Jornal Correio Braziliense

Economia

Gol atrasa 53,7% de seus voos

Excesso de horas de trabalho da tripulação leva a cancelamento de viagens. Funcionários prometem paralisação de 24 horas no dia 13

Quem teve que viajar ontem pela companhia aérea Gol enfrentou muita confusão e horas de espera nos principais aeroportos do Brasil. A razão para o transtorno foi que pilotos e comissários estavam trabalhando mais horas do que o previsto pela regulamentação do setor e, por isso, a empresa teve de cancelar voos para se adequar às normas dos aeronautas. A providência, que começou a ser adotada na sexta-feira, gerou um efeito cascata e culminou com milhares de passageiros sentados no chão à espera do embarque. O caos pode voltar a se repetir no dia 13, quando os funcionários prometem parar por 24 horas.

A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informou que dos 1.653 voos domésticos programados para serem realizados até as 17h de ontem nos principais aeroportos do país, 428 sofreram atrasos de pelo menos meia hora, número equivalente a 25,9% do total. Outros 97 foram cancelados (5,9%). A Gol foi a principal responsável pelo alto índice. Segundo a Infraero, dos 588 voos da companhia programados para ocorrerem até as 17h, 316 registraram atraso (53,7% do total) e 53 foram cancelados (9% do total).

Em um dos voos da Gol em atraso, 140 passageiros que partiriam do Rio de Janeiro para Buenos Aires, com escala em Porto Alegre, tiveram de esperar mais de quatro horas para embarcar. Eles só foram informados do atraso cerca de uma hora e meia depois do horário previsto para o embarque. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) solicitou esclarecimentos à empresa sobre a razão dos transtornos e esteve em alguns aeroportos do país para fiscalizar o cumprimento da Resolução 141, que trata da assistência devida aos usuários em caso de atrasos e cancelamentos.

Explicação
Em comunicado, a Gol informou que os atrasos foram um reflexo do intenso tráfego aéreo na sua malha verificado durante a última sexta-feira, 30, quando a empresa precisou transferir algumas de suas partidas programadas do Aeroporto de Congonhas (São Paulo), que fecha às 23h, para o Aeroporto Internacional de Guarulhos. ;Na ocasião, algumas tripulações atingiram o limite de horas da jornada de trabalho previsto na regulamentação da profissão e foram impossibilitadas de seguir viagem, gerando um efeito em cadeia. A situação, desenvolvida num fim de semana de pico de movimento, com retorno de férias escolares, ocorreu num momento em que a empresa finalizava a implementação de um novo sistema de processamento das escalas dos pilotos e comissários;, explicou a empresa. A companhia afirmou ainda que havia acionado tripulantes extras na tentativa de solucionar o problema. E se apressou a negar que houvesse qualquer ameaça de greve dos funcionários.

O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Sérgio Dias, disse que, pela Lei do Aeronauta (n; 7.183/84), por questões de segurança operacional, os tripulantes de avião comercial não podem exceder as 85 horas de voo por mês ; ou 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. ;No caso dos tripulantes da Gol, todos esses limites foram extrapolados;, afirmou. ;O problema começou quando a companhia adquiriu um programa da Lufthansa de compartilhamento de rotas que fez com que muitas pessoas tivessem uma sobrecarga de trabalho;, relatou Dias. Além disso, os funcionários também se queixaram do sistema eletrônico de marcação de escalas. O sindicato, que recebeu cerca de 800 reclamações sobre a situação, se reuniu na noite de ontem para discutir a questão com os aeronautas.