O mercado brasileiro de pagamentos com cartões passa por uma mudança drástica nesta quinta-feira (1; de julho). Acabou a exclusividade entre empresas credenciadoras e bandeiras. Consumidores e lojistas devem se beneficiar. Os comerciantes, com taxas menores nas operações. Os clientes, com descontos em produtos, já que o custo dos lojistas vai diminuir. Roberto Medeiros, presidente da Redecard, garante que até mesmo as empresas que gerem as maquininhas, como a que ele preside, vão se beneficiar desse novo mercado. ;O setor de cartões no Brasil deve atingir a maturidade em cinco ou dez anos;, afirma Medeiros. Confira a íntegra da entrevista com um dos principais executivos de meios de pagamento do Brasil.
O que muda efetivamente no mercado a partir de 1; de julho?
Roberto Medeiros ; Vai ser uma mudança drástica. Antes, os lojistas , que desejassem ter Visa ou Mastercard, tinham de ter pelo menos duas máquinas. A partir de agora, eles podem ter uma única. A nossa maquininha, hoje, já aceita 17 tipos de cartões. O Visa será o 18;. Muito provavelmente se o lojista quiser receber muitos cartões em uma única maquininha, fará a opção por uma única credenciadora. O lojista está desobrigado a ter mais de uma rede. Para o portador de cartão, não muda nada.
Fala-se muito de benefícios para os lojistas e até para o consumidor, mas para as empresas que operam no mercado, essas mudanças podem deixar o setor mais interessante?
Roberto Medeiros - O que vai acontecer é basicamente, e ai vai uma visão pessoal, o mercado ficará mais dinâmico. Terá mais concorrentes e mais estabelecimentos aceitando crédito e débito. É positivo para todo mundo.
Mas pode haver perda de mercado ou um crescimento menor em função das novas regras?
Roberto Medeiros - Não se espera perder mercado. Ao contrário. O Brasil é um mercado sofisticado. As pessoas se adaptam rapidamente às novas tecnologias. É só ver o nível de penetração de celular, o aumento da bancarização. De jeito nenhum essa indústria tem volta, ela só cresce. O Brasil certamente atingirá sua maturidade entre cinco e dez anos comparado a outros países.
Vai se assemelhar ao modelo de algum país?
Roberto Medeiros ; Vai ficar mais parecido com o americano. Mas é preciso alterar muitas outras coisas. Ainda há resistência de alguns segmentos de baixa penetração, como em saúde. Se â pessoa não tiver plano de saúde paga a consulta com cheque porque não tem disponibilidade de aceitar cartão. A maior parte da população faz isso. É cultural. O nível de tecnologia não permite mais a utilização de cheque. Cursos de informática, escolas privadas, não tem porque as pessoas ficarem pagando com boleto e cheque, esse tipo de dinâmica e essas modificações acabam provocando a sociedade e aumentando o uso dos cartões. Quanto mais volume de transações tivermos, mais caem os preços e taxas para o comerciante.
É possível imaginar quanto pode baixar a taxa paga às credenciadoras pelos comerciantes? Os dirigentes lojistas estão falando em 30%.
Roberto Medeiros ; No caso da Redecard, historicamente, as nossas taxas caem em função do volumes de transações. Hoje, nossa taxa está em 3%. Ela vem caindo na medida que nossas operações vem crescendo. Isso é parte dos nossos contratos com os comerciantes.
Com o fim da exclusividade, já é possível pensar em planos de expansão ou de investimentos? Ou o momento ainda é de cautela e de observar como o setor vai se comportar?
Roberto Medeiros ; Nós realmente não mudamos nossos investimentos em nada. Continuamos investindo. Para se ter ideia, nos primeiros cinco meses, conquistamos 165 mil novos clientes. Continuamos investindo em geografias distintas, aumentamos nossa capilaridade no Centro-Oeste, no Norte e também em novos segmentos. Estamos vendo uma oportunidade de crescimento. A associação (ABECS) fala em crescimento de 20% para o setor neste ano e nós estamos investindo, não colocamos o pé no freio.