Embora a condução da política econômica pelo governo durante a crise seja motivo de elogio de brasilianistas ouvidos pelo Correio, a receita usada até agora não poderá ser repetida no ano que vem. Segundo os economistas Thomas Trebat e Werner Baer, seja qual for o candidato eleito para ocupar a Presidência da República, ele terá muito trabalho em 2011. A economia mundial ainda apresenta incertezas que podem influenciar o desempenho do Brasil e as medidas utilizadas no período mais crítico da situação internacional ; como a redução de impostos e o aumento nos gastos públicos ; não podem ser usadas em caráter permanente. A saída, dizem eles, é o aumento dos investimentos, com maior participação privada.
;A economia brasileira tem muitos pontos positivos. Está crescendo de novo. O país conquistou realmente a estabilidade monetária, mas um problema que não é novo no Brasil é a baixa taxa de investimento como percentual do PIB (Produto Interno Bruto). Está entre 16% e 18%. É uma taxa muito baixa. Em países da Ásia, está entre 35% e 40%. É muito importante o Brasil aumentá-la para dar continuidade ao crescimento;, defende o economista da Universidade de Illinois, Werner Baer, que recebeu no último sábado, em Brasília, uma homenagem da Brazilian Studies Association (Brasa) por sua contribuição aos estudos sobre a economia brasileira.
Baer, que é autor do livro A economia brasileira, lançado em 2009 em inglês e português, afirma que o próximo governo terá de fazer muitos investimentos em infraestrutura. ;Qualquer um deles, José Serra ou Dilma Rousseff, terá de desenvolver um programa de investimentos em infraestrutura, atendendo a necessidades como o fornecimento de energia, a melhoria do transporte, além das Olimpíadas e da Copa, que tornam necessárias a construção de vários aeroportos, estradas, hotéis e o trem-bala entre Rio e São Paulo;, enumera. O economista norte-americano, porém, é otimista. ;É um grande desafio. Mas, como o Brasil foi capaz de construir Brasília na década de 1950, acho que vai conseguir vencer esse também. Só que o próximo governo terá uma carga de trabalho muito grande;, avisa.
Limites
Diretor executivo do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Columbia, Thomas Trebat também vê um cenário positivo para o país, mas diz que 2011 exigirá novas medidas econômicas. ;As perspectivas da economia brasileira continuam sendo invejáveis do ponto de vista da maior parte do mundo, inclusive dos Estados Unidos. Mas a recuperação brasileira não é completamente independente do que acontece no resto do mundo;, afirma. O deficit de US$ 5,2 bilhões em transações correntes no mês passado, divulgado ontem pelo Banco Central, é um reflexo de que a situação internacional ainda pode interferir.
A entrada de investimentos despencou, ao mesmo tempo em que as multinacionais enviaram um valor recorde de lucros e dividendos para o exterior.
;Vimos no Brasil um crescimento fabuloso no primeiro trimestre, ao redor de 10% na base anualizada. Acredito que o segundo e o terceiro trimestres não levam consigo uma expansão tão acelerada. Ou seja, a capacidade do governo de estimular a economia independentemente do que esteja acontecendo fora do Brasil é limitada;, analisa Trebat. Segundo ele, a necessidade de elevação dos juros por causa da inflação e o crescimento da dívida bruta, com o aumento dos gastos correntes, são fatores que preocupam.
Trebat, que também participou da conferência da Brasa, em Brasília, manda um recado para o próximo dirigente do país, se ele quiser ver o Brasil como a quinta potência mundial daqui a cinco anos. ;Todas as medidas de estímulo adotadas a partir da falência do Lemon Brothers em 2008 já estão chegando ao limite. O Brasil agora precisa crescer mais à base da demanda privada;, ensina.
Reformas profundas
O próximo governo, dizem os brasilianistas, terá de encarar reformas profundas. ;É isto que me preocupa na suposta unidade dos candidatos à Presidência da República: ninguém está falando com a devida seriedade o que o povo do Brasil precisa ouvir, que é a necessidade de profundas reformas para o país avançar no seu desenvolvimento;, afirma Thomas Trebat, da Universidade de Columbia. ;É preciso parar de falar que toda reforma é neoliberal, é antipovo, e que toda distribuição de renda é esquerdista e precisa ser evitada.;
Segundo Trebat, entre todas as reformas, a tributária é a mais importante: ;O Brasil tem um setor produtivo incrivelmente inovador, talentoso e empreendedor, que está de mãos atadas devido à carga de tributos elevadíssima e a juros impossíveis;.
Para Werner Baer, Universidade de Illinois, a política monetária é bem-sucedida, mas o país precisa de outras prioridades: ;O regime de metas de inflação é um grande sucesso. O problema é que qualquer país tem outros objetivos: de crescimento, de estrutura de desenvolvimento. Será que a meta de inflação deve prevalecer?;, indaga.
Confira trecho de entrevista com o brasilianista Thomas Trebat, da Universidade da Columbia, sobre como o Brasil é visto hoje no mundo