Acostumada a crescer pouco ao longo das últimas décadas, a economia brasileira vai experimentar neste ano a expansão mais vigorosa já registrada oficialmente desde 1986. Os resultados recordes do primeiro trimestre do ano obrigaram o Banco Central (BC) a revisar para cima sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem aponta para um salto de 7,3%, índice bem superior aos 5,8% estimados em março pela autoridade monetária. O cenário projetado para o segundo semestre, no entanto, indica que o país crescerá à sombra da inflação.
Todos os setores, conforme as análises do BC, vão chegar em dezembro ostentando marcas expressivas na comparação com 2009. Entre os principais motores produtivos, o que alcançará os melhores resultados será a indústria, justamente o segmento mais abalado pela crise internacional. O banco refez as contas e agora aposta em um salto de 11,6% das fábricas, contra 8,3% calculados no relatório anterior. Do lado da demanda, o que mais vai puxar a locomotiva é o consumo das famílias.
Suporte
Se o país tivesse parado no fim de março, o boom acumulado por si só seria suficiente para garantir um crescimento de 6% no PIB. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, disse que a revisão foi a mais agressiva feita entre um trimestre e outro. ;A revisão veio com base nos resultados que foram apresentados. Indica que a economia está vivendo um momento bastante positivo;, justificou. Segundo ele, o crédito e o avanço do mercado de trabalho darão suporte ao fortalecimento da economia nos próximos meses.
Apesar de todas as indicações otimistas, os baixos níveis de poupança e de investimento preocupam. Evaldo Alves, professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou que os dados apresentados devem ser recebidos com alguma cautela. ;O deficit público e a infraestrutura ruim são amarras ao crescimento. Sem poupança e com baixo investimento, isso não se sustenta;, disse. Projeções apontam que o deficit externo saltará de US$ 28 bilhões em 2009 para US$ 100 bilhões em 2011. Boa parte desse movimento de capital é classificada como especulativa, o que agrava ainda mais a dependência dos recursos estrangeiros.