O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, assumiram ontem compromisso político com a consolidação do acordo entre Mercosul e União Europeia até o fim do ano. Os dois mandatários demonstraram determinação em convencer o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a tentar equalizar em seu país as questões relacionadas à oposição dos agricultores à proposta de redução dos subsídios a esse setor ; principal entrave às negociações entre os dois blocos econômicos.
;Queremos avançar para criar um acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. Isso será uma prioridade durante a minha Presidência (do Mercosul);, afirmou Lula, após reunir-se com Durão Barroso e o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, durante a IV Cúpula Brasil-União Europeia, no Palácio do Itamaraty. ;Vamos batalhar em conjunto por esse acordo;, afirmou o presidente da Comissão Europeia. Em entrevista concedida pelos três à imprensa, Lula disse que tentará convencer Sarkozy a flexibilizar ;o coração dos franceses; para que seja fechado um acordo até o fim do mandato do presidente brasileiro.
Durão Barroso afirmou que o acerto trará grande benefício para ambas as partes. ;Somos 27 países e temos que recolher o apoio em muitas frentes. Por isso, esperamos que o Mercosul avance com uma oferta que também corresponda às nossas ambições;, provocou Barroso. A União Europeia deseja a liberalização de setores industrias dos países do Mercosul, assim como o de serviços e de compras governamentais.
O Brasil já sinalizou que está disposto a fazer concessões nessas áreas, mas para isso é necessário que os europeus concordem com a redução nos subsídios à agricultura. No entanto, o presidente francês, cuja popularidade está abalada por escândalos recentes, enfrentou protestos do setor agrícola devido à retomada das negociações da UE com o Mercosul. Lula, por sua vez, terá de lidar com resistências da Argentina à liberalização em alguns setores. A sinalização para um acordo Mercosul-UE acontece num momento em que a economia europeia, atolada na recessão, está no centro das atenções.
Cruzar o Atlântico
Durante o encerramento do IV Fórum Empresarial Brasil-União Europeia, o presidente brasileiro convidou os europeus que estejam se sentindo inseguros com as instituições financeiras de seu país a investir seus recursos no Brasil. ;Se tiver dinheiro no banco e não estiver seguro, atravesse o Atlântico e venha para o Brasil;, disse.
Lula deixou o discurso oficial previsto de 29 páginas de lado e recorreu ao improviso para fazer uma retrospectiva dos desafios enfrentados em seu governo na área econômica. ;Eu comecei a minha vida política tendo relações com os europeus, seja brigando com os empresários da região quando era presidente do sindicato em Diadema, seja negociando com os dirigentes sindicais europeus;, afirmou, lembrando -se das resistências que sofreu por parte de empresários e analistas econômicos no início de seu mandato.
O presidente afirmou que tinha ;medo(1); no início do mandato e fez referência à primeira reunião que teve com o então diretor-gerente do FMI Horst Koeller. ;Não me esqueço do Koeller, que foi diretor-gerente do FMI, da primeira conversa que nós tivemos. Passei 20 anos da minha vida carregando a faixa ;Fora FMI; e, sabe, de repente estava sentado na frente do cara do FMI querendo que eu aumentasse superavit primário;, afirmou. Segundo ele, hoje o Brasil é um país sério, que tem ;um sistema financeiro mais sólido até que o europeu;.
De acordo com Lula, foi em uma visita à Espanha, quando o então primeiro-ministro, Felipe González, lhe lembrou que teria apenas quatro anos para lidar com questões como a relação com as Forças Armadas, que se deu conta de que tomou a decisão de ;não ficar brigando com ninguém;. ;Um mandato é tão curto que, se você trabalhar 24 horas como a gente trabalha, não consegue fazer tudo. Imagina se passar um tempo brigando com a oposição, brigando com os empresários;, disse.
1 - Fantasma de Walesa
Lula afirmou que seu principal temor era o de terminar o mandato como Lech Walesa, sindicalista que foi presidente da Polônia e terminou o mandato com ;zero; de popularidade. ;Qual era o meu medo? Era criar na sociedade brasileira a ideia de que trabalhador não deu certo. Nunca mais você vai eleger um trabalhador nesse país;, afirmou.
Portas abertas para mais voos
Em um momento em que as autoridades brasileiras vêm sendo questionadas sobre a capacidade de infraestrutura dos aeroportos brasileiros para a realização de eventos internacionais como a próxima Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016, Brasil e União Europeia fecharam ontem dois acordos na área de aviação. Um deles prevê que as frequências liberadas pelo Brasil a algum país do bloco possam ser utilizadas por qualquer outro país da UE caso não seja ocupada. Isso aumentará a velocidade com que serão disponibilizadas novas rotas e novos horários de voos para o continente europeu.
Um segundo acordo prevê a desburocratização da emissão de certificados de segurança para os aviões exportados pela Embraer para países europeus. Se qualquer país do bloco emitir o certificado, o documento valerá para todos os outros.
Meio ambiente
No acordo estabelecido para os investimentos em Moçambique, os governos do Brasil e da UE se unirão ao setor privado para a produção de bioenergia no país africano. ;Acabo de retornar da minha 8; visita à África. Com os biocombustíveis, vamos reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa sem comprometer a produção de alimentos;, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrando que o comércio entre Brasil e UE já soma US$ 88 bilhões.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, reforçou as afinidades entre a União Europeia e o Brasil na questão ambiental. ;Discutimos hoje respostas conjuntas às alterações climáticas. A União Europeia trabalha ativamente para aprovar um programa ambicioso. Vamos trabalhar em conjunto com o Brasil por esse acordo;, afirmou. (MM)