O excesso de concentração de investimentos dos fundos de pensão de estatais em obras públicas está preocupando os especialistas. Para eles, a determinação do governo de que as fundações ; principalmente a Previ, a Funcef e a Petros, dos empregados do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, respectivamente ; entrem em projetos como a Usina de Belo Monte e o trem-bala pode se transformar em prejuízo mais adiante, caso eles não tragam o retorno esperado. Os dois empreendimentos são os maiores do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), elaborado pela candidata petista Dilma Rousseff.
Somente essas duas obras vão custar, juntas, aproximadamente R$ 53 bilhões. Desse total, os fundos devem garantir pelo menos 20%. Os especialistas lembram que, no passado recente, as mesmas fundações entraram em projetos tutelados pelo Palácio do Planalto e o resultado foram os rombos gigantescos que tiveram de ser cobertos pela população, por meio de impostos. Só um dos últimos socorros à Petros custou quase R$ 9 bilhões aos cofres da União.
O mundo político está sempre de olho nos fundos públicos e privados, que têm patrimônio total de R$ 500 bilhões. Só a Previ, que é a maior dessas entidades, dispõe de R$ 140 bilhões ; a Petros tem R$ 46 bilhões e a Funcef, R$ 38 bilhões. Pelo tamanho do mercado, os investimentos em infraestrutura dependem de uma avaliação séria, no entender de Renato Esch, diretor executivo da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). ;Somos gestores de recursos de terceiros. Qualquer decisão tem de enxergar boa rentabilidade e o retorno do dinheiro aplicado;, disse.
Saúde
Do total dos R$ 500 bilhões, cerca de 10% (R$ 50 bilhões) podem ser utilizados nos investimentos estruturados, como, por exemplo, obras para receber a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, explicou Jarbas Antonio de Biagi, presidente do Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Sindapp). ;Os fundos estão saudáveis, mesmo perdendo em torno de 16% a 17% durante a crise, dependendo da exposição ao risco. Isso porque 70% dos nossos recursos estão ancorados em títulos públicos;, garantiu.
Para evitar problemas de gestão, o setor vem investindo pesadamente em qualificação de pessoal, assinalou Biagi. ;Riscos existem. Mas a intenção é sempre buscar rentabilidade, segurança e liquidez. Todos os passos são avaliados, tendo em vista que as pessoas têm compromissos com a folha de pagamento dos associados dos fundos. A maioria dos problemas não se deu por conta da grandeza dos investimentos, mas sim porque algumas patrocinadoras não honraram seus compromissos;, replicou.
Ao anunciarem a participação em Belo Monte, por exemplo, tanto Funcef quanto Petros garantiram que farão ótimo negócio. A grande indagação entre os profissionais que acompanham as negociações é por que os fundos de pensão de empresas privadas não entram em tais empreendimentos.
Os mais importantes executivos das principais entidades, no entanto, dão explicações evasivas sobre a quase nula participação da iniciativa privada nos projetos arriscados do governo. Segundo Biagi, ;eles (os fundos privados) ainda estão apreciando a possibilidade;. Esch desconversou: ;É questão de oportunidade e critérios de investimento;.
Olhando para o médio prazo, Esch estimou que a saída parece óbvia: com a perspectiva de queda da taxa de juros, a alternativa para diversificar as aplicações e obter melhor retorno será apostar nas obras de infraestrutura. Ele crê que, lá para 2013 ou 2014, com o fim das apreensões globais, o aumento do crescimento sustentado e o retorno da inflação para o centro da meta de 4,5%, os juros vão cair. ;Em uma conjuntura favorável, os títulos públicos terão baixa rentabilidade. Seremos criativos, mas com base em estudos de viabilidade. Repito, tudo será minuciosamente avaliado;, disse.