Um dia depois de comemorar o acordo que abriu o seu controle à participação da Portugal Telecom, a Oi teve novos motivos para sorrir. A empresa divulgou que obteve lucro líquido recorde de R$ 940 milhões durante o primeiro semestre de 2010, revertendo o resultado negativo apurado no mesmo período do ano passado. A virada também ocorreu no segundo trimestre deste ano, quando a empresa obteve um lucro de R$ 444 milhões, um revés no prejuízo de R$ 146 milhões informado um ano antes.
De acordo com o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Oi, Alex Zornig, os bons resultados, que só apareceram agora, são reflexo da aquisição da Brasil Telecom feita há dois anos. ;São números que refletem a boa performance operacional da companhia, resultado do ganho de sinergias. Também comemoramos a redução de custos e despesas operacionais;, disse.
De junho de 2009 a junho deste ano, a companhia conseguiu aumentar em 2,7 milhões de novos clientes a sua carteira, ampliando o número de assinantes para 62,6 milhões. A expansão foi liderada pelo serviço de telefonia móvel, com aumento de 9,7% de usuários, em comparação com o mesmo período de 2009. No total, a companhia conta com 37,2 milhões de usuários de celulares; 20,8 milhões de telefonia fixa; 4,3 milhões de banda larga fixa; e 265 mil de serviços de TV por assinatura.
Para dar continuidade ao ritmo de expansão, a Oi vai abrir os cofres nos próximos meses.
Enquanto no primeiro semestre, a companhia investiu o equivalente a R$ 800 milhões, na segunda parte do ano planeja aumentar esse valor em quase quatro vezes, elevando-o a R$ 3 bilhões. ;Vamos investir principalmente na banda larga, aumentando a velocidade de conexão, e ampliar a cobertura de internet móvel. Mas não levaremos a 3G (terceira geração) a qualquer lugar. Temos a ideia de cobrir aqueles municípios que dão um retorno garantido ao capital investido;, explicou.
Mesma língua
O anúncio da compra de 23,38% da Oi pela Portugal Telecom, feito anteontem, fez mudar um discurso recentemente difundido dentro da empresa. Enquanto, em 2008, a ideia que acompanhou as negociações de compra da Brasil Telecom pela Oi girou em torno da criação de uma supertele brasileira, a tese agora é outra: o negócio vai fortalecer o grupo tupiniquim que, apesar de deixar de ser 100% nacional, continuará falando o mesmo idioma.
Segundo os analistas, a transação cruzada entre as companhias deve favorecer todas as partes. Isso porque, ao vender a participação que possuía na Vivo para a Telefônica(1), o grupo português conseguiu permanecer num mercado em crescimento, tido como estratégico para a companhia. Já a Oi terá um aporte financeiro. ;A expectativa da entrada de um sócio privado é positiva, pois vai permitir consolidar a participação no país e reduzir a dívida num curto prazo;, calculou a analista de telecomunicações da SLW Corretora, Rosângela Ribeiro.
O rombo atual da Oi é estimado em R$ 20 bilhões.
Representante da consultoria Frost & Sullivan, Cristiano Zaroni vê a chegada de um novo acionista na operadora brasileira como algo salutar. ;A Portugal Telecom tem uma expertise (conhecimento) nas áreas de telefonia móvel e de TV, o que pode garantir um novo avanço para a Oi. Além disso, como a empresa vai ter participação no grupo português, vai poder começar a pensar na sua estratégia de expansão internacional;, apontou. Mas ele lembra que a companhia ainda é muito dependente do dinheiro do governo, o que certamente exigirá novas injeções de recursos públicos na empresa para ela obtenha maior robustez. Atualmente, o Banco Nacional de Desenvolvimento e fundos de pensões (Previ, Petros e Funcef) tem 49,9% de participação na empresa.
1 - Empréstimo de 8 bilhões de euros
Controladora da Vivo, a Telefônica informou que fechou, com um conjunto de bancos, a contratação de um empréstimo de 8 bilhões de euros para refinanciar sua dívida e fazer frente à aquisição da participação da Portugal Telecom na holding com quem dividia o comando da operadora brasileira. Ao fim da operação, o grupo espanhol passará a comandar, sozinho, a empresa de telefonia móvel no país.
ECONOMIA DE US$ 5 BI NA VIVO
A Telefônica calcula que a integração das operações Vivo e da Telefônica no Brasil pode trazer ganhos de sinergia que variam entre US$ 4,2 bilhões a US$ 5 bilhões. Os dados, apresentados à Comissão Nacional da Bolsa de Valores (CNMV) ; órgão espanhol equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira ;, incluem os avanços operacionais gerados pela união dos negócios, os lucros da integração no modelo de gestão da Telefônica, assim como os benefícios da união fiscal e financeira. A operadora espera fechar a primeira fase da compra da empresa brasileira no fim de setembro, após a aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Com a integração das operações, o grupo espanhol será o primeiro no país em número de assinantes, com 69,2 milhões de clientes.