Embora não seja foro das decisões relacionadas ao Mercosul, europeus e brasileiros estão dispostos a fazer da IV Cúpula Brasil-União Europeia um espaço para deixar claras as intenções de ambos os lados de que ocorram avanços concretos, ainda neste ano, na direção de um acordo de livre-comércio entre os dois blocos. Na reunião de hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, e o líder da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, reforçarão o compromisso político para que o acerto seja fechado até o fim do mandato de Lula.
O Brasil assumirá neste mês a Presidência do Mercosul e, no encontro de hoje, Lula vai sinalizar para os colegas europeus a disposição de interceder junto aos demais mandatários de países do Mercosul em favor da abertura de mercados importantes como o de compras governamentais, o de serviços e o automotivo. ;A negociação de um acordo entre Brasil e União Europeia tem foro próprio, mas o Brasil, durante a sua presidência pro-tempore do Mercosul, está disposto a avançar num acordo;, afirmou a diretora do Departamento de Europa do Itamaraty, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis.
Paradoxalmente, a crise financeira internacional pode ser um fator viabilizador do processo de negociação, recém-retomado após ter ficado paralisado por mais de seis anos. Segundo análise do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Itamaraty, realizada a partir de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de 66% das exportações de países da UE têm como destino nações do próprio bloco. Com a saturação do mercados tradicionais, mais atingidos pela crise, a diversificação surge como alternativa aos exportadores.
Subsídios
A UE, por sua vez, está determinada a vencer a posição de países como a França em relação à questão dos subsídios na agricultura. ;Houve uma certa resistência, mas a retomada das negociações com o Mercosul é uma iniciativa da Comissão Europeia. Temos um mandato para isso e vamos levar adiante;, disse o chefe da Delegação da Comissão Europeia no Brasil, João José Soares Pacheco.
Segundo o Eurostat, escritório oficial de dados estatísticos da UE, o Brasil é o maior parceiro comercial latino-americano do bloco. As exportações europeias para o país somaram cerca de 21,5 bilhões de euros em 2009, enquanto as importações brasileiras para os países do bloco alcançaram cerca de 25,6 bilhões de euros, resultando em uma balança comercial superavitária em 4 bilhões de euros para o Brasil.