O mercado vai olhar com lupa a ata da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que será realizada na terça-feira e na quarta, para só então reestimar o tamanho do ciclo de aperto monetário. Na reunião desta semana, as apostas convergem para um aumento de 0,75 ponto na taxa básica de juros (Selic), o que a elevará dos atuais 10,25% ao ano para 11%. Esse será o terceiro aumento consecutivo desde que o BC deu início à escalada para conter a inflação, estimulada pelo superaquecimento da economia no primeiro semestre.
;O cenário com que trabalhamos não mudou até o momento. Ele já continha uma certa desaceleração da inflação, por conta dos alimentos, e também o arrefecimento do crescimento;, observou o ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola. O economista está convencido de que os dados divulgados não dão liberdade para o BC mudar a rota traçada de apertar os juros até ter certeza de que a inflação está convergindo para o centro da meta estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5%.
A maioria dos analistas está na expectativa de novos dados. ;Apenas alguns exagerados, que extrapolaram o cenário do primeiro trimestre para o ano e erraram, já refizeram suas projeções;, avaliou. O ex-presidente do BC aposta em um crescimento econômico de 6,6% neste ano, em mais duas altas de 0,75 ponto percentual na Selic e em uma última puxada de 0,50 ponto, o que levaria a taxa a 12,25%. Para Loyola, o BC só mudará a trajetória traçada, para cima ou para baixo, se os novos dados da inflação vierem bem mais fracos ou fortes que o esperado.
Crescimento
Mesma avaliação tem o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto. Ele acredita que o ciclo de aumento da Selic se encerrará quando atingir 3 pontos percentuais, o que deixaria a taxa em 11,75% no fim do ano. ;O crescimento da economia, que vinha intenso, está migrando para um ritmo mais sustentável;, observou. Mesmo com a previsão um pouco abaixo dos demais, Campos Neto não refez suas estimativas.
Felipe França, economista do ABC Brasil, também acredita que ainda é cedo para o BC mudar de posição. ;Os dados que vêm saindo mostram uma desaceleração da atividade. Até a inflação veio melhor do que o esperado, mas o problema é saber se essa melhora é uma tendência ou apenas um suspiro;, ponderou. Segundo ele, ainda existe muita incerteza no cenário, principalmente no que diz respeito à crise europeia. Por isso, o ABC também trabalha com mais duas altas de 0,75 e uma de 0,50.
A convergência que os analistas demonstram para a reunião do Copom neste mês desaparece quando a estimativa tende para o longo prazo. Eles estão convencidos de que o aumento da taxa se manterá por mais algumas reuniões, mas não existe consenso sobre quando o aperto será abrandado nem se o último ajuste será feito pelo BC no terceiro ou no quarto trimestre.