Com o mundo crescendo num ritmo menor do que o esperado neste ano, as cotações das commodities (itens básicos produzidos em larga escala e com cotação internacional) entraram em parafuso. Ao longo do primeiro semestre de 2010, o valor das principais matérias-primas oscilou tanto que prever o comportamento do mercado pelos próximos seis meses transformou-se em desafio para os analistas e em dor de cabeça para os países que, assim como o Brasil, dependem das exportações dessas mercadorias.
Comparado a 2009, quase tudo está mais barato. Entre os grãos, soja e milho até ensaiaram pequenas valorizações, mas acabaram fixando preços em patamares inferiores aos registrados no ano passado. O mesmo ocorreu com o petróleo, que, apesar de ter se beneficiado de pequenos lampejos, já perdeu 10% no ano. O minério de ferro e o ouro destoaram, operando quase sempre em alta e subindo degraus que os colocarão em evidência neste e no próximo período. A dupla, no entanto, não está imune ao mau humor da economia global.
Os olhos dos investidores estão voltados para Europa, China e Estados Unidos. ;Está todo mundo ressabiado. O mercado está muito machucado;, resume o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos. Segundo ele, os sinais ainda incertos de recuperação e de quebra de países com presença significativa no comércio exterior têm servido de combustível para o vaivém das cotações. Esse cenário tende a se manter por pelo menos até agosto. O CRB, índice de referência global para as commodities, está 50% abaixo do que alcançou há 12 meses.
Rombos fiscais gigantescos nos países europeus lançam nuvens de incerteza sobre quem exporta para o Velho Continente. É o caso do Brasil. A balança comercial, no primeiro semestre, registrou aumento das vendas de produtos primários para os europeus, mas em escala mais tímida do que a esperada. Ainda assim, André Perfeito não crê que a Europa tem potencial para lançar o mundo em um buraco tão profundo quanto o provocado pela crise internacional. ;O evento europeu já está no preço. Se tivermos uma crise no segundo semestre, ela nem de longe será como a de 2008;, justifica.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê que, mais cedo ou mais tarde, os mercados vão se estabilizar. A entidade acredita em pequenas valorizações no preço do minério, mas chama a atenção para os efeitos nocivos que as turbulências na Europa podem causar sobre a China e os Estados Unidos. Dois importantes destinos de produtos primários, ambos correm riscos de ser atingidos pela freada europeia. Na média, segundo a AEB, os preços médios das commodities exportáveis vão ficar entre 5% e 10% menores do que durante os primeiros seis meses de 2010.
Paradão
Nem todas as encomendas de produtos agrícolas foram entregues pelos grandes celeiros exportadores, como Brasil e Argentina. Ainda há muita mercadoria nos portos ; especialmente soja. A carga represada, porém, não fará com que o saldo sonhado pelos vendedores seja muito melhor em dezembro do que foi até agora. Esse recado vem sendo dado pelas principais bolsas de valores, que amargam quedas expressivas e têm se esforçado para evitar que os fluxos de capitais retroalimentem a ciranda financeira que tanto castigou o mundo no auge da crise causada pelo estouro da bolha imobiliária americana.
Gustavo Prado, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explica que há uma espécie de ;paradão; das cotações de culturas como soja, algodão e milho. O grande vilão, segundo ele, é o câmbio, que não traz, para o bolso do produtor, renda e competitividade. A alta dos juros determinada pelo Banco Central (BC) e as safras recordes estimadas para o Brasil e previstas também entre os tubarões mais vorazes do comércio internacional minam ainda mais as chances dos exportadores brasileiros de grãos de comemorarem lucros mais vantajosos.
O número
10%
Queda no preço do petróleo acumulada neste ano
Lula quer ver Petrobras em Cabo Verde
A Petrobras poderá levar a tecnologia de exploração em águas profundas a Cabo Verde, no que depender das intenções do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em visita ao país, ele informou que pedirá à direção da petrolífera, assim que voltar ao Brasil de sua viagem por seis países africanos, que inicie conversações com o governo cabo-verdiano, para viabilizar a prospecção de possíveis reservas de óleo e gás natural.
De acordo com o presidente, o país, composto por um arquipélago com 10 ilhas principais e outras menores, demonstrou interesse em realizar estudos em suas águas. ;Eu assumi compromisso de, regressando ao Brasil, conversar com a direção da Petrobras para que venha gente aqui fazer uma primeira conversa com autoridades de Cabo Verde para ver as possibilidades;, disse Lula durante pronunciamento.
A empresa brasileira deverá atuar no arquipélago por meio da transferência de tecnologia de exploração em águas profundas. ;Nós não vamos abdicar da política de solidariedade. Vamos partilhar o conhecimento que nós temos com os outros países;, completou Lula.
O primeiro-ministro do Cabo Verde, José Maria Neves, destacou que ter domínio sobre as riquezas marítimas da região é uma questão estratégica. ;Nós queremos cooperar com o Brasil para realizar os estudos técnicos necessários para saber se há recursos petrolíferos ou gás aqui em Cabo Verde. Essa é uma área fundamental de cooperação;, pontuou.
Segundo declarações do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, na semana passada, a exploração em águas profundas e no pré-sal alimenta as perspectivas de negócios e investimentos da companhia. A empresa espera, até 2020, dobrar a capacidade de extração e refino no Brasil, que hoje é de cerca de 2 milhões de barris por dia, e vai investir, segundo o cronograma atual, US$ 224 bilhões até 2014.
Agricultura
Durante a visita a Cabo Verde, Lula destacou ainda que o Brasil deve continuar estimulando o desenvolvimento da agricultura nos países africanos. Ao participar de uma reunião da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), com a presença de 15 nações africanas, o presidente afirmou que a prioridade da cooperação brasileira com o continente está na produção de biocombustíveis, mas também incentivará o plantio de alimentos. ;Em muitos países do continente, podemos reproduzir a revolução da agricultura brasileira;, afirmou ao comparar a savana africana com o cerrado brasileiro, onde se desenvolveram a agricultura e a pecuária.
O presidente Lula citou a agricultura familiar como exemplo de modelo eficiente no plantio de alimentos, mas destacou a possibilidade de combinar o modelo com a agricultura empresarial. ;A produção do pequeno agricultor corresponde a 10% do nosso PIB [Produto Interno Bruto], gera milhões de empregos e fornece 70% dos alimentos consumidos no Brasil;, afirmou.
BP À PROCURA DE SÓCIOS
; A petrolífera britânica BP procura parcerias com ;investidores estratégicos; para garantir sua independência, evitando que alguma concorrente se aproveite do momento turbulento por que passa para se apoderar da maioria acionária da empresa. Desde o fim de abril, ela tenta, sem sucesso, controlar um vazamento de óleo em uma plataforma de exploração localizada no Golfo do México, nos Estados Unidos. A BP busca interessados em adquirir entre 5% e 10% de seu capital por até 6 bilhões de libras, o equivalente a US$ 9,1 bilhões. A oportunidade está sendo oferecida a fundos soberanos de outros países e a firmas do ramo do petróleo. A intenção é concluir logo eventuais negociações para impedir uma deterioração maior do patrimônio, que já perdeu metade de seu valor de mercado desde o acidente. Algumas propostas já foram apresentadas à direção da BP em Londres e incluem a compra de ativos no mundo.