O mercado de trabalho aquecido e a mão de obra escassa no Brasil está afetando a fabricação do popular pãozinho francês. Cerca de 20 mil vagas para padeiro estão abertas em todo o país e os comerciantes não conseguem fechar esse buraco.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), a falta de profissionais se tornou uma amarra para os empresários do ramo e, em algumas regiões, demora-se de três a quatro meses para se encontrar um padeiro. A profissão, que já foi considerada um subemprego e tem como salário base 2,5 salários mínimos, galgou degraus no ranking dos rendimentos e hoje oferece ganhos que podem chegar a R$ 3 mil.
De acordo com dados da Abip, nos últimos quatro anos foram contratados cerca de 100 mil profissionais panificadores. Entre eles padeiros, auxiliares de cozinha e confeiteiros. As regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste são as que mais demandam essa mão de obra. "Apenas a grande São Paulo absorveria 10 mil desses trabalhadores", estimou o presidente da associação que representa o setor, Alexandre Pereira Silva.
Na avaliação de Pereira, o mercado está extremamente aquecido e o ramo de padarias muito concorrido. "Não há mais espaço para improviso", alertou Pereira. Com a dificuldade em encontrar trabalhadores bem preparados, os salários desses profissionais têm disparado ; ultrapassaram o salário base de até 2,5 salários mínimos para cerca de R$ 3 mil.
Em alguns mercados, esse valor pode ser ainda maior. "Em Belo Horizonte (MG) tem padeiro sendo disputado com ofertas acima de R$ 4 mil", afirmou Pereira. "Em Brasília, eu tenho relatos de padarias que tiveram de adiar a inauguração em quatro meses porque não encontravam um bom padeiro. Isso é um problema nacional", acrescentou.
A despeito dessa guerra por padeiros e dos salários em escalada, os preços dos produtos ainda não foram afetados e, em alguns casos, ficaram mais baratos. Com o surgimento na nova classe média, o mercado consumidor de pães no Brasil, que já era forte, ficou ainda maior.
Enquanto alguns custos aumentaram para os empresários, eles tiveram ganho de escala com vendas cada vez maiores. E os avanços salariais dos profissionais de panificação foram absorvidos por esse faturamento crescente. Nos últimos 12 meses, a inflação oficial bateu a casa dos 3%, já o custo dos panificados, subiu apenas 1,2%.