caso aconteça, o dia tem tudo para produzir novas cenas de terror nos aeroportos do país. A Justiça Federal determinou, porém, que o governo multe em até R$ 50 mil as companhias aéreas que atrasarem cada um de seus voos em mais de duas horas sem avisar previamente.

;A paralisação de 24 horas está mantida;, afirmou a presidente da entidade, Selma Balbino. A sindicalista teme que a mediação seja apenas um recurso para adiar o movimento. ;Esperamos que a Procuradoria não tenha nos chamado apenas para tentar impedir a greve, sem ouvir o que os trabalhadores têm a dizer, já que isso é algo muito comum de acontecer;, apontou.

Além do excesso de trabalho, Selma lembrou que outros assuntos como plano de saúde, desvio de função e assédio moral também serão levados à discussão. ;Há dois meses tento um encontro com a diretoria da Gol, mas eles sempre têm uma desculpa. Agora é que resolveram nos ouvir;, contou.

Segundo a legislação brasileira, os representantes das categorias de trabalhadores devem avisar com antecedência às empresas de que haverá uma paralisação. No entanto, Selma afirmou que isso é apenas um protocolo. ;Não estamos nem aí para essas formalidades. Se formos cumprir o que manda a lei, a gente não faz nada. É engraçado como o patrão não precisa cumprir a lei nas relações trabalhistas, mas a gente tem que cumpri-la para fazer a greve?;, questionou. A Gol afirmou não ter recebido notificação sobre a parada. (FB)