A sombra de um segundo semestre mais fraco do que o primeiro, somada ao aperto monetário iniciado em abril, derrubou o otimismo do setor produtivo. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu para 63,4 pontos em julho ; o menor patamar desde outubro de 2009. Nos segmentos de couro, madeira e metalurgia básica a situação já é quase de pessimismo, todos eles ficaram abaixo dos 60 pontos e, se a tendência de queda se acentuar nos próximos meses, investimentos podem ser comprometidos.
Para o segundo semestre do ano, mesmo o período sendo o mais dinâmico para a economia, as projeções são de demanda mais moderada e de desaceleração econômica. O brasileiro está com a capacidade de endividamento reduzida em função das compras que fez quando o governo criou uma série de incentivos para o consumo. O Banco Central também está colocando freio na gastança dos consumidores com a alta da Selic e o setor produtivo, para não ofertar mais produtos do que a população pode comprar, começa a dar sinais de que também vai diminuir o ritmo.
;O primeiro impacto de juros altos vem no investimento e não no consumo. Atinge a expectativa;, argumentou Renato Fonseca, gerente de pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). ;Se o empresário percebe que o aumento de juros vai diminuir o consumo e encarecer o capital de giro e os financiamentos, ele vai reduzir os investimentos;, explicou. No caso da metalurgia básica, a parada nos investimentos parece estar próxima. A confiança do segmento caiu 7,4 pontos apenas entre junho e julho de 2010 e a perspectiva é de mais queda nas próximas pesquisas.
Acomodação
Na avaliação de Fonseca, o encolhimento contínuo da confiança do empresário é apenas uma acomodação. ;Depois da forte recuperação que tivemos após a crise, estamos passando por um ajuste. De toda forma, ainda estamos acima da média histórica de 62 pontos;, justificou. Ainda assim, ele admitiu que o aperto monetário capitaneado pelo Banco Central é decisivo para elevar ou reduzir a confiança do empresário.
Para Marlos Lima, consultor independente em estratégia e prospectiva em negócios, esse otimismo pode ser positivo. ;Os empresários ficaram mais realistas;, disse Lima. ;Mostra que eles estão enxergando um ritmo de crescimento da demanda mais suave, o que, se for confirmado, dá mais folga para a realização de investimentos;, concluiu. Na avaliação dele, a confiança ainda está em patamares elevados, semelhantes aos do período pré-crise e, mesmo com os juros em alta, ainda vale a pena apostar em um negócio, mesmo contra os rendimentos de títulos públicos que pagam a Selic.
De acordo com a CNI, o cenário ainda é positivo para a indústria, mas o otimismo deve cair pelo menos até os 62 pontos. Se o indicador estacionar nesse número, os técnicos da Confederação garantem que não há motivo para preocupação mas, se a queda for mais acentuada, deixando a confiança abaixo dos 60 pontos, pode ser um sinal de que o arrocho monetário foi intenso demais ou de que há algum problema sério na economia.
Sem atrasar as contas
As micro e pequenas empresas brasileiras estão mais pontuais com seus compromissos financeiros e começam a abandonar o rótulo de más pagadoras. De todas as dívidas vencidas em junho, 95,4% foram pagas no prazo ou com até sete dias de atraso. Um desempenho nunca registrado pela Serasa Experian, consultoria de risco que faz essa pesquisa de pontualidade desde 2006. Somado aos dados de inadimplência em patamares baixos, o indicador deixa as instituições financeiras mais confortáveis quando o assunto é emprestar aos nanicos do setor produtivo.
Os empresários do comércio foram os que mais evitaram as contas em atraso e obtiveram índice de pontualidade igual à média nacional: de cada mil pagamentos, 954 estavam em dia. Segundo os técnicos da Serasa, os setores industrial e de serviços ficaram praticamente empatados com o varejo, com pontualidade apenas 0,1 ponto percentual menor. ;É um recorde absoluto. A diferença entre os setores foi mínima e isso reflete um crescimento econômico disseminado no país. Todos estão sendo beneficiados;, avaliou Luiz Rabi, gerente de indicadores econômicos da Serasa Experian.
De acordo com a pesquisa de pontualidade, o desempenho de junho foi atribuído a uma melhora no fluxo de caixa das empresas. Com o forte consumo dos brasileiros no início do ano, o varejo vendeu mais e a indústria ampliou o ritmo nas fábricas ; todos os setores movimentaram mais dinheiro e passaram a trabalhar com estoques maiores. ;Consequentemente passaram a ter uma gestão orçamentária mais eficiente e equilibrada;, observou Rabi.
A despeito da desaceleração econômica prevista por especialistas para os próximos meses, a expectativa da Serasa para este segundo semestre do ano é de que mais recordes de pontualidade sejam superados. ;Os últimos meses do ano sempre são mais fortes. Temos o Natal, que aumenta a produção e as vendas, e o pagamento do 13; salário, que vai injetar uma quantidade expressiva de recursos na economia;, ponderou Rabi. (VM)
PROCURAM-SE PADEIROS
O mercado de trabalho aquecido e a mão de obra escassa no Brasil estão afetando a fabricação do popular pãozinho francês. Cerca de 20 mil vagas para padeiro estão abertas em todo o país e os comerciantes não conseguem preencher esses postos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), a falta de profissionais se tornou uma amarra para os empresários do ramo e, em algumas regiões, demora-se de três a quatro meses para se encontrar um padeiro. O profissional está tão disputado que os rendimentos desse trabalhador podem chegar a R$ 3 mil por mês.